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Seleção de peças de todo o mundo para ver na internet

Por O Globo 07/04/2020 10h10
Seleção de peças de todo o mundo para ver na internet
Foto: Reprodução

O teatro é a arte da presença, da reunião entre atores e espectadores num único espaço. Assistir a um espetáculo filmado não é o mesmo que ao vivo. Mas, nestes tempos de isolamento social dos que podem ficar em casa, é mais que louvável a iniciativa de artistas que vêm disponibilizando links de encenações para serem vistas via internet. Além disso, existem registros de montagens que, pela qualidade alcançada, podem até ser considerados como obras autônomas. Entre espetáculos brasileiros e estrangeiros, alguns trabalhos importantes merecem destaque.

Théâtre du Soleil

A companhia dirigida por Ariane Mnouchkine disponibilizou acesso a espetáculos, filmes e entrevistas. Fundado em 1964 e sediado na Cartoucherie de Vincennes, nos arredores de Paris, desde 1970, o Théâtre du Soleil caminha na contramão dos códigos realista e psicológico, investe em trabalho físico vigoroso (com destaque para o expressivo uso de máscaras), valoriza uma cena ritualizada, oscila entre a produção de textos próprios (com dramaturgia assinada por Hélène Cixous) e a montagem de outros já existentes e reúne atores de diferentes partes do mundo. Entre as encenações que podem ser conferidas neste instante estão “1789” — uma das mais importantes da companhia, realizada em 1970, que evoca o contexto da Revolução Francesa numa estrutura em que os atores surgem, em determinados momentos, misturados em meio ao público — e “Os náufragos do Louca Esperança” — criação de 2010, concebida a partir de romance póstumo de Júlio Verne e apresentada no Brasil, que remete à conexão de Mnouchkine com o cinema. Esse elo é evidenciado ainda através da realização de filmes como “Molière” (1978), que também está à disposição do espectador. Todo esse material está liberado no site da companhia, mas sem legendas em português.

Comédie-Française

Prestigiada e lendária instituição francesa fundada por decreto do rei Luís XIV em 1680, a Comédie-Française está permitindo aos espectadores de teatro acesso a seu repertório. Mas, em vez de disponibilizar os espetáculos, oferece uma programação dia a dia, com horários marcados, ainda que sujeita a eventuais modificações. Para esta semana foram agendadas as exibições de encenações de textos como “O despertar da primavera”, de Frank Wedekind, “Bérénice”, de Jean Racine, e “Cândido”, de Voltaire. Além disso, é possível ouvir trechos de entrevistas com artistas como Dominique Blanc e Christophe Honoré. Toda a programação está no site da Comédie-Française, também sem legendas em português.

The Wooster Group

Fundado em 1975 por Spalding Gray e Elizabeth LeCompte, o The Wooster Group investiu, durante certo tempo, em trabalhos de natureza autobiográfica apresentados pelo próprio Gray, que morreu em 2004. Neste momento, o espectador tem a possibilidade de assistir a um espetáculo atravessado por linguagem diversa: “Hamlet”.

 A encenação de LeCompte se afasta totalmente de uma leitura tradicional da célebre peça de William Shakespeare. Por meio de aparato multimídia, o espetáculo propõe uma interação com a produção dirigida por John Gielgud, na Broadway, em 1964. Esta singular versão de “Hamlet”, que sinaliza a importância da interface entre teatro e cinema no The Wooster Group, pode ser conferida gratuitamente — mas apenas até esta terça-feira (7/4) e sem legendas em português — no blog da companhia.

 

Companhias de teatro de São Paulo

O jornalista e cineasta Evaldo Mocarzel dirigiu filmes centrados em companhias de teatro que vêm marcando a cena paulistana nas últimas décadas. Entre os coletivos estão o Teatro da Vertigem, conhecido pela realização de trabalhos em espaços não convencionais e densos, a exemplo dos escolhidos para a Trilogia Bíblica (igreja, hospital, presídio) e para “BR 3” (o Rio Tietê); Grupo XIX, voltado para o aproveitamento da arquitetura histórica como espaço cênico, a exemplo de “Hysteria”, apresentado em edifícios antigos; Os Satyros, um dos responsáveis pela revitalização da Praça Roosevelt; e Os Fofos Encenam, companhia que pesquisa a comicidade e o universo do circo-teatro. Os filmes sobre cada uma das companhias — tanto registros das montagens quanto documentações dos processos de criação — estão reunidos no blog criado pelo diretor.

 

Grupo Código

Fundada em 2005 e sediada em Japeri, a companhia, apesar de ter se tornado uma das mais importantes da Baixada Fluminense, enfrenta muitas dificuldades para se manter atuante. Neste momento, disponibiliza no YouTube o espetáculo “Naquele instante”, realizado em 2014, sob a direção de Bruno W. Medsta, concebido a partir das memórias de infância e adolescência dos atores da montagem, apresentada bem próxima ao público.

Complexo Duplo

No canal do Vimeo do Complexo Duplo, o espectador pode assistir a alguns espetáculos do coletivo. Trabalho filiado à vertente do teatro-documentário, “Há mais futuro que passado”, montagem dirigida por Daniele Avila Small, lançou uma pergunta provocativa: qual é o lugar da mulher latino-americana na história da arte? O diretor Felipe Vidal também liberou o acesso à Trilogia Paramusical formada por “Contra o vento (Um musicaos)” — que partiu de um diário fictício encontrado nas ruínas do Solar da Fossa para evocar a atmosfera do final dos anos 1960 —, “Cabeça (Um documentário cênico)” — que, movido por uma homenagem pessoal ao álbum “Cabeça Dinossauro”, da banda Titãs, abordou a história brasileira das últimas décadas — e “Catarse (Uma para-ópera)” — trabalho que buscou inspiração num fato histórico ocorrido em 1518, em Estrasburgo (uma mulher começou a dançar sozinha e sem música no meio da rua, gerando uma epidemia de dança).