Esta é uma história de resistência. Não é de hoje que a arte e a cultura são sinônimos de luta e, na conjuntura atual, está cada vez mais difícil promovê-las. Não é à toa que a Casa da Arte - a modesta galeria localizada na Garça Torta - reuniu 20 artistas para iniciar a pauta anual de exposições de 2019, revelando à comunidade a intensidade e pluralidade da arte alagoana. 

Intitulada de "1ª Coletiva Edna Constant de Artes Visuais", a mostra terá abertura na próxima terça-feira (30), às 19h. A data escolhida é especial, afinal, caso ainda estivesse viva, dona Edna, a idealizadora da casa, estaria completando 86 anos.

Localizada na rota do turismo do Litoral Norte de Maceió, a pequena casa de taipa centenária, de N°185, destaca-se das demais da Rua São Pedro, no famoso bairro da capital, classificado pelos moradores como "o paraíso das águas" - Garça Torta. 

Talvez seja a arquitetura simples ou mesmo as cores convidativas que ressaltam o charme da galeria. Mas, o certo é que o conteúdo da 'casa' é ainda mais interessante do que todo esse conjunto citado. Há 36 anos, a galeria é agente de transformação social e democratização da arte. 

Dona Edna, a homenageada, sempre esteve à frente do processo curatorial da galeria, afinal, além de ter sido uma grande entusiasta da arte, ela idealizou, concretizou e cuidou com muito esmero da galeria, que hoje tem um rico acervo e já foi 'morada' de mais de 80 exposições temporárias. 

No entanto, em julho de 2018, a Casa da Arte perdeu o seu maior bem. Dona Edna faleceu aos 85 anos, deixando o legado para o seus filhos, o também artista plástico, Tito Mendes e a médica, Anna Constant. 

Hoje, Tito está à frente das organizações da casa e, em especial, assinando a curadoria da "1ª Coletiva Edna Constant de Artes Visuais", que é a primeira exposição a ser lançada após o falecimento de dona Edna. Desde então, a galeria sempre esteve aberta com uma mostra do acervo da casa, mas, só agora, está recebendo uma 'repaginada'.

"É incrível perceber o carinho que as pessoas têm pela casa. A minha mãe construiu algo muito sólido e prazeroso. Hoje, sei que dona Edna me deu à luz duas vezes: uma naturalmente, quando eu nasci, e a outra quando ela me deu a oportunidade de me colocar dentro de uma casa rodeada por arte. É como se, agora, é ela estivesse dizendo:: 'toma luz de novo'", disse o artista, referindo-se à continuidade do legado de sua mãe. 

A casa sempre foi um espaço democrático, nunca cobrou dos visitantes, nem dos artistas para a promoção da arte. O acesso é gratuito e a manutenção da casa é custeada pela família de dona Edna. Além de receber obras de artistas famosos, sempre deu espaço para o novo, abraçando novatos na área e, inclusive, incentivando a populares da região ao contato com a arte e a cultura.

"Em 1997, minha mãe iniciou um trabalho social com a comunidade da Garça. Nessa época, despertamos para o fato de que seria interessante que a população local entrasse na galeria não apenas como espectadora, mas, sim, como agentes de transformação da própria comunidade. Ou seja, deixaram de ser coadjuvantes e começaram a participar diretamente das atividades da casa", informou Tito, lembrando que, à época, produziram diversas oficinas artísticas com os moradores da Garça, o que resultou em exposição. 

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