Economia

Copa do Mundo, Black Friday e fim do ano: comércio se anima com possibilidade de aumento das vendas

Datas comemorativas animam consumidores e lojistas. Para economista, no entanto, momento não representa mudança na economia de Alagoas

Por Ruan Teixeira 19/11/2022 09h09 - Atualizado em 19/11/2022 13h01
Copa do Mundo, Black Friday e fim do ano: comércio se anima com possibilidade de aumento das vendas
Comércio está aquecido e com boas expectativas de vendas para o fim do ano - Foto: Ruan Teixeira

O ano de 2022 foi um ano atípico para o comércio. A diminuição dos casos de Covid-19 e a movimentação do período eleitoral ajudaram a movimentar o setor e a aproximação de datas como a Copa do Mundo, Black Friday e festas de fim de ano aquecem a economia e animam quem trabalha com vendas.

Segundo pesquisa feita pelo Instituto Fecomercio Alagoas, em parceria com a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), a intenção de consumo do maceioense intensificou tendência de alta e bateu nova máxima em sete anos. Com crescimento de mais de 28% na comparação anual, a Intenção de Consumo das Famílias (ICF) de Maceió registrou, em outubro, uma nova máxima para os últimos sete anos, alcançando 118,1 pontos.

Para o assessor econômico da Fecomércio AL, Victor Hortencio, a taxa de crescimento constatada nos resultados do índice é um reflexo do cenário econômico visto no segundo semestre de 2022, principalmente no que se refere às famílias de renda mais baixa. “A combinação de deflação, puxada pela queda nos preços dos combustíveis, o crescimento do emprego formal e o aumento das transferências de renda impulsionaram e mantiveram o nível de consumo em patamares otimistas”, observou.

Rodolfo Oliveira, de 31 anos, é gerente de uma loja de utilidades no Centro. A expectativa, para ele, é muito grande com a chegada da Copa do Mundo e das outras datas importantes para o comércio.

“Perante o fluxo de pessoas que tem no Centro, a movimentação aqui na loja irá aumentar durante a copa; no Natal, vendemos produtos decorativos, acredito que a procura vai ser muito maior e que [ a proximidade das datas] não vai atrapalhar o comércio em nenhum momento".

Gerente de uma loja de utilidades no Centro de Maceió, Rodolfo Oliveira, está animado com as vendas de fim de ano. Foto: Cortesia ao Jornal de Alagoas.

Ele ainda destaca que a loja estará com várias promoções. "Pensamos bastante para esse ano, inclusive antecipamos o nosso Black Friday; brinquedos estão em promoções, conseguimos criar uma cartela muito grande. São coisas que não fazíamos em outros anos e esse ano aproveitamos. A Copa do Mundo, ano de eleição, veio tudo muito junto, então a gente decidiu antecipar esse nosso Black".

O comerciante observou que as vendas cresceram a partir da diminuição do número de casos de Covid. “A pandemia foi bem difícil, pois não sabíamos o que podia acontecer, mas logo após a gente sentiu muito bem, principalmente no segundo semestre que o comércio reagiu, voltando com forçando; e com a certeza de que iremos fechá-lo com chave de ouro. Um recomeço", concluiu.

O ambulante Wellington Santos, que todos os dias negocia acessórios da seleção brasileira no Centro de Maceió compartilha da ideia de que o período traz esperança de dias melhores. Para o vendedor, 2022 com certeza foi um ano de recomeço, principalmente de ambulantes como ele, que tiveram que se reinventar durante pandemia e pós-pandemia.

"Final de ano é a nossa libertação. É a época que mais vendemos, então nada melhor do que recomeçar, após tanto sofrimento. Agora iremos vender com força, neste final de ano, e principalmente em 2023, ano também de renascimento”, disse Wellington, aos risos.

Foto: Ruan Teixeira.

O 13º salário para os trabalhadores também ajudam a movimentar a economia e, para quem recebe, significa a possibilidade de presentear alguma pessoa querida. É o caso do auxiliar de serviços gerais Carlos Silva, que é reeducando do sistema prisional e quer utilizar o 13º para comprar presentes para os filhos. “Trabalho todos os dias para que sobre algo no fim do ano. Acredito que essas datas importantes ajudam a economia”, pontuou.

A gerente de cartório do Procon Alagoas, Neide Rocha, acredita que mesmo com a retração na economia provocada pela pandemia que obrigou lojistas e comerciantes a fecharem temporariamente seus negócios, 2022 foi um ano de recomeço. “O consumidor teve a oportunidade de voltar a realizar os seus desejos de compra”.

Ao tratar da Black Friday, Neide conta com felicidade que já usufruiu muito da data tão conhecida, e que espera aproveitar cada vez mais. "Eu já tirei muito proveito disso, espero esse ano fazer a mesma coisa. Vale lembrar também do 13° salário, férias, vinda da Copa Mundo, Natal e muito mais. Acredito eu que a economia alagoana, mas como a brasileira, em geral, agradece", acrescentou.

Os números da economia, porém, não refletem o otimismo de comerciantes e consumidores. Pelo menos é o que diz a economista e professora e pesquisadora da UFAL ( FEAC), com doutorado em Desenvolvimento Econômico pela Unicamp, Luciana Caetano da Silva. Segundo ela a economia alagoana, há mais de 20 anos, tem participação de 0,72% a 0,8% no PIB nacional com uma representação demográfica de 1,6%. "Isso significa que o Estado não consegue avançar nos indicadores econômicos e isso reflete sobre o tecido social, segundo publicação do Mapa da Nova pobreza (junho/2022), de autoria do Marcelo Neri, pela Fundação Getúlio Vargas".

Luciana explica que em 2021, Alagoas ocupava a 3ª pior posição em percentual da população em condição de pobreza (50,36% da população), quando a média nacional foi de 29,6% e que segue liderando a taxa mais elevada de analfabetismo, com 20,1% (2019), a maior taxa de mortalidade infantil, o pior IDH, com 0,683 (médico) e, não raro, aparece entre as unidades federativas com maior taxa de desemprego, sendo mais de 1/3 buscando emprego sem êxito há mais de 2 anos.

Economista Luciana Caetano não acredita que o aumento das vendas impacte positivamente na economia de Alagoas. Foto: Cortesia ao Jornal de Alagoas.


Ela também acredita que a pobreza estrutural está relacionada a um Estado marcado pela concentração fundiária, pela baixa participação da indústria de transformação e de quase 70%. "É um dos estados com maior taxa de informalidade e, como se isso não bastasse, a arrecadação fiscal prevista para 2022 está na ordem de R$ 6,3 bilhões, mas o Estado concedeu uma renúncia fiscal de ICMS na ordem de R$ 1,5 bilhão, dos quais, R$ 242,6 milhões favorecem o setor sucroalcooleiro. A renúncia fiscal concedida ao setor atacadista, centrais de distribuição, setor sucroalcooleiro e empresas favorecidas pelo PRODESIN corresponde a 24% de toda a arrecadação fiscal prevista para 2022. Isso se repete nos anos seguintes com valores mais elevados. Enquanto isso, o desembolso com juros e amortização da dívida corresponde a R$ 896 milhões para este ano. Essa tributação , portanto, poderia ter melhor uso. Por fim, tem um PIB per capita abaixo de 50% do PIB per capita nacional e uma das rendas mais baixas entre as 27 unidades federativas".

Ela finaliza afirmando que as expectativas para Alagoas em 2023 dependem da mudança do governo federal, pois em Alagoas a entrada e saída de governo tem mantido tudo igual por muitas décadas. "Os avanços alcançados nesse Estado (saneamento básico, redução de déficit habitacional, redução da extrema pobreza e melhoramento de indicadores da educação) foram por intervenção do governo federal".