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Por dentro de Vingadores - Guerra Infinita: uma conversa com Capitão América e Máquina de Combate
Bate-papo com Chris Evans e Don Cheadle
Muito tempo se passara desde que entrei nos estúdios da Marvel em Atlanta, mas o relógio corria demais. Aquelas duas, três horas pareciam quinze, vinte minutos. As paredes de concreto maciço e o clima gelado do set ajudavam na sensação de fantasia do dia. O chamado para a realidade vinha sempre da voz do assessor de imprensa, que anunciava a chegada de algum ator ou encerrava alguma entrevista. O bater da porta também ajudava a lembrar que aquele era um dia “simples” de trabalho. Mas logo depois do estrondo da porta, vinha algum herói. Dessa vez, dois. Steve Rogers e James Rhodes, Capitão América e Máquina de Combate. Ou melhor: Chris Evans e Don Cheadle.
Como todos os outros, eles estavam uniformizados. Evans com o rosto totalmente preto de fuligem, como se tivesse saído de uma batalha bem complicada. Já Cheadle estava normal. Normal para um cara que faz quase tudo com um traje de captura de movimentos - aquela clássica roupa cinza e cheia de pontinhos. Não é tão emocionante quanto ver o uniforme do Capitão América de perto, mas deixava claro que aquele cara estaria sim nas batalhas dos próximos dois filmes dos Vingadores.
Passados os cumprimentos, Evans senta no centro da mesa e Cheadle fica ao seu lado. A expressão no rosto de ambos é de tranquilidade. Não havia o cansaço do Pantera, nem a excitação de Robert Downey Jr., por exemplo. Serenidade seria a palavra. Essa sensação foi captada por um colega jornalista ao indagar sobre o famoso cachorro de Chris, que vai sempre com ele para os sets. “Sim, ele está aqui comigo. Eu o levo sempre que estou filmando. Acho que ter animais por perto nos dá uma noção melhor de compaixão, entendimento e sensibilidade”, comentou o Capitão.
O assunto seguinte era o fim. Como é chegar no set e compreender que tudo aquilo que estavam filmando era o fim de uma coisa que começou há dez anos, quando ele vestiu o manto do Capitão pela primeira vez? Chris olhou para cima, deu uma respirada mais profunda e respondeu. “É um coquetel de emoções. Tudo que você imagina, provavelmente é o que senti. Às vezes paro e sinto como se tudo tivesse passado em um piscar de olhos, mas ao mesmo tempo parece uma vida inteira. E é legal porque evoluiu do jeito que a gente imaginou e, sem entregar muito, é o ápice da parceria entre os heróis. Sei que em todo filme o elenco fala 'ah isso é como uma família', mas isso aqui é realmente assim. Esse é o sentimento”, disse.
Cheadle aproveita para relembrar um momento curioso daquele mesmo dia. “Sim, concordo. E foi mais ou menos isso que rolou no almoço hoje, né? Um monte de gente unida, conversando e falando sobre coisas do dia a dia. A gente olha, pensa em como foi o começo e bate uma nostalgia”, completou o ator, que entrou no Universo Marvel para substituir um ator que brigou com o estúdio: Terrence Howard, o primeiro Rhodes. “Lembro que no meu primeiro dia de set foi meio tenso, pois entrei no lugar de alguém e não sabia como seria recebido. Só que tudo rolou muito bem, principalmente com Kevin Feige e Robert Downey. Lembro que sugeri que fizéssemos algo que mostrasse pro público que “seria eu e pronto”. E isso rolou e eles adoraram”, disse, relembrando uma das primeiras falas do seu personagem em Homem de Ferro 2.
E agora? Como o Máquina vai se portar depois de uma Guerra Civil trágica e um grupo totalmente dividido? Não muito diferente dos demais, Cheadle despista. A Marvel orientou os atores, produtores e diretores para dizer o mínimo sobre o filme. “O que posso dizer é que é um pouco difícil separar as coisas do 3 e do 4, por causa das filmagens. Mas eu prefiro não me comprometer. Direi só 'sem comentários'. Sabe como é, eu sou tipo o Tom Holland”, brincou o ator, lembrando dos casos em que o intérprete do Homem-Aranha entregou alguns segredos dos filmes do estúdio.
Mas como fica o Capitão América? Minha pergunta para Evans é sobre o relacionamento mais importante do Universo Marvel nos cinemas: Rogers e Stark. O clima entre os dois melhora? “Não sei se tinha como piorar, pra falar a verdade”, disse o ator, que dá de ombros e diz que só pode falar isso. “Vejo tudo isso como um grande arco. Eu fico até confuso quando me pedem para falar de um filme só, eu realmente vejo isso tudo como uma grande história. Tudo isso que a Marvel está fazendo. Tenho dificuldade de identificar o que é da trama de Era de Ultron, Thor: Ragnarok ou dos Capitão América”, falou.
“E você é ótimo em passar essa sensação [de unidade dos filmes]”, interrompeu Cheadle. ”Ah, muito obrigado, Don”, agradeceu Evans, olhando para baixo, com um tom cômico, mas sincero. “Não, é sério. Até porque você sempre está na maioria desses filmes, então acho que você mesmo consegue sentir essa unidade de uma forma melhor e transmite o significado desse universo como um todo”, explicou o Máquina. Evans sorri e olha para frente, limpa um pouco o rosto de fuligem e já parte para a próxima pergunta: qual o nível da ameaça e como os Vingadores se portam agora?
“Acho que nada é do tamanho que estamos lidando agora. Claro que tudo isso parece meio clichê, mas é verdade e o mais importante: a Marvel sabe o que está fazendo”. Ele se ajeita na cadeira e gesticula, parece procurar as palavras para não parecer tão vago. “Muitas vezes, estar em um grande filme de Hollywood é estar em um jornada. Às vezes uma jornada boa e às vezes você só quer sair. E nesse caso é muito confortável, apesar de ser caótico de vez em quando”, completou. “Quando todos estão juntos têm quase 40 pessoas, sabe? Eu olho para as chamadas de elenco e o que vamos fazer naquele dia e penso: ‘como alguém consegue organizar isso?’ Meu conforto é saber que com a Marvel sempre há alguém por trás do volante, guiando isso tudo”, disse.
Além de Kevin Feige, o chefão do estúdio, os irmãos Russo são os guias principais de Guerra Infinita. E a dupla trabalhou duas vezes com Evans, nos dois últimos filmes do herói. “Eles são ótimos. E olha, eu nunca vi dois diretores com tanta liberdade em um filme dessa grandeza como eles têm com a Marvel. Eles são colaborativos, mas sabem o que querem; sabem equilibrar o tom do filme. E o mais importante é que eles são grandes cinéfilos. Não é incomum eles fazerem referência a um filme, falar de um diretor no set, por exemplo”, disse Evans. “Trabalharia com eles de novo em qualquer coisa“, completou.
No canto de olho, vejo o assessor se levantar. Mais uma vez, aquela parte do dia estava chegando ao fim. Mas ainda havia tempo para alguns questionamentos. “Qual é o tom ou o tema do filme, Sr. Evans?“. “Eu não sei o que posso dizer sem entregar algo para vocês”, repetiu ele. “Tudo bem, mas qual foi a reação então que você teve ao ler o roteiro?”. Ele olha para cima, torce um pouco a boca e na hora em que vai começar a falar, Cheadle interrompe. “Peraí, você leu o roteiro?”, pergunta, com um leve ar de surpresa. “Então, o que eu ia dizer é que eu tive a sorte de ler o roteiro, mas não é algo comum. Eles não entregam o roteiro para todo mundo. Normalmente contam pros atores no dia do set o que é a cena e tal”, disse.
Depois de um rir do outro, Evans define bem o que acontece no set - e no dia a dia da Marvel no geral. “A verdade é que meio que preciso saber o que vai acontecer. E vocês sabem como é, todo mundo tem um celular, uma câmera hoje em dia e a Marvel quer que os fãs aproveitem isso do melhor jeito possível. Eles querem fazer como antigamente, quando você descobria as coisas quando ia ao cinema, quando via o filme. Hoje em dia, a Marvel tenta fazer isso e muitas vezes o ator não sabe o que vai rolar exatamente na cena”, revelou, dando a deixa para o assessor levantar e encerrar mais uma vez a sessão de entrevistas.
Os dois se despedem, o estrondo da porta fechando chega de novo. Eu tinha quase certeza que esse era o fim, mas não. “Ainda temos Nebula, Feiticeira e Mantis. Depois os diretores. O problema é que teremos que esperar um pouco mais. Tudo bem?“. Que pergunta, amigo!