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13 clássicos da literatura LGBTQI+ para ler

Por Vogue 26/04/2020 15h03
13 clássicos da literatura LGBTQI+ para ler
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 A história da literatura LGBT é longa. Da poeta grega Sappho ao dramaturgo irlandês Oscar Wilde, muitos escritores abordaram as dores e delícias da experiência LGBTQ+ com grande profundidade e imaginação. Isso nem sempre foi fácil; frequentemente, é uma história lida em lacunas e significado implícito, com obstruções àqueles que descrevem as nuances da sexualidade e da identidade de gênero sem censura. Felizmente, isso vem mudando lentamente, e o agora, o cenário é outro.

De fato, esta lista dos 13 clássicos da literatura LGBTQI+ oferece apenas alguns dos livros que poderiam ser escolhidos. Para que fique mais inclusiva, há outras ausências notáveis. E.M. Forster, Ali Smith, Audre Lorde, Christopher Isherwood e vários outros romancistas não estão nessa lista, mas todos escreveram ficções fantásticas que ajudaram a moldar e pluralizar as histórias que agora compõem um cânone literário gay. Pense nessas sugestões como um ponto de partida - uma grupo de livros arrojados e brilhantes, perfeitos para serem escolhidos a qualquer momento, deixando muito mais para se descobrir quando tudo isso for lido.

1. O Quarto de Giovanni, de James Baldwin (1956)

O Quarto de Giovanni condensa uma incrível variedade de emoções dentro do seu tamanho escasso. Detalhando a relação complicada entre o americano David e o barman italiano Giovanni, o primeiro narra a história de seu tempo juntos durante uma noite que conduz "à manhã mais terrível da minha vida". Esta manhã terrível, descobrimos depois, marca o dia da execução de Giovanni. Com isso, David relata as provações e os tumultos do caso amoroso deles e, ao fazer isso, esboça um retrato complexo de uma masculinidade em guerra consigo mesmo. É um romance surpreendentemente vívido, que luta não apenas com os contornos inebriantes do desejo, mas também com as conseqüências perturbadoras da vergonha e da auto-aversão.

2. A Linha da Beleza, de Alan Hollinghurst (2004)

Nick Guest deixou a universidade e o verão está a todo vapor. Morando na casa em Notting Hill de um amigo de escola rico cujo pai é um político conservador, o livro começa com a segunda vitória eleitoral de Margaret Thatcher em 1983 e entrelaça habilmente questões sobre política, classe e sexo. No início, a sexualidade de Nick fica em grande parte oculta do mundo da classe alta para o qual ele entra gradualmente - tendo encontros em jardins fechados e atrás de portas fechadas. Mas com o passar do tempo e o aumento da crise da Aids, essas coisas não se tornam mais possíveis. Focando-se no fascínio vazio da riqueza e o vácuo moral do governo de Thatcher, o romance de Hollinghurst é suntuoso e gradualmente sombrio.

3. As laranjas não são o único fruto de Jeanette Winterson (1985)

“As pessoas gostam de separar as histórias que não são fatos das histórias que são fatos. Elas fazem isso a fim de que saibam no que acreditar e no que não acreditar.” A estreia de Jeanette Winterson, enraizada nas suas próprias experiências de ter crescido lésbica em meio a uma família adotiva pentecostal, está estruturada em torno dos textos religiosos que fizeram parte da criação da protagonista Jeanette. Investigando o que acontece quando as narrativas esperadas - tanto teológicas quanto pessoais - são rejeitadas, a voz de Winterson é fresca, surpreendente e engraçada. É um romance brilhante, que revelam as consequências que surgem de uma mãe devota e claustrofóbica, e uma instituição que pune um amor que mal começava com crueldade. Para uma continuação, experimente a autobiografia de Winterson de 2011: Por que ser feliz quando se pode ser normal?

4. Orlando de Virginia Woolf (1928)

Alguns romances são diálogos com perguntas difíceis. Outros pretendem capturar uma história particular: cultural, coletiva, individual. Alguns são cartas de amor. Orlando é tudo isso. Inspirado e escrito para a magnífica e imponente Vita Sackville-West, com quem Virginia Woolf teve um longo relacionamento, ele acompanha a protagonista Vita ao longo de três séculos de história, várias ligações românticas, uma troca de gênero, e um projeto poético bastante longo. É uma leitura vertiginosa, cheia de humor e carinho, além de uma análise sobre gênero, sexualidade, poder e processo artístico.

5. Paul Takes The Form of a Mortal Girl, de Andrea Lawlor (2017)

O que aconteceria se você transplantasse Orlando para 1993 e adicionasse dezenas de cenas de sexo explícitas? O resultado possivelmente iria se parecer com o  Paul Takes The Form of a Mortal Girl (Paul assume a forma de uma garota mortal, tradução livre) de Andrea Lawlor. Este romance estridente acompanha as aventuras de Paulo - também conhecido como Polly - cujo corpo é maleável, metamórfico e com fome incessante de prazer. Capaz de se transformar fisicamente a qualquer hora, Paul se deleita com as possibilidades sexuais e românticas oferecidas pelos vários ajustes em seu rosto, altura, tronco, órgãos genitais e muito mais. Escorregando entre disfarces e identidades, o polimorfo Paul oferece um olhar lúcido sobre a identidade trans - tão divertida quanto séria.

6. Dancer From The Dance, de Andrew Holleran (1978)

O livro de Holleran - apelidado de 'O Grande Gatsby Gay' - leva o título de um poema do Yeats, que diz: “O body swayed to music, O brightening glance / How can we know the dancer from the dance?” (Ó corpo que balança com a música, ó olhar brilhante/Como podemos conhecer o dançarino pela dança?) Essa é uma referência adequada, dada a preocupação do livro com a observação, bem como as intimidades e distâncias físicas encontradas num redemoinho social. Situado em Nova York, na era pré-aids, Holleran captura brilhantemente uma geração de homens que possuem um hedonismo interminável, enquanto o desejo, a solidão e o ânsia inquieta de amar continuamente entram em conflito.

7. A Cor Púrpura, de Alice Walker (1982)

Uma narrativa devastadora, mas, em última análise, esperançosa, contada através de uma série de cartas da protagonista Celie a Deus e à sua irmã Nettie, Alice Walker ganhou o Prêmio Pulitzer em 1983 pelo livro A Cor Púrpura. Detalhando a dura realidade do abuso, misoginia e racismo numa Geórgia rural, o romance de Walker é uma acusação condenatória da opressão institucionalizada e culturalmente codificada, e o tremendo potencial encontrado na reivindicação de uma vida. Com a introdução da cantora de blues Shug Avery, ele também se transforma numa história de amor - em que o prazer e a paixão são recíprocos, e a solidariedade feminina proporciona um tremendo consolo.

8. Carol, de Patricia Highsmith (1952)

Publicado sob o pseudônimo de "Claire Morgan", o livro intitulado anteriormente de The Price of Salt (O Preço do Sal, tradução livre) rapidamente se tornou um sucesso incontrolável. Inspirada por uma mulher "loira" vestindo um casaco de pele de vison que a fazia se sentir "estranha e com tonturas" enquanto trabalhava na Macy's (além de ser influenciada pelo relacionamento com a herdeira Virginia Kent Catherwood), Highsmith evocou uma história de amor carregada de erotismo. Documentando a relação que se desenrola entre Therese, de 19 anos, e Carol, de trinta e poucos, o livro é uma história firmemente observada em que o desejo fervilha e as constrições da vida familiar nuclear sufocam. Na época, ele foi elogiado pela sugestão deixada em aberto sobre um futuro feliz. Nos últimos anos, ele foi renascido graças ao elegante filme de Todd Haynes.

9. On Earth We're Briefly Gorgeous, de Ocean Vuong (2019)

Linguagem, luxúria, vício e trauma herdado se fundem na estreia de Ocean Vuong. Escrito na forma de uma carta de um filho para uma mãe que não pode lê-la, Vuong combina a precisão e o lirismo de sua poesia com as variadas formas de intimidade que existem entre amantes, entre pais e filhos e entre os doentes e os saudáveis. Sendo criado por uma mãe e avó vietnamitas com marcas profundas da guerra e da violência, Little Dog, o narrador do romance, fala sobre a sobrevivência com uma intensidade minuciosa. A combinação de memórias fragmentadas da infância com um relato sobre o seu primeiro amor conturbado - Trevor, o filho de 16 anos de um fazendeiro de tabaco - a narrativa de Vuong sobre nascer gay e sobre fugir é sensível e comovente.

10. America is Not the Heart, de Elaine Castillo (2018)

Um herói ou heroína pode ter vários nomes. Chamada de Geronima De Vera, nas Filipinas, ela é conhecida como Nimang. Mas, ao chegar a Milpitas, perto de São Francisco, sua sobrinha de sete anos a apelida como Heroína. É um apelido tanto inquietante quanto adequado para uma mulher cuja vida deu várias voltas distintas, desde passar por uma criação rica, uma década como médica no Novo Exército Popular, dois anos de tortura e viver uma nova história nos EUA. Chegando com polegares quebrados e o corpo frágil, as afeições da heroína se desdobram lentamente. O livro de Castillo é extenso e enérgico: afiado nos seus interrogatórios sobre linguagem, imigração e classe, e corajoso na representação da abordagem franca e não sentimental da Heroína sobre sexo e amor - que tem a vida complicada e transformada por Rosalyn, a esteticista do bairro.

11. Stone Butch Blues, de Leslie Feinberg (1993)

"A lei dizia que precisávamos usar três peças de roupa feminina. Nunca trocávamos de roupa. Nem nossas irmãs drag queens. Sabíamos, e você também, o que estava por vir. Precisávamos arregaçar nossas mangas, pentear nossos cabelos para trás, a fim de sobrevivermos com isso.” O romance de Leslie Feinberg é uma representação intensa e incisiva da experiência lésbica e trans. Explorando a vida de Jess Goldberg, uma lésbica “caminhoneira” de classe trabalhadora que cresceu na cidade de Buffalo dos anos 50 antes de se mudar para Nova York, Feinberg lança luz sobre a horrível brutalidade policial e as redes LGBT de comunidade e assistência, e pergunta qual o significado de (e o que é necessário para) resistir.

12. Under the Udala Trees, de Chinelo Okparanta (2015)

Em 2014, o então presidente da Nigéria, Goodluck Jonathan, assinou a Lei de Proibição do Casamento entre Pessoas do Mesmo Sexo com sanções incrivelmente sérias, abrangendo desde a prisão até a morte. Esse fato sombrio molda a nota final do autor do romance comovente e escrito de forma moderada por Chinelo Okparanta. Um conto sobre a maioridade ocorrendo no contexto da guerra civil nigeriana, ele se concentra numa jovem da etnia Igbo chamada Ijeoma, que luta para reconciliar fé, família e sua sexualidade. Aceitando o fato desagradável de ser lésbica em uma cultura hostil à homossexualidade, Okparanta caminha habilmente entre resignação e revelação - sendo incansável em seu foco aos horrores da guerra e do preconceito profundo, oferecendo uma nota frágil de esperança.

13. After The Parade, de Lori Ostlund (2015)

Após Aaron Englund deixar seu parceiro mais velho depois de 20 anos, sua vida se acumula na traseira de um caminhão, e o passado constantemente se infiltra no futuro que escolhe. Ao mudar-se para São Francisco, lembranças perturbadoras da infância se misturam com as análises de seus momentos com Walter - um homem calmo e metódico que desejava "servir como benfeitor dos desejos e ambições de Aaron, e assim vincular Aaron a ele." Ao se libertar de tudo que o prendia, Aaron encontra espaço para desvendar uma complexa rede de trauma e perda. After The Parade (Depois da Parada, tradução livre) é um livro incrivelmente escrito, perito na sua compreensão de amor e alienação.