Economia
Brasil pode voltar ao mapa da fome com a inflação
Fim do auxílio e alta no preço dos alimentos
Estamos caminhando para o fim do auxílio emergencial, e aliado a isto temos o aumento dos preços, o que pode fazer com que o Brasil volte ao Mapa da Fome. A inflação dos alimentos subiu bastante e deve continuar assim pelos próximos meses, por conta da alta do dólar e da demanda.
Para quem tem sua renda toda ou quase toda voltada para alimentação, não tem escapatória diante da inflação dos alimentos: é preciso fazer uma escolha entre deixar de comer ou substituir comida nutricionalmente boa por ultraprocessados. Se o auxílio emergencial ajudou a evitar que muita gente caísse na pobreza e até mesmo tirou muitos da situação de vulnerabilidade, a perspectiva do fim do benefício associada à alta dos preços dos alimentos formam uma equação perigosa.
Segundo economistas, a inflação no Brasil deve continuar, e tende a agravar o quadro de insegurança alimentar no país, conforme representantes ligados a segurança alimentar ouvidos pela DW Brasil.
"Mesmo com o auxílio emergencial, estamos prevendo que o Brasil esteja voltando para o Mapa da Fome", afirma a antropóloga Maria Emilia Pacheco, ex-presidente do Conselho Nacional de Segurança Alimentar (Consea) e membro do Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (FBSSAN).
A fala de Pacheco ecoa a avaliação do economista Daniel Balaban, diretor do Centro de Excelência contra Fome do Programa Mundial de Alimentos (WFP) da Organização das Nações Unidas (ONU). "Isso [alta dos alimentos] é muito preocupante, porque a grande maioria desses 65 milhões de brasileiros que receberam o auxílio utilizam o recurso para comprar comida, o próprio IBGE mostra. Com o preço dos alimentos aumentando, eles têm que comprar menos. E têm um problema nutricional também."
De acordo com dados do Datafolha de agosto, a compra de alimentos é o principal destino do auxílio emergencial para 53% dos entrevistados. Entre os que têm renda menor, essa parcela sobe para 61%.
Senacon e Procon investigam preços abusivos. Em comunicado a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon) disse não ser possível falar em abuso de preços sem antes avaliar toda a cadeia de produção. No entanto, caso seja comprovado que há abusos, multas que ultrapassam de R$ 10 milhões podem ser aplicadas.
O Procon também pretende atuar. "Os preços dos alimentos explodiram. Um saco de arroz, por exemplo, chegou a R$ 40. Apesar de sabermos que se trata de uma questão macroeconômica, alta do dólar e facilitação da exportação, o consumidor não pode ser prejudicado. Atuaremos para combater a alta dos preços", afirmou o diretor-executivo do Procon-SP, Fernando Capez, em comunicado à imprensa.