Esportes

Grupos difundem rapel em Alagoas

Por Lucas França com Tribuna Independe 30/03/2019 18h06
Grupos difundem rapel em Alagoas
Quem deseja fazer a prática deve procurar um grupo ou instrutor qualificado (Foto: Edilson Omena)

Rapel é uma palavra francesa que significa trazer, recuperar, voltar e refere-se à técnica aplicada em descida vertical em corda por grupos de operações, esportistas e pessoas comuns do mundo inteiro. Ainda não existe um consenso entre os especialistas ou praticantes se a modalidade é um esporte ou apenas uma técnica. Apesar da maioria garantir que se trata de um esporte e não somente uma simples técnica.

Esporte ou não, a sensação de adrenalina que o ‘rapelista’ tem no momento da descida é indescritível segundo os próprios instrutores e praticantes. No Brasil, a palavra rapel foi usada para batizar a ‘técnica’ de descida por cordas, praticada em montanhismo, escalada, canyoning e em outras atividades afins. Basicamente três esportes utilizam o rapel: a escalada, a espeleologia e o canyoning. Aqui em Alagoas, a modalidade também vem ganhando adeptos.

A equipe de reportagem da Tribuna Independente encarou uma viagem de mais de 100km de distância – em média – entre a capital alagoana e o município de Viçosa, na Zona da Mata, para conhecer um pouco mais sobre o rapel – distância somada acrescentando os quilômetros percorridos até a Cachoeira do Povoado Anel onde a modalidade está sendo difundida.

O professor de história, bombeiro civil e também instrutor de rapel Luiz Carlos afirma que é uma modalidade esportiva. “Há cinco anos realizo treinos constantes e há oito meses utilizo a prática formalmente como empresa aqui em Viçosa. Somos uma equipe de quatro instrutores, incluindo duas mulheres. Nossa meta é difundir o esporte na região”, esclarece, reforçando que o esporte, além da finalidade da simples prática, também é usado em salvamento de vítimas em altura.

Luiz explica ainda que a prática é simples, mas precisa de alguns cuidados. “É preciso que o praticante domine a gravidade, ele fica pendurado em uma corda com um freio que controla a velocidade de queda. Quando o rapelista quer parar de descer, ele prende a corda no freio – uma simples peça metálica que parece um oito, e em seguida vai descendo.”

Mas, como em qualquer outra atividade, há alguns riscos. Os instrutores orientam que quem deseja fazer a prática deve procurar um grupo ou instrutor qualificado. “A maioria dos imprevistos que acontecem no rapel, assim como em qualquer atividade vertical, diz respeito ao despreparo. Por isso, a orientação é procurar sempre especialistas que estejam no momento da descida orientando e auxiliando o ‘leigo’. Treinamos sempre o nosso pessoal para qualificar o atendimento sempre mais’’, aconselha.

OUTROS LOCAIS

Além de Viçosa, outras cidades alagoanas também possuem cenários perfeitos para a prática. A ponte que liga Maceió à praia do Gunga, no município de Roteiro, também é utilizada por um grupo que leva turistas e alagoanos para praticar o rapel.

HISTÓRICO

Antes de virar esporte radical, o rapel foi uma importante ferramenta de pesquisa. Quem criou essa técnica de descida em corda foram estudiosos de cavernas, que no início do século XX procuravam grutas nos cânions dos montes Pireneus, no sul da França. Para alcançar as tais cavernas escondidas, os cientistas baixavam pesos às pedras do alto. Hoje, o rapel é praticado em encostas, cachoeiras e pontes.

foto

Na foto que abre a matéria, motorista da Tribuna Independente, e acima, repórter, fazem a descida na Cachoeira do Anel com a ajuda do instrutor Marksuel dos Santos (Foto: Edilson Omena)

Procura tem aumentado, dizem instrutores

Alessandro Sales, 31 anos, é instrutor há cinco anos, mas garante que realiza a prática do rapel desde os nove anos. “Eu pratico rapel desde os nove anos. Meu pai era tenente-coronel do Corpo de Bombeiros, foi ele que em 1987 trouxe o rapel para o estado. E mesmo após seu falecimento em 2007 criamos a LAERR [Liga Alagoana de Esporte Radicais e Rapel]. Em agosto deste ano a LAERR completa 12 anos”.

O instrutor garante que a procura só vem aumentando. “Existe uma procura de turistas, academias, grupos de aventuras, estudantes e militares. Sempre têm grupos agendados para conhecer e praticar o rapel”, conta Alessandro, dizendo que se houvesse mais divulgação e informação do governo haveria uma procura ainda maior pelos turistas.

O grupo de Viçosa, empresa formal conhecida como Caboclo de Casco, liderado por Luiz Carlos, também avalia a procura como positiva. “A procura tem sido bem considerada. Uma média de 50 a 70 pessoas por mês. Sendo a maioria os próprios alagoanos, mas também têm vindo turistas – temos clientes de Sergipe”.

Carlos diz que qualquer pessoa pode fazer rapel, no entanto deve estar bem de saúde e ter uma função motora boa. “Qualquer pessoa pode fazer. Mas, preferencialmente, adultos e jovens em perfeitas condições de saúde. Idosos também fazem desde que não tenham deficiência em sua mobilidade e nem problemas de saúde. A gente evita fazer com crianças e adolescentes.”

SEDETUR

A Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico e Turismo de Alagoas (Sedetur) divulgou à reportagem que realiza várias ações durante o ano para divulgar o potencial turístico. Em relação ao turismo de aventura, a Sedetur disse que tem realizado ações para fomentar o setor, a exemplo do destaque aos pontos de mergulho e a divulgação de trilhas ecológicas, entre outros. “O turismo de aventura é um segmento em potencial no Estado. O desenvolvimento hoje não fica concentrado apenas em Maceió e no Litoral”.

PRATICANTES

A empresária Maria Bruna Medeiros já faz parte do grupo LAERR há quatros anos. Ela relata que cada descida é única. “Cada experiência é única, nunca é igual. Sempre tem um ‘medinho’, mas a sensação da descida, da liberdade e da autoconfiança que a gente sente é incrível. Costumo dizer que o rapel me ajudou bastante como pessoa. Não é simplesmente uma descida, é uma decisão e uma confiança muito grande, tanto na pessoa que fez a ancoragem, montou o equipamento, quanto em você mesmo. É também uma superação. A gente supera nossos medos”.

O agente de segurança patrimonial Leandro Lima também não esconde a emoção em praticar o rapel. “Já fiz algumas vezes, acho que umas cinco vezes e a sensação é maravilhosa, a minha primeira vez eu tive medo ao ponto de travar na hora da descida, isso é normal em alguns casos, mas as pessoas que já haviam feito o rapel e o próprio Alessandro [instrutor] passou ali a segurança e vi que o esporte é muito seguro e tem todo o suporte da galera. Eles nos dão um suporte passando experiência. Eu nunca tinha praticado um esporte radical e posso dizer que é tão maravilhoso fazer o rapel. Quando termina eu já fico perguntando quando vai ser o próximo, eu sempre tive curiosidade em saber como era e qual sensação eu sentiria e quando eu fiz a primeira vez eu falei para mim mesmo: ‘cara, eu não quero deixar de fazer, quero fazer isso sempre’. Daí, então sempre que tem rapel eu tô participando, a experiência foi muito boa, super indico para quem nunca fez, de certeza que vão adorar”.

Reportagem também encara adrenalina

A equipe de reportagem se rendeu ao cenário e à adrenalina da descida da cachoeira, no Anel, povoado de Viçosa. Mas, antes, os instrutores passaram as orientações necessárias, assim como fazem com os grupos que os procuram.

foto

Instrutores Marksuel e Luiz Carlos mostram técnica e explicam como é feita a descida (Foto: Edilson Omena)

O primeiro a descer foi o motorista Eliabe Santana, que gostou tanto que fez uma segunda descida com auxílio do instrutor Marksuel da Silva, que também é bombeiro civil e trabalha como guia há quase três anos, e há sete meses como instrutor de rapel.

“Achei incrível a experiência. Nunca tinha feito rapel antes. A sensação é surreal. A cachoeira é um atrativo à parte. Existe um sentimento de liberdade. Foi tão diferente que pedi para fazer novamente”, conta Eliabe.

O último foi o repórter fotográfico Edilson Omena que deixou a câmera de lado e encarou a aventura. “A experiência foi fantástica. Nunca tinha participado de um esporte de aventura que tenha me proporcionado uma emoção e adrenalina. Confesso que no início deu uma vontade de desistir – mas olhei para o instrutor e ele olhou para mim e disse: ‘calma, fique tranquilo que você vai conseguir’. Ele me passou as orientações e muita confiança. É muito bom. Se eu pudesse indicaria para todo mundo. E sem contar que o local é espetacular”, ressalta Omena.

Após toda equipe fazer a descida, Marksuel comentou que o que nosso repórter fotográfico sentiu é absolutamente normal. “Já ocorreu de uma pessoa ou outra se assustar quando estava descendo e querer desistir por não conhecer a técnica, mas nós como instrutores temos que passar confiança para ela. E no final, dá tudo certo, eles descem e ainda querem repetir”.

Vale ressaltar que além do cenário perfeito, com frondosas árvores da nossa flora e animais silvestres da fauna, a chegada ao local já é uma aventura à parte com estradas de barro e trilhas pelo caminho.

Equipamentos utilizados no esporte suportam três vezes o peso do praticante

Antes de qualquer descida os instrutores checam os equipamentos e orientam os praticantes. De acordo com eles, a prática é segura, a adrenalina é controlada e os equipamentos de segurança suportam pelo menos três vezes o peso do praticante.

Entre os equipamentos estão o mosquetão que é a peça que faz a ligação entre a cadeirinha e o freio. Feito de duralumínio – uma mistura de alumínio e magnésio, um mosquetão não pesa mais de 100 gramas, mas suporta toneladas. O mosquetão tem uma trava de segurança manejável com uma única mão, possibilitando que o rapelista se desprenda da corda em casos de emergência, como um resgate nas alturas, por exemplo. O freio é o mais comum, é o que tem o formato de um 8. A corda desliza entre seus elos e trava quando o praticante a puxa para perto de si. Se a pessoa soltar a corda, ela desce em queda livre. Se pressioná-la contra o freio, ela para a descida.

Além destes estão o capacete que deve ser usado mesmo que não existam quedas d’água ou risco de pedras deslizantes. Também é bom usar luvas para evitar queimaduras nas mãos pelo atrito com a corda. Finalizando, ainda tem a cadeirinha – uma espécie de cinto que envolve as pernas e o quadril do rapelista. Feita de náilon e poliéster, a cadeirinha serve para prender o corpo do rapelista ao resto do equipamento. As mais modernas conseguem suportar até 500 quilos e têm revestimento de vinil, um tecido impermeável, são ultra-resistentes ao desgaste e certificadas pela Federação Internacional de Montanhismo e Escalada. Elas suportam esse peso mesmo nas freadas mais bruscas. O impacto dificilmente chega a mil quilos.

VALOR

O valor para fazer o rapel é variado a depender do grupo, mas, em média, está entre R$ 30 e R$ 70 por pessoa.

ROUPA

A roupa pode ser qualquer uma, mas os instrutores orientam que os rapelistas usem roupas leves que possam molhar e um tênis antiderrapante.