Economia

Grupo de empresários afirmam Bolsonaro precisa ser ´controlado´

Segundo os empresários, Lira abriu um novo caminho para a crise

Por Redação com Terra 28/03/2021 18h06
Grupo de empresários afirmam Bolsonaro precisa ser ´controlado´

Nas últimas semanas, empresários, banqueiros e economistas deixaram claro que a paciência com o governo Jair Bolsonaro chegou ao fim. Uma carta escrita por um grupo de economistas (mas também assinada por pesos-pesados do PIB nacional) cobrando uma mudança radical nos rumos da administração federal, tanto no plano do combate à covid-19 quanto na área econômica, se tornou a face mais visível dessa insatisfação. Mas as conversas e articulações vão muito além disso.

A mudança no comando do Congresso, com a chegada de Arthur Lira (Progressistas-AL) à Câmara e de Rodrigo Pacheco (DEM-MG) ao Senado abriu, segundo empresários, um novo caminho para suas demandas. Não à toa, segundo apurou o Estadão, os dois parlamentares já se reuniram em pelo menos nove oportunidades com grupos de banqueiros, donos de empresas e executivos. Nas conversas, o tom é de que é preciso "controlar" o presidente.

Um empresário que participou de um encontro com os dois na semana passada, em São Paulo, disse, na condição de anonimato, que o que se está buscando, diante da gestão "catastrófica" da pandemia, é um diálogo com o Legislativo, por meio de Lira e Pacheco, que são duas figuras que se mostraram "sensatas". Segundo ele, com o presidente nenhum diálogo foi possível, já que Bolsonaro não consegue se aprofundar em nenhum assunto e "só faz piada e fala palavrão". Lira e Pacheco sabem da gravidade da situação e estão funcionando como interlocutores, disse.

De acordo com esse empresário, um dos pontos que mais têm preocupado os empresários é a imagem "nefasta" do Brasil no exterior - o que prejudica diretamente os negócios. E essa imagem ruim está muito ligada ao ministro Ernesto Araújo, das Relações Exteriores, e a Ricardo Salles, do Meio Ambiente. Segundo ele, a questão ESG (sigla em inglês para ambiental, social e de governança) vem pesando muito contra a imagem global do País e o governo não faz nada.

Lira e Pacheco também se reuniram na semana passada, por duas vezes, com os presidentes dos maiores bancos do País. A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) informou que os encontros foram marcados para os CEOs dos bancos conhecerem os novos presidentes das Casas e também para que o setor transmitisse a eles as principais preocupações com a conjuntura.

No encontro, segundo fontes ouvidas pelo Estadão/Broadcast, o presidente da Febraban, Isaac Sidney, disse que os bancos não estavam ali para pedir regras novas ou para fazer lobbies. Os bancos, afirmou, querem previsibilidade para mitigar as incertezas e evitar novas crises de confiança em relação ao Brasil.

O presidente do conselho de administração do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi, que participou de um encontro com Lira e Pacheco na semana passada, disse que as conversas ocorreram enquanto a "gravidade da pandemia vai desorganizando a economia gradativamente", e que as diferenças políticas, neste momento, têm de ser colocadas de lado. "Temos de dialogar para mobilizar a sociedade, trabalhadores, governos, parlamentares e empresários numa frente de solidariedade se quisermos vencer essa crise, que já ganhou características de crise humanitária", afirmou. "As divergências e brigas políticas podem ficar para depois."

Rubens Menin, presidente dos conselhos do grupo MRV e da Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), outro presente a um dos encontros em São Paulo, avaliou que o momento do País é "crítico" por causa do número de mortes. Questionado se tem confiança de que o governo de Jair Bolsonaro será capaz de controlar a crise sanitária e econômica, Menin evitou citar o nome do presidente e se classificou como um "otimista com o Brasil". Ele disse acreditar na aceleração da vacinação nos próximos meses e insistiu no discurso que vem fazendo desde o começo da pandemia. "Não pode haver confusão entre os governos estaduais e federal. As brigas vão ter de acabar ou a sociedade vai cobrar."