Economia
Capricho da natureza faz de Alagoas terra da própolis vermelha
Lagoa, rio, sol, mar, árvores, coqueirais... De Maragogi a Jequiá da Praia as belezas naturais não propiciam apenas belas paisagens, mas potencial para desenvolver item único no mundo: a Própolis Vermelha. A resina, que pode ser utilizada no tratamento do câncer e de portadores do vírus HIV, desenvolve-se apenas nesta região. Com diversos benefícios, a indústria farmacológica do planeta recorre a Alagoas para comprar o produto, que chega a custar até R$ 1400 reais o quilo.
A própolis é uma resina produzida pelas abelhas e existe no mundo inteiro. Cada localidade produz diferentes tipos de própolis a depender do tipo de clima e ecossistema presentes nela. A Própolis Vermelha é um caso à parte: em todo o mundo ela só pode ser encontrada no litoral alagoano, mais especificamente entre as cidades de Maragogi e Jequiá da Praia.
O litoral alagoano só foi agraciado com a Própolis Vermelha devido a um inseto que se encontra somente nesta localidade e que se alimenta da planta denominada Rabo de Bugio, responsável pela liberação da resina. José Jenilson, que coordena um projeto para o desenvolvimento da produção da Própolis Vermelha em Jequiá da Praia, explica que a existência da resina em Alagoas se dá por um “capricho da natureza”.
“Tanto o litoral de Alagoas quanto o de Pernambuco e Sergipe têm Rabo de Bugio e abelha do mesmo jeito, mas Alagoas foi contemplado porque um inseto, existente somente no litoral alagoano, fere a Rabo de Bugio para comer sua resina. A planta para se defender libera, através da sua resina, algumas substâncias que para esse besouro são maléficas, mas que a abelha vai lá e recolhe. Então, o diferencial não tá na Rabo de Bugio nem na abelha que existem em todo o mundo, o diferencial é o besouro.”
Quilo da Própolis Vermelha chega a custar R$ 1400
Com potencial para produção em grande quantidade da resina, a Própolis Vermelha vem atraindo pessoas do mundo inteiro, principalmente japoneses em busca dessa propriedade benéfica e rentável. Somente um quilo de própolis vendido por Jenilson custa R$ 600. Ele vende por intermédio de um apicultor do município de Marechal Deodoro, mas já vem atraindo investidores diretamente à cidade.
“Os comerciantes já compram em Marechal com seu Marinho, mas os contatos dos japoneses ele não passa porque já vende ao preço dele. Ele compra da gente por 600 reais o quilo, e segundo um informante meu, ele já vende a 1400 o quilo. Mês passado veio um grupo de japoneses lá em casa, eu fiz contato, a gente andou conversando. Eles querem comprar da gente aqui e levar pra China”, destaca Janilson.
Jequiá da Praia: a potência da Própolis Vermelha e do mel
Das cidades do litoral alagoano, a mais propensa à produção da Própolis Vermelha é Jequiá da Praia, que de acordo com dados de 2011 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) possui cerca de 11 mil habitantes. Devido a seu ecossistema composto por uma vasta área hídrica e um grande território de coqueirais, ambientes propícios à criação de abelhas, a produção desse tipo de própolis se potencializa, principalmente porque a cidade é dona de matas virgens e de natureza pouco manipulada pelo homem.
Se houver investimento, a expectativa é que a cidade se torne referência na produção de Própolis Vermelha e de mel. Sendo um comércio louvável tanto para comerciantes quanto para os habitantes de Jequiá da Praia, o idealizador do projeto não vê motivos para não investir.
“A gente tem todo esse potencial. E, outra coisa, um dado que é nacional e a gente sempre procura divulgar, é que hoje, um apicultor com 30 colmeias, tem, mensalmente, dois salários mínimos, isso é numero, é real, não é invenção. Desde que ele saiba todas as técnicas de produção, porque isso o Sebrae nos ajuda e capacita. É dentro desses dados, que são nacionais, que tenho tentado incentivar o grupo e os meninos tão seguindo e se mantendo, na medida do possível na atividade”, afirma otimista.
Cada colmeia produz 40 quilos de mel por ano. Jequiá da Praia tem uma produção de 3.200 quilos por ano. Vendendo pelo menor preço, R$ 6, a produção dos 15 apicultures local lucra R$ 19.200 no ano. “Isso hoje com as poucas colmeias que temos, em torno de 80. Minha meta pessoal hoje é chegar a 200 colmeias”, explica.
Projeto quer fomentar a produção da Própolis Vermelha
Com os benefícios da resina, o objetivo do projeto de desenvolvimento da produção de Própolis Vermelha é fomentar a atividade de apicultura, levando à população benefícios como: geração de emprego, de renda e de desenvolvimento no setor turístico com a larga escala de divulgação pela qual a cidade será submetida após a implantação do projeto.
José Jenilson, apicultor e idealizador do projeto, explica que ele abrange não só a área da apicultura como apetece os setores do turismo e meio ambiente, o que torna o esboço completo e de extrema importância para o desenvolvimento econômico e também social da cidade.
Em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), jequiaenses irão ser capacitados profissionalmente em apicultura com os cursos de Agricultura Básica, Agricultura de Manejo e Produção de Própolis.
Com a perspectiva de atingir uma considerável gama de turistas, o projeto prevê capacitação de barqueiros e formação de guias de turismo. Ainda para aperfeiçoar a produtividade de mel e Própolis Vermelha consta a construção da casa do mel para a criação de um apiário e meliponário escola.
“O objetivo é criar um centro de referência em apicultura e meliponicultura. O meliponário foi idealizado para que as crianças possam visitar. Para abrir a colmeia, mostrar, explicar, falar a elas sobre a atividade e seu processo. A criança vai aprender o que é a abelha, a importância dela para o Meio Ambiente, como funciona, a biologia e organização social das abelhas. Uma coisa muito bonita, mas falta investimento”, enfatiza Jenilson.
A completude do projeto e seu potencial benéfico são positivos para o desenvolvimento municipal. No entanto, Jenilson e a associação de agricultores e apicultores de Jequiá da Praia vêm enfrentando dificuldades constantes na sua concretização. É que faltam apoios e parcerias para investir. O terreno para a construção da casa do mel, por exemplo, apesar de doado pela prefeitura há dois anos, ainda não foi entregue o que dificulta firmar negócios com investidores.
Jenilson explica que não adianta somente construir a casa do mel, é preciso dar-lhe estrutura suficiente para a sua permanência. “Dentro da casa do mel é necessário criar um espaço de beneficiamento da Própolis Vermelha e todos os equipamentos exigidos para atrair o pessoal para cá. Quando a gente atrai esse pessoal, gera a oportunidade de fechar negócio com novos mercados, novas pessoas, novos grupos, e tudo isso favorece a atividade. Agora tudo depende de investimento”, afirma.
Para prosseguir com o projeto, o município precisa de apoio financeiro de diversos setores, inclusive a prefeitura. A doação do terreno é somente o primeiro passo. Jequiá da Praia precisa de estrutura para receber investidores e turistas, situação que ainda não pode ser encontrada na cidade.
“Para que a gente divulgue, coloque uma placa, a gente precisa ter uma estrutura, porque vai gerar curiosidade lá fora aos turistas e outros interessados neste meio. Se eles chegarem aqui e a gente tiver no patamar que a gente está hoje, eles vão dizer: ‘Esses caras estão com propaganda enganosa’”.