Cooperativismo
Cooperativas apostam na humanização dos negócios como diferencial competitivo
Em tempos de automação o fator humano promove as conexões e o senso de pertencimento da marca com os cooperados

As cooperativas têm buscado a humanização nos negócios em todos os seus sentidos, como uma forma de driblar a concorrência, atrair novos cooperados e reter talentos em seus quadros de colaboradores. Em tempos de tecnologia, inteligência artificial e automação, as organizações que criarem estratégias para aumentarem as suas conexões com os clientes e promovendo um senso de pertencimento com a marca, ganham destaque.
A humanização de serviços, processos e atendimentos não são apenas tendências, mas regras que diferenciam as cooperativas e empresas no mercado. Colocar o cooperado e o consumidor como prioridade é o segredo do sucesso dos empreendimentos que desejam sobreviver às transformações sociais.
Além do impacto ético e moral, adotar uma abordagem humanizada fortalece o engajamento, melhora a experiência dos envolvidos e, consequentemente, impulsiona o desempenho geral da organização. Por isso, é preciso construir uma cultura organizacional que realmente valorize todos os setores, não apenas como geradores de lucro e força de trabalho.
No futuro, a humanização corporativa seguirá como um diferencial competitivo, com cada vez mais empresas e cooperativas apostando em modelos de gestão que priorizem o equilíbrio entre produtividade e cuidado humano.
“Para que o processo humanizador se torne realidade, as cooperativas devem valorizar as pessoas envolvidas no negócio, manter uma comunicação transparente, clara e alinhada aos seus valores, criando um ambiente de confiança e bem-estar”, exemplifica Sandra Salomão, psicóloga da UFRJ, professora de psicologia da PUC-RJ e de institutos formadores na França, Itália e Portugal.
A especialista lembra que é essencial adotar uma escuta ativa, estabelecer canais eficazes para ouvir cooperados, clientes e colaboradores, e garantir que suas necessidades sejam consideradas nas decisões estratégicas. O investimento em um relacionamento próximo e genuíno também faz a diferença, promovendo conexões mais fortes e duradouras.
Humanizar a experiência dos profissionais impacta positivamente na produtividade, pois quando os colaboradores se sentem valorizados, engajados e trabalham em um ambiente saudável, há um aumento na motivação, na qualidade do atendimento e na eficiência operacional. Fora isso, a redução do estresse e da sobrecarga contribuem para menores taxas de absenteísmo e turnover, mantendo a consistência dos serviços prestados.
Por fim, o compromisso com o impacto social deve estar no centro das iniciativas da organização, beneficiando não apenas seus cooperados, mas também a comunidade ao redor. É essencial também, manter uma cultura organizacional aberta à evolução e disposta a se adaptar de forma positiva às necessidades das pessoas.
No entanto, o processo não é fácil e envolve alguns desafios como equilibrar a personalização do atendimento com a produtividade, criar a proximidade e a empatia com os cooperados e clientes, sem comprometer a eficiência operacional.
“A humanização exige flexibilidade e sensibilidade para lidar com diferentes perfis de pessoas e situações, o que pode gerar maior carga emocional para os profissionais. Por isso, é fundamental que as cooperativas ofereçam suporte, promovam um ambiente de trabalho saudável e invistam no bem-estar dos colaboradores”, completa Sandra.
Sobrecarga é inimiga da humanização
Para evitar a desumanização de clientes e cooperados, efeito contrário da humanização, as cooperativas devem garantir que a personalização do atendimento não se perca em processos excessivamente automatizados ou padronizados. Além disso, é importante que as organizações não tratem os consumidores apenas como números, mas como indivíduos com necessidades e expectativas específicas.
“Isso exige treinamentos contínuos para os profissionais, assegurando que a humanização esteja presente em todas as interações. É essencial que os cooperados se sintam valorizados e satisfeitos dentro de uma cultura organizacional saudável e humana”, completa Salomão.
Outra situação que é inimiga da humanização é a sobrecarga dos profissionais no atendimento personalizado. Para evitar essa situação, é fundamental que se equilibre a distribuição de demandas, utilizar tecnologia para otimizar processos e oferecer capacitação contínua em inteligência emocional e gestão do tempo.
“Um ambiente de trabalho saudável, com pausas adequadas e suporte psicológico, contribui para o bem-estar dos colaboradores. Estimular o trabalho em equipe e criar uma cultura que apoie o equilíbrio entre vida pessoal e profissional também são medidas fundamentais para garantir um atendimento humanizado sem comprometer a saúde mental dos profissionais”, aconselha a psicóloga.
Promoção do negócio de forma sustentável
Algumas cooperativas de crédito como o Sicredi têm investido em atendimentos mais humanizados, alinhados às necessidades dos seus associados. Eles consideram esse tipo de abordagem parte de sua identidade. Em 2024, a cooperativa foi reconhecida como a melhor empresa para se trabalhar no Brasil.
Alceu Ruppenthal Meinen, Superintendente de Relacionamento e IA do Sicredi, lembra que as cooperativas já têm como modelo de negócios a valorização das pessoas e a promoção do desenvolvimento local de forma sustentável, portanto esse processo é natural. Ele acredita que as cooperativas devem definir a experiência do associado como norteadores e um pilar estratégico de suas ações, garantindo que ele esteja sempre no centro das decisões.
“Uma dica valiosa é ter um olhar focado na evolução da experiência dos associados, entendendo profundamente suas expectativas, interagindo de forma fluida e trazendo soluções inteligentes, que atendam às necessidades para evolução do seu desenvolvimento financeiro”, indica Alceu.
Um dos principais desafios que os colaboradores enfrentam na prática da humanização do atendimento é equilibrar a personalização do relacionamento com o alto volume de demandas operacionais do dia a dia. Para resolver essa questão é importante capacitar as equipes, promovendo treinamentos e ações de sensibilização.
“Desta forma é essencial trabalharmos cada vez mais com inteligência de negócios e automatização de processos, para que coloquemos esforços no que realmente importa, trazendo à luz o nosso principal diferencial, que é o relacionamento”, completa Meinen.
5 dicas de como as cooperativas podem humanizar os seus atendimentos
Personalização do atendimento: conhecer o histórico e as necessidades dos cooperados para oferecer soluções e atendimento customizados.
Cultura organizacional centrada nas pessoas: desenvolver valores que incentivem a empatia e o acolhimento.
Desenvolvimento contínuo: capacitar os colaboradores para um atendimento humanizado e assertivo.
Uso estratégico da tecnologia: utilizar a tecnologia como aliada para agilizar e aperfeiçoar a experiência de atendimento humano.
Fortalecimento das conexões: criar espaços de interação, realizar feiras, eventos e canais de comunicação direta com os cooperados.
