Economia
Cartel do petróleo completa 60 anos em meio à crise do coronavírus
Países do cartel tiveram que trocar comemoração por reuniões virtuais
Era para ser a semana em que os países que formam a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), cartel que reúne os maiores produtores do mundo, se reuniriam em Bagdá, na capital do Iraque, para comemorar as seis décadas do grupo como uma das principais forças dominantes no mercado global de energia.
Em vez disso, a Organização dos Países Exportadores de Petróleo e seus aliados (chamado de Opep+) vão se reunir pela internet para entender de que forma o coronavírus frustrou seus melhores esforços para manter o preço da commodity em alta.
Depois de conseguir elevar os preços do petróleo com cortes na produção, o grupo se depara com os efeitos nocivos da pandemia: os preços do barril estagnaram e a demanda de combustível está em queda.
A cotação do Brent, referência internacional, caiu para menos de US$ 40 o barril na semana passada, pela primeira vez desde junho.
Na próxima quinta-feira, a Arábia Saudita e a Rússia, os principais membros da aliança, farão reunião para avaliar se os cortes de produção, que começaram a ser reduzidos em agosto, ainda terão impacto no preço.
No mês passado o corte de produção dos países membros foi reduzido de 9,7 milhões de barris por dia para 7,7 milhões diários.
- Havia algumas previsões importantes sobre onde a demanda e a recuperação estariam agora, e isso simplesmente não aconteceu. Se eu fosse a Opep ou a Arábia Saudita, ficaria preocupado - disse Mohammad Darwazah, analista da empresa de pesquisa Medley Global Advisors LLC.
O preço é ponto central para os membros da Opep, como países mais pobres do cartel, como Nigéria e Venezuela. Essas nações precisam de preços do petróleo muito acima dos níveis atuais para cobrir os gastos do governo, lista que inclui até o Kuwait.
Apesar da temporada de férias já ter chegado ao fim dos EUA, os estoques de petróleo ainda estão altos. Na Índia, o terceiro maior consumidor do mundo, as vendas de combustível para transporte permaneceram 20% abaixo dos níveis do ano passado. Na China, as refinarias ainda não retomaram as compras de petróleo.
Em guerra civil, a Líbia está isenta hoje dos cortes de produção, mas pretende retomar as exportações de petróleo em breve, de acordo com autoridades americanas. A produção do país do Norte da África caiu para menos de 100 mil barris por dia. Era 1,1 milhão de barris diários no final do ano passado.
Mas a desaceleração ainda não é severa o suficiente para que a OPEP+ imponha novos cortes na produção de seus membros como o feito no segundo trimestre, avalia Helima Croft, chefe de estratégia de commodities da RBC Capital Markets.
- Para os homens que residem nos palácios e nos corredores presidenciais, há um preço a partir do qual eles fazem uma ligação. A questão é: qual é o preço? - disse Croft.
Em teoria, a tarefa da Opep+ deve ficar mais fácil no próximo trimestre com o aumento da demanda por combustíveis no inverno. Além disso, há a expectativa de que a economia global se recupere gradualmente, mostram dados da Agência Internacional de Energia em Paris.
Mas, sem um sinal claro, os sauditas podem tomar sua decisão. - Esperamos uma declaração forte de que, se os mercados continuarem a enfraquecer, o grupo de produtores estará preparado para cortar ainda mais a produção - disse Ed Morse, chefe de pesquisa de commodities do Citigroup.
Os membros da Opep vem violando as metas de corte de produção. Iraque e Nigéria implementaram até agora apenas uma fração dos cortes. Agora, a Árabia Saudita enfrenta novo desafio: os Emirados Árabes Unidos admitiu que violou seus limites em cerca de 20%, ao mesmo tempo que prometeu corrigir o erro.
Dados de exportação de consultores como a Petro-Logistics SA e Kpler SAS indicam que o número pode ser muito maior.
Mas os sauditas provavelmente tentarão resolver discretamente todo esse imbróglio.
- O verdadeiro desafio é se a Opepo é ágil o suficiente? Quão rápido eles podem reagir? - questionou Helima Croft, RBC Capital Markets.