Economia
Presidente do BC não apoia a efetivação do Renda Cidadã
Campos Neto defende a retomada dos investimentos estrangeiros
O presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse que o Brasil precisa "organizar a narrativa" em relação à disciplina fiscal e ao teto de gastos, para o país voltar a crescer de forma sustentável. Para ele, novas despesas extras podem até visar o crescimento de curto prazo, mas afetam a credibilidade brasileira no exterior e, por isso, podem afastar ainda mais os investimentos estrangeiros, prejudicando o crescimento de médio prazo.
Campos Neto tem defendido a disciplina fiscal e o teto de gastos de forma enfática. No governo e no Congresso, contudo, segue o impasse em torno do Renda Cidadã — programa social que deveria substituir o auxílio emergencial a partir do próximo ano, mas ainda não tem uma fonte de financiamento definida e ameaça o teto de gastos, segundo analistas. Por isso, o presidente do BC reforçou o discurso fiscalista nesta quarta-feira (7), em entrevista a uma rádio.
"Não tem mágica. Quando tem uma situação fiscal mais frágil, o gasto que você pensa que vai beneficiar o curto prazo pode ser um elemento inibidor do crescimento de médio prazo, que é o que importa para o país". Nós temos vários fatores positivos. Precisamos só organizar a narrativa para gerar credibilidade, para que os investimentos venham ao Brasil" avaliou Campos Neto.
Investimento Estrangeiro
Segundo Campos Neto, há um conjunto de investidores estrangeiros que enxerga um mercado potencial no Brasil e pensa em investir no país. Dados do BC mostram, contudo, que os investimentos externos despencaram 85,5% entre agosto de 2019 e agosto de 2020. O chefe da autoridade monetária explicou que o baque é fruto da desconfiança em relação à condução da política fiscal após a pandemia da covid-19. "Nossa melhora de credibilidade, melhora de percepção em relação aos investidores estrangeiros está muito ligada, hoje, ao fiscal. O Brasil precisa mostrar que tem uma disciplina fiscal, que vai procurar uma convergência fiscal", ressaltou.
Na opinião do presidente do BC, os agentes econômicos entendem que a pandemia exigiu a ampliação dos gastos e, consequentemente, da dívida brasileira, porém, avaliavam que a disciplina fiscal voltaria em 2021. Por isso, agora estão reagindo às dúvidas sobre a manutenção ou não do teto de gastos no próximo ano. "Quando você começa a ter dúvida se, de fato, vai retornar ou não, você não só corre o risco do não retorno, mas tem o risco de precificar uma trajetória de dívida com uma estabilidade que é questionável", argumentou.
Na análise de Campos Neto, foi a percepção de que o teto de gastos continuaria em 2021 que permitiu ao Brasil fazer despesas extraordinárias, maiores do que a média dos demais países emergentes, no enfrentamento da pandemia. "A sociedade precisa entender que não tem como ter inflação baixa e juros baixos com uma política fiscal desorganizado", finalizou.