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Jogadoras da seleção brasileira de voleibol feminino fazem nota de repúdio à CBV

Por United For Volley 20/03/2017 08h08
Jogadoras da seleção brasileira de voleibol feminino fazem nota de repúdio à CBV
Foto: FIVB

Na manhã desta segunda-feira, integrantes da seleção brasileira divulgaram uma nota de repúdio para a CBV (Confederação Brasileira de Voleibol) criticando o ranking criado pela entidade. No texto, as atletas pedem o fim do ranqueamento que causa impasse na contratação de muitas delas e prejudica a carreira de ambas.

O grupo que se manifestou através de suas redes sociais é formado por campeãs olímpicas e atletas que possuem pontuação máxima no ranking, ou seja, 7 estrelas. Segundo elas, os argumentos da CBV para criar e manter o ranking não fazem sentido e é totalmente contraditório ao resultado final dos últimos anos da Superliga Feminina. A CBV afirma que a classificação é necessária para manter o nível equilibrado na competição, mas isso não tem ocorrido nas últimas edições, que é vencido pela equipe Rexona/Sesc há 4 anos consecutivos.

A nota de repúdio tem como objetivo fazer com que a Confederação mude de ideia e avalie melhor a situação das atletas, que jogam com a incerteza de um contrato garantido na temporada seguinte ou até mesmo de não ter proposta. Além disso, os clubes que lutam pelo direito de obter mais jogadoras de alto nível em seu elenco conta com grande apoio ao esporte vindo de seus patrocinadores, que estão sempre dispostos a investir, mas são barrados pela pontuação do ranking, sendo obrigados a fechar o elenco com o nível mediano.

Confira na íntegra as palavras publicadas pelas atletas:

NOTA DE REPÚDIO

Nós, Danielle Rodrigues Lins, Fabiana Marcelino Claudino, Fernanda Garay Rodrigues, Gabriela Braga Guimarães, Jaqueline Maria Pereira de Carvalho Endres, Natália Zílio Pereira, Sheilla Castro de Paula Blassioli, Tandara Alves Caixeta e Thaisa Daher Pallesi, atletas brasileiras de voleibol, prejudicadas pelo ranking adotado pela CBV – Confederação Brasileira de Voleibol – repudiamos o regulamento do ranking votado em 14/03/2017 e imposto para a temporada 2017/2018.

O ranking, que já foi alvo de críticas em diversas oportunidades, é uma anomalia que só existe no Brasil, sob o pretexto de se criar equilíbrio na competição. Porém, nunca houve equilíbrio, basta verificar as poucas mudanças nos vencedores da Superliga dos últimos anos. O problema do voleibol brasileiro é estrutural e não adianta tentar corrigi-lo com um ranking que cria um equilíbrio artificial e teórico.

O ranking sempre criou problemas às atletas, principalmente àquelas com maior pontuação. As limitações impostas pelo regulamento, que por si só, vão de encontro ao interesse das atletas, que são verdadeiras protagonistas dos eventos esportivos, ainda são inconstitucionais, tendo em vista que impõem restrições à liberdade de trabalho das atletas, ao direito de escolha de cada uma, ao livre mercado e força a redução dos salários, o que é inconcebível. É importante lembrar, também, e lamentar, que a opinião das atletas nunca foi ouvida, sequer levada em consideração nas decisões que envolvem o ranking.

A própria CBV criou a chamada “Comissão de Atletas”, mas esta comissão ligada à própria instituição tem apenas um voto na decisão do ranking. Não é razoável. Se há cerca de 10 clubes votantes, as atletas nunca terão chance contra os demais. Repetimos: não é razoável. Quando a vontade das atletas prevalecerá? Da forma como as coisas estão, jamais!

A situação ficará ainda pior na temporada 2017/2018, pois tomamos conhecimento que o novo formato do ranking pontuará apenas nove atletas, as mesmas nove que são pontuadas com sete pontos (pontuação máxima) na temporada atual. Apenas nós estaremos sujeitas às restrições. Nós não poderemos ser contratadas livremente pelas equipes, pois cada time poderá ter apenas duas das nove, ao contrário das demais atletas que serão livremente escolhidas, o que configura clara discriminação e desrespeito.

Se assim as coisas permanecerem, nós seremos prejudicadas sob o frágil e teórico argumento de “equilíbrio do campeonato”. Nós, que defendemos a Seleção Brasileira, que nos destacamos, agora seremos punidas por isso. Não é razoável. Aliás, não há lógica nisso. Queremos ser tratadas de forma igual, sob pena de nos socorrermos ao Poder Judiciário, tendo em vista a clara e manifesta afronta a princípios constitucionais.

Alem disto, as estrangeiras não serão pontuadas, o que diminui ainda mais as opções das nove brasileiras discriminadas. Vale destacar que em 14/03/2017 a própria CBV divulgou a “Seleção da Superliga” e nela há três estrangeiras: Destinee Hooker, Alexandra Klineman e Branda Castillo. As três são atletas de alto nível e serão escolhidas livremente pelas equipes para a próxima temporada, ao contrário das nove brasileiras pontuadas. Ademais, nesta “Seleção da Superliga” há apenas uma atleta das nove presentes no ranking. Isto mostra que o sistema do ranking não tem critérios claros e não cumpre sua suposta função.

Diante do exposto, exigimos que a CBV tome providência no sentido de extinguir o ranking e parar de interferir no direito de escolha de cada atleta. As atletas precisam ter uma voz independente da confederação e ter peso igual nas votações do regulamento. Se de um lado os clubes pagam os salários, de outro são as atletas dão o espetáculo e atraem o público.

Aguardamos um posicionamento da CBV em até 5 (cinco) dias corridos. Estamos abertas a discutir o assunto para resolver o impasse.

Danielle Rodrigues Lins
Fabiana Marcelino Claudino
Fernanda Garay Rodrigues
Gabriela Braga Guimarães
Jaqueline Maria Pereira de Carvalho Endres
Natália Zílio Pereira
Sheilla Castro de Paula Blassioli
Tandara Alves Caixeta
Thaisa Daher Pallesi

São Paulo, 16 de março de 2017.