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Carnaval, luta e resistência do Abí Axé Egbé no Sertão Alagoano
É por meio da fusão de ensino, pesquisa e extensão que o Abí Axé Egbé, equipamento cultural da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), tem conseguido romper grandes barreiras no interior do Estado. Fundado em novembro de 2013, no Campus Sertão, o projeto promove o ensino-aprendizagem sobre história e cultura afro-brasileira e africana através de oficinas de dança, música e estética negra. Suas ações político-pedagógicas têm conseguido sensibilizar diferentes sujeitos na luta contra o racismo, machismo, homofobia e contra a intolerância religiosa que sofrem os cultos afro-brasileiros.
Idealizado e dirigido pelo professor do curso de História, Gustavo Gomes, o equipamento cultural, que atualmente é composto por 45 integrantes, entre bolsistas e voluntários de todas as faixas etárias, enfrentou muita resistência tanto da comunidade como dos próprios colegas acadêmicos. “Nosso foco de discussão é a negritude, é a identidade negra, é falar sobre o racismo. Mas as pessoas confundiram muito no começo, pois achavam que a gente era um grupo religioso, o que não é. Discutir identidade negra no sertão é difícil, porque o racismo é muito forte na região e as pessoas não admitem serem racistas”, afirma o professor.
Abí Axé Egbé tem alcançado grandes resultados e projeções em nível nacional, uma das ferramentas que favorecem essa divulgação são as redes sociais. “Nós conseguimos ao longo dos anos muitos seguidores no YouTube, Instagram e Facebook. No YouTube temos vídeos com mais de 500 mil visualizações, inclusive está disponível nosso documentário e várias apresentações artísticas”, enfatizou Gustavo.
O grupo recebe muitos convites para apresentações, mas de acordo com Gustavo, por conta da logística necessária, grande parte deles são inviabilizados: “Temos muitos convites para apresentações em outros estados, mas é muito difícil locomover, hospedar e alimentar um grupo tão numeroso, então não conseguimos ir para todos os lugares para os quais somos convidados. Mas temos no nosso currículo apresentações no carnaval de Recife, participação no show da sambista Karynna Spinelli e no encontro de afoxés de Pernambuco; apresentações em municípios de todas as mesorregiões do estado de Alagoas, bem como também nos sertões baiano e sergipano. O evento mais recente que participamos em nível nacional foi na cidade de Palmas, no Tocantins, durante a Semana Nacional de Direitos Humanos. Nosso grupo fez apresentações artísticas, realizou oficinas, palestras, reunião com a pró-reitoria de extensão da Unitins e deu entrevistas para a TV local”.
É nesse contexto de luta política e pedagógica que o grupo aposta nos festejos carnavalescos para valorizar ainda mais as expressões artísticas, a luta contra o racismo e contra a intolerância religiosa. Durante as apresentações de carnaval o Abí Axé Egbé torna-se um afoxé, expressão artística e carnavalesca que surgiu no Brasil no final do século XIX, com grandes cortejos, sobretudo, na Bahia. “ O afoxé é o lugar da negritude se expressar, valorizar sua ancestralidade e também da identidade religiosa. Desde o surgimento do movimento negro contemporâneo, no final da década de 1970, os afoxés são também uma forma de conscientizar sobre a importância de denunciar o racismo e lutar pela equidade social. Eles trazem um protesto político para cena carnavalesca, politizam a festa, expressam uma ética e estética que reelaboram o projeto da sociedade nacional”, explica o professor Gustavo.
Programação de Carnaval
Nas semanas que antecedem a programação de carnaval em Delmiro Gouveia, o Abí Axé Egbé realiza dois ensaios abertos no centro da cidade. O primeiro ocorre no dia 14 de fevereiro, das 19 horas às 22 horas, em frente do Miraburguer, próximo ao Banco do Brasil. O segundo, que será em parceria com grupos carnavalescos tradicionais do município, ocorrerá no dia 20, das 18 horas às 22 horas, em frente da antiga lojinha da fábrica. Já o cortejo oficial, que abre o carnaval de Delmiro Gouveia, será realizado no sábado, 22 de fevereiro, com concentração a partir das 16 horas, na rua José de Alencar, nº 76. O cortejo encerra-se com show no palco do correto, em parceria com o bloco Cordel. Mais informações nas redes sociais: @abiaxeegbe_oficial.