Economia

Com disparada das ações, Eletrobras ganha mais de R$ 7 bilhões em valor de mercado

Valor de mercado da estatal subiu para R$ 27,45 bilhões ante R$ 20,17 bilhões no fechamento do pregão da véspera.

Por g1 22/08/2017 13h01
Com disparada das ações, Eletrobras ganha mais de R$ 7 bilhões em valor de mercado

Coma disparada das ações da Eletrobras nesta terça-feira (22) após o governo anunciar plano de privatização da estatal do setor elétrico, a companhia viu o seu valor de mercado aumentar em mais de R$ 7 bilhões em poucas horas, segundo dados da provedora de informações financeiras Economatica.

Por volta das 12h, as ações da Eletrobras subiam ao redor de 40% na B3 (antiga BM&FBovespa, a bolsa brasileira) , o que colocava a companhia com um valor de mercado de R$ 27,45 bilhões, ante R$ 20,17 bilhões no fechamento do pregão da véspera.

O levantamento leva em consideração a cotação de R$ 19,76 do papel Eletrobras ON N1 (alta de 39%) e de R$ 22,48 da Eletrobras PNB N1 (alta de 25,97%). 

Na parcial do dia, a Eletrobras se posicionava na 21ª posição entre as empresas com maior valor de mercado na bolsa brasileira, ante 30º lugar no fechamento da segunda-feira.
Em 2010, a Eletrobras chegou a R$ 46 bilhões em valor de mercado, segundo a Economatica, mas perdeu valor nos últimos anos.

Com a forte alta da Eletrobras, o Ibovespa bateu o patamar de 70 ml pontos. A última vez que o índice fechou acima dos 70 mil pontos foi em 19 de janeiro de 2011, quando fechou em 70.058 pontos. O recorde histórico foi em 20 de maio de 2008, com 73.516 pontos.

O avanço da Eletrobras acontece após o governo anunciar plano de vender o controle da gigante do setor elétrico, em movimento que pode gerar uma arrecadação de até R$ 20 bilhões para a União.

Itaipu e Eletronuclear devem ficar de fora

O ministro de Minas e Energia, Fernando Bezerra Coelho Filho, informou nesta terça-feira que a hidrelétrica de Itaipu, administrada pelo Brasil junto com o Paraguai, e a Eletronuclear, subsidiária à qual estão vinculados os projetos na área de energia nuclear, deverão ficar de fora da privatização da Eletrobras. O ministro disse também que, com a privatização, as tarifas de energia podem cair no médio prazo para o consumidor.


De acordo com o ministro, a proposta de privatização vai ser entregue nesta quarta-feira (23) para o Programa de Parcerias de Investimento (PPI), órgão do governo Michel Temer que trata de privatizações e concessões. O envio da proposta é um passo inicial do processo.

Proposta de privatização

Pela proposta anunciada pelo governo, será feito um aumento de capital na Eletrobras, do qual o governo não irá participar. Consequentemente, cairá a fatia governamental na empresa. A previsão é que chegue a 47%.

Além da crise econômica e das suspeitas de irregularidades em projetos, como a usina nuclear de Angra 3, investigadas pela Lava Jato, o encolhimento da Eletrobras em valor de mercado também é atribuída à participação em políticas adotadas pelo governo Dilma Rousseff no setor elétrico, entre eles a medida que permitiu o barateamento das contas de luz em 2013.

Hoje a União tem 51% das ações ordinárias (com direito a voto) e fatia de 40,99% no capital total da Eletrobras;
Além disso, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e seu braço de investimentos, o BNDESPar, têm, juntos, 18,72% do capital total da empresa;

Problemas

O Ministério de Minas e Energia afirma que a decisão de propor a redução da participação da União na Eletrobras ocorre "após profundo diagnóstico sobre o processo em curso de recuperação da empresa."

A companhia terminou o 2º trimestre com uma dívida líquida de R$ 38,4 bilhões. Segundo a Economatica, a dívida da Eletrobras é a 4ª maior entre as empresas de capital aberto, perdendo só para Petrobras (R$ 295,3 bi), Vale (R$ 73,2 bi) e Oi (R$ 44,5 bi).

"Os problemas decorrem de ineficiências acumuladas nos últimos 15 anos, que impactaram a sociedade em cerca de um quarto de trilhão de reais, concorrendo pelo uso de recursos públicos que poderiam ser investidos em segurança, educação e saúde."

Papel da Eletrobras

A Eletrobras se transformou em um dos maiores agentes do setor elétrico brasileiro durante o governo dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Participou dos consórcios responsáveis por hidrelétricas como Belo Monte, o maior projeto do país na área de geração de energia elétrica, além da construção de linhas de transmissão.
Entretanto, a Eletrobras registrou perdas nos últimos anos, devido à crise econômica e também às suspeitas de irregularidades em projetos em que estava envolvida - a empresa é alvo da Lava Jato, por exemplo, por indícios de desvios nas obras da usina nuclear de Angra 3.

A participação da Eletrobras em alguns dos projetos do governo Dilma Rousseff, como o que permitiu a redução do preço da energia em 2013, também é apontada como responsável por parte das perdas da estatal.

Uma das medidas adotadas pelo governo Dilma para conseguir baratear a energia foi oferecer às operadoras de hidrelétricas, como a Eletrobras, a renovação dos contratos de concessão dessas usinas. Em troca, porém, elas passaram a receber um valor bem menor pelo serviço.

Apesar de ter ajudado a baratear as contas de luz temporariamente, a adesão da Eletrobras nesse plano reduziu as receitas da empresa com a geração de energia e desvalorizou fortemente suas ações - dois meses depois do anúncio do plano, os papéis da empresa tiveram queda de 20% em apenas um dia.

Já no governo Temer e sob novo comando, a Eletrobras, em forte crise financeira, anunciou um programa de demissão voluntária (PDV). A expectativa é de cortar 50% dos funcionários.

Em junho, durante discussão do plano de reestruturação, o presidente da estatal, Wilson Ferreira Júnior, se referiu a 40% da chefia da empresa como "vagabundos" e "safados". A repercussão da fala levou o presidente da estatal a pedir desculpas e os sindicatos a promoverem uma greve de 24 horas.

A empresa também propôs um plano para incentivar a aposentadoria de funcionários para economizar R$ 1,5 bilhão ao ano.