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MTB inaugura exposição com preciosidades da arte popular

Por Ascom UFAL 17/12/2019 18h06
MTB inaugura exposição com preciosidades da arte popular

Ao longo de décadas, em andanças pelo interior nordestino, sempre acompanhado das câmeras, Celso foi compondo o que hoje é uma coleção de peças dos mais representativos artistas populares, a exemplo de Manoel da Marinheira, Fernando Rodrigues, Antônio de Dedé, Véio e Zé do Chalé. É parte dessa coleção, que o visitante poderá conferir na mostra Pepitas populares – coleção Celso Brandão, aberta na próxima quinta-feira (19), às 19h, no Museu Théo Brandão (MTB). Registros fotográficos que Celso fez nessas ocasiões também estarão presentes, contando uma história de encontros artísticos.

Fernando Rodrigues, Manoel da Marinheira, Aberaldo, Antônio de Dedé e Clemilton são alguns dos alagoanos que têm esculturas na mostra. Do lado de Sergipe, as esculturas selecionadas são de Véio e Zé do Chalé. As pinturas são dos artistas Vicente Ferreira e Maurício de Dedé. 

A maior sala do espaço das exposições temporárias é dedicada aos artistas da Ilha do Ferro, com destaque para Fernando Rodrigues, que deu início a toda efervescência cultural do povoado pertencente ao município de Pão de Açúcar. O universo da arte popular também poderá ser visto nos vídeos de Celso, que serão exibidos durante a abertura da mostra. Na ocasião, a Camerata Acadêmica da ETA vai apresentar o recital Folguedos em Corda.

Dispostos na mostra, textos sobre o colecionador expõem sua relação com as peças/artistas e a importância da coleção e dos registros visuais para a arte popular. Os textos são assinados por alguns dos amigos muito próximos de Celso e da coleção: a antropóloga Rachel Rocha, a professora Janaína Ávila, a jornalista Cíntia Ribeiro, o artista visual Francisco Oiticica e o poeta Fernando Fiúza.

Em meio a tantas obras adquiridas por Celso, a seleção de peças para a mostra teve critérios distintos. “A escolha das obras partiu do olhar sensível do colecionador. Pepitas Populares abre possibilidades de leitura do conjunto de obras da coleção. Longe de expressar sua totalidade, propõe um recorte geográfico e afetivo”, escreveu a curadora Cármen Lúcia Dantas no texto que apresenta a exposição.

As fotografias de Celso selecionadas para a mostra revelam os lugares, as obras e os artistas da exposição, compondo um diálogo visual com as peças, o que constrói uma narrativa para o visitante. São imagens históricas captadas por ele, como a primeira vez que o fotógrafo foi à Ilha do Ferro e conheceu Fernando Rodrigues.

Esse perambular cultural de Celso em busca de preciosidades guardadas nos lugarejos do interior alagoano começou quando o fotógrafo e cineasta ainda era estudante de Comunicação Visual em Pernambuco. Nas férias de julho, o então universitário foi à Água Branca e Delmiro Gouveia e começou a fotografar arte popular. “Eu já gostava porque meu pai comprava essas peças. Com a viagem, meu interesse aumentou. Comecei a adquirir as peças pela fotografia e pelo filme. Sempre que fotografava, comprava ou ganhava dos artistas. Comprar também foi uma forma de agradecer ao artista que esteve colaborando com o meu trabalho”, disse Celso, que ainda na década de 1970, teve suas fotografias ilustrando o livro Alagoas: roteiro cultural e turístico.

Outro estímulo para colecionar foi o trabalho no Museu Théo Brandão, que surgiu como consequência dos registros realizados por Celso. “Comecei a fazer documentários com o tema da cultura popular. Meu segundo filme já foi sobre uma produção familiar de máscaras de carnaval”, lembra. Nessa época, Théo Brandão entrou em contato com Celso e realizou uma projeção de seus filmes no antigo endereço do Museu. Posteriormente, já com o MTB na localização atual, Celso começou a trabalhar na instituição com documentação visual (fotografia e cinema). Foi um período que ele viajou muito ao interior, tanto por causa do trabalho no Museu quanto por iniciativa própria.

Além ter realizado várias exposições pelo país e exterior, é autor de livros de fotografias sobre cultura popular. Um deles, intitulado Caixa preta foi lançado no Brasil e na França e teve edição exclusiva para colecionadores. Merece destaque também a obra Ilha do Ferro. Imagens de sua autoria ilustram os catálogos A casa da gente alagoana (sobre o MTB), Arte popular: a invenção da terra (sobre a coleção de Tânia Maya Pedrosa) e o livro Carrapicho: cerâmica e arte, de Cármen Lúcia Dantas, entre outras publicações.

O trabalho de documentar arte popular com a fotografia e o cinema foi responsável por divulgar a produção de artistas muitas vezes desconhecidos ou pouco conhecidos. Manoel da Marinheira foi um dos que teve a sua arte impulsionada pelas imagens captadas por Celso. A relação com os artistas serviu também de incentivo para a continuação do ofício, já que em algumas situações, não confeccionava mais peças por falta de demanda. Foi o caso de Zé do Chalé. “Ele havia parado de produzir porque as pessoas só compravam colher de pau”, lembra o colecionador.

Carmen Lúcia Dantas comentou essa relação desenvolvida com a arte popular. “Esse laço com os artistas foi um incentivo, uma ponte. Ele não tem o sentimento de posse de colecionador em relação à peça, e sim uma relação afetuosa com a obra e o artista. Celso é um farol que ilumina atalhos”, disse Cármen.

O projeto expográfico da mostra contou com a colaboração da professora Thaisa Sampaio e de alunos do curso de Design da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da (FAU/Ufal). Coube a Hildenia Oliveira, museóloga do MTB, a concepção e montagem da exposição. A mostra ficará aberta ao público até 29 de fevereiro, durante o horário de visitação: de terça a sexta, das 9h às 17h, e aos sábados, das 12h às 17h. 

SERVIÇO

O quê: abertura da exposição "Pepitas populares – coleção Celso Brandão"

Onde: Museu Théo Brandão

Quando: 19 de dezembro

Horário: 19h

Entrada: gratuita.