Cooperativismo
Cooperativismo brasileiro lança Manifesto para a COP30
Para a OCB, evento precisa avançar no debate sobre a segurança alimentar, as novas tecnologias e a agricultura de baixo carbono

O cooperativismo brasileiro quer despertar a atenção da sociedade para as oportunidades de avanços com a realização da conferência global sobre mudança do clima (COP30) no fim do ano em cinco eixos: segurança alimentar, tecnologia e agricultura de baixo carbono, valorização das comunidades e financiamentos climáticos, transição energética, bioeconomia como oportunidade de desenvolvimento e mitigação de risco.
Manifesto divulgado pela Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), durante a divulgação da agenda institucional do setor, nesta terça-feira (18/3) em Brasília, chama a atenção para o tema e convoca a sociedade a colaborar com ideias concretas. A intenção é aproveitar a exposição que o cooperativismo tem em 2025, com a declaração pela Organização das Nações Unidas (ONU) como Ano Internacional das Cooperativas. A entidade pretende tornar esse posicionamento uma proposta do cooperativismo mundial.
“O cooperativismo está na moda porque é um modelo de negócio que tem conseguido dar respostas à sociedade que não está satisfeita com modelos de governança global”, disse o presidente da OCB, Márcio Lopes de Freitas, ao Valor. Segundo ele, as pessoas buscam mais autonomia e independência, e as cooperativas entregam um pouco disso. “A sociedade precisa conhecer mais esse modelo de negócios, mas não estamos conseguindo mostrar que há um modelo disponível, que valoriza as pessoas e reforça a democracia”, completou.
Freitas disse que o Brasil tem uma “responsabilidade com o futuro do planeta” ao sediar a COP30 e que é preciso aproveitar essa oportunidade para buscar decisões em temas de importância global. “Não é só passar responsabilidade para governos, é o que nós podemos fazer para melhorar o futuro”, indicou.
Para o dirigente, o evento precisa avançar no debate sobre a segurança alimentar, as novas tecnologias e a agricultura de baixo carbono. Nesse ponto, ele defende a “tropicalização” dos padrões de referência de sustentabilidade e a agregação de valor aos produtos agropecuários, para encurtar caminhos aos consumidores, cada vez mais exigentes.
“Hoje somos medidos e comparados ao mundo todo com processo desenvolvido na Europa ou em países de clima diferente do nosso”, disse. Ele cita ainda compromissos climáticos e integração do comércio global e a proteção e resiliência dos sistemas agroalimentares como metas nesse tema.
O segundo ponto levantado pela OCB é a valorização das comunidades e a garantia dos devidos financiamentos climáticos. “É legal falar na preservação da Amazônia, mas existem 9 milhões de brasileiros morando lá. O que faremos com eles?”, questionou. Ele propõe a criação de fundos específicos para financiar a produção sustentável, a descentralização desse financiamento climático e a efetivação dos pagamentos por serviços ambientais, que ainda não avançaram no Brasil, além do fortalecimento dos títulos verdes e a definição da taxonomia sustentável brasileira.
Outro tema levantado pela OCB é a transição energética. O presidente afirmou que é necessário mudar a matriz energética e substituir o petróleo e as fontes de combustíveis esgotáveis por fontes renováveis, como os biocombustíveis e as energias eólica e solar. As cooperativas também chamam a atenção para a valorização da bioeconomia como oportunidade de desenvolvimento para a Amazônia e para o país.
“Os usos de mecanismos de inovação disponíveis têm que ser voltados para a bioeconomia. Temos que estruturar isso, um PIB mais verde. Tem mais tecnologia num grão de soja do que num chip de celular”, afirmou. Nesse item, ele cita a necessidade de rastreabilidade e certificação da cadeia produtiva, o desenvolvimento territorial sustentável e da economia circular e logística reversa.
A OCB também destacou a necessidade de promover instrumentos efetivos de mitigação de risco climático, que geram efeitos na produção agropecuária. Freitas disse que o país possui marcos legais, como o Código Florestal, mas falha na implementação das políticas. “Temos que adequar esses riscos, colocar coisas na caixa e tomar responsabilidade para isso. O cooperativismo está se propondo a assumir um conjunto de responsabilidades como estratégia”, pontuou.
Os alertas são para a necessidade de políticas e estratégias de adaptação climática, valorização das medidas de baixo carbono, o fortalecimento de seguros e de infraestruturas de adaptação a eventos climáticos.
COP30
A COP30 será realizada em Belém, de 10 a 21 de novembro de 2025, com foco na discussão de ações globais sobre mudanças climáticas. A OCB quer o modelo cooperativista como um agente essencial para o alcance das metas climáticas globais.
Os objetivos são demonstrar o compromisso das cooperativas com a neutralidade de carbono e as práticas sustentáveis; ampliar o reconhecimento do modelo cooperativista como agente de transformação social e ambiental em debates globais; e engajar cooperativas brasileiras na agenda climática.
“Onde tem cooperativa o processo de desenvolvimento se realiza mais em prosperidade do que em crescimento econômico, que é um processo individual. A prosperidade é em grupo, quando a sociedade melhora de vida (…) Quero deixar claro que cooperativismo tem estratégia e algumas delas precisam de ajuda das instituições”, disse Freitas sobre a agenda institucional lançada.
