Economia
“Ação” de Arthur Lira ajuda consumidor, mas prejudica produtor de cana de AL
A queda do etanol afetou diretamente o setor mais importante da economia do estado – o sucroenergético
A queda no preço da gasolina faz bem ao bolso do consumidor, mas tem desdobramentos indesejáveis para outros setores da economia. A redução foi provocada por mudança na sistemática de cobrança do ICMS, afetando diretamente a receita de Estados e municípios.
Outro efeito colateral da redução do preço da gasolina é a perda de competitividade do etanol. O preço do combustível, produzido a partir da cana-de-açúcar, também caiu, afetando diretamente o setor mais importante da economia de Alagoas – o sucroenergético.
A redução de preço da gasolina – e por tabela do etanol – não ocorreu por acaso. Foi ação, literalmente, do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL). A gasolina mais barata tem sido usada até como mote de campanha por ele, que é candidato à reeleição.
Lira, no entanto, tem dado sinais de que está preocupado com a situação do setor sucroenergético de Alagoas. Ele já prometeu trabalhar numa solução para reduzir os prejuízos para indústrias e fornecedores. Mas isso só deve acontecer, claro, depois das eleições. Ou seja, a solução pode demorar um pouco mais de a escolha do novo presidente for para o segundo turno. Mas essa é outra história.
As perdas em Alagoas
A estimativa é que usinas e fornecedores de cana Alagoas tenham perdas superiores a R$ 200 milhões na safra 2022/2023 apenas na comercialização do etanol hidratado.
A quede de preço do etanol para o consumidor, nos postos, afeta diretamente as usinas, mas também os mais de de 7 mil fornecedores de cana de Alagoas.
Isso porque o preço pago pela tonelada de cana entregue na indústria é calculado a partir de uma fórmula (ATR) em que o fornecedor fica com um percentual do valor da comercialização dos produtos finais (açúcar e etanol). A regra é simples. Se o preço de comercialização dos produtos finais cai, o valor da tonelada de cana também cai.
Em setembro, de acordo com o boletim do Consecana, o valor do ATR caiu -10%.
ATR. A queda, claro, foi puxada pelo etanol e só não foi maior porque outros produtos se mantiveram estáveis, a exemplo do açúcar VHP (exportação) ou pequenas variações, a exemplo do cristal .
Segundo o Consecana – com base nos dados fornecidos pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada/ Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz/ Universidade de São Paulo (CEPEA/ESALQ/USP) –, a maior queda do preço, de quase 40%, foi do etanol hidratado. O metro cúbico caiu de R$ 4,059 para R$ 2,448.
Ainda de acordo com o levantamento técnico, o etanol anidro também teve baixa de 18%, com o metro cúbico passando de R$ 3,735 em agosto para R$ 3,044 em setembro.