Economia

Com monopólio do pagamento do auxílio emergencial, Caixa avança no digital

Banco quer fechar parcerias com maquininhas de cartão para conceder empréstimos a micro e pequenas empresas em novo programa de crédito

Por O Globo 26/05/2020 08h08
Com monopólio do pagamento do auxílio emergencial, Caixa avança no digital
Prédio da Caixa - Foto: Agência O Globo

A Caixa Econômica Federal atuou junto ao governo para monopolizar o pagamento do auxílio emergencial de R$ 600 para trabalhadores informais e autônomos durante a crise causada pela pandemia do novo coronavírus.

O segundo passo da Caixa é avançar nas parcerias com as maquininhas de cartão  para conceder empréstimos a micro e pequenas empresas no novo programa de crédito com garantia do Tesouro Nacional (Pronampe). Há possibilidade de que as parcerias sejam anunciadas nesta semana.

Entre março e abril, quando o auxílio foi anunciado, representantes de bancos e fintechs procuraram os Ministérios da Economia e da Cidadania e se ofereceram para ajudar a pagar o benefício, de olho na população desbancarizada. Entre eles, a empresa de tecnologia 4all e grupo Cosan.

Neste caso, a ideia era fazer o crédito do benefício na conta digital e usar rede de maquininhas e terminais eletrônicos para sacar os recursos, sem custo ao governo federal.

O Banco do Brasil (BB) também se prontificou a ajudar, mas o Ministério da Cidadania optou por contratar exclusivamente a Caixa, que vai receber R$ 82 milhões pelo serviço.

Vencida a queda de braço, a Caixa teve de correr para pôr em funcionamento o aplicativo a fim de que as pessoas pudessem se cadastrar e o Caixa Tem, outro aplicativo para quem recebeu o crédito em conta poupança virtual pudesse movimentar os recursos.

Foram inúmeras reclamações. Este aplicativo precisou passar por 15 atualizações em 20 dias, segundo o próprio banco.

Foco em microsseguro

Apesar disso, a Caixa comemora a abertura de 40 milhões de contas digitais e previsão de chegar a 50 milhões, com a ampliação da medida a beneficiários do Bolsa Família e trabalhadores na nova rodada de saque do FGTS a partir de junho.

—Já somos a maior fintech do Brasil e isso foi feito em 40 dias —disse o presidente da Caixa, Pedro Guimarães, ao fazer um balanço dos pagamentos do auxílio.

 Ele destacou que o banco já emitiu 40 milhões de cartões e que se 10% deles virarem clientes, a Caixa já terá dobrado as operações com cartão.

A Caixa pretende explorar a carteira digital para microsseguros para a baixa renda. A estratégia ficou evidente no cronograma de pagamento da segunda parcela do auxílio, ao fazer o crédito apenas em conta poupança digital.

Além disso, o banco segurou o dinheiro: quem recebeu o depósito só pode transferir os recursos a outra conta ou sacar em espécie, entre 30 de maio e 13 de junho.

Quem está recebendo só pode pagar contas ou realizar compras via cartão digital.

Oferta sem custo recusada

O banco justifica que o objetivo é evitar filas e aglomerações de pessoas nas agências, durante a pandemia. Mas integrantes do governo afirmam que isso seria evitado se outros bancos participassem.

O Ministério da Cidadania afirmou em nota que a lei restringiu o pagamento do auxílio aos bancos federais. Ao ser indagada por que o BB foi impedido de participar, a pasta respondeu:

 “A Caixa Econômica Federal já é parceira histórica do Ministério da Cidadania na realização do pagamento dos benefícios do Programa Bolsa Família. Como uma parte significativa dos beneficiários do auxílio emergencial é também o público do programa e para não criar dificuldades bancárias a este público, que já recebe pela Caixa há muito tempo, foi firmado o contrato com o banco”.

Segundo Diego Perez, diretor executivo da ABFintechs, um grupo de instituições procurou o governo e parlamentares para oferecer gratuitamente os serviços para operar o pagamento do auxílio emergencial. O contato com o Legislativo era necessário porque a lei que criou o benefício especifica como o programa deveria ser operacionalizado.

O texto final acabou definindo que o repasse deveria ser feito por "instituições financeiras públicas federais".

— As fintechs estão interessadas não necessariamente em ser lucrativas nessa operação, mas em atingir os usuários finais, que futuramente podem continuar a usar esses serviços. Fintechs têm estratégias até agressivas, como oferecer R$ 10 de saldo a novos usuários ou taxa zero. A proposta seria exatamente essa: não haveria custo para a Caixa ou para o governo na contratação do serviço — afirma.

Segundo Guilherme Afif Domingos, assessor especial do ministro da Economia, Paulo Guedes, PagSeguro e Stone estão entre as empresas que começaram negociações para estabelecer o convênio para viabilizar o Pronamp, dedicado a micro e pequenas empresas.

Procurada, a PagSeguro informou que acompanha “com atenção todas as possíveis iniciativas de distribuição de crédito emergencial aos pequenos negócios e empreendedores" e que está "à disposição do governo e de todo o mercado".

A Stone não comentou. Cosan e 4All e BB foram procurados, mas não comentaram o assunto.