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Até hoje, Mike Beuttler foi o único piloto homossexual assumido na história da F1

Por Globo Esporte 13/04/2020 14h02
Até hoje, Mike Beuttler foi o único piloto homossexual assumido na história da F1
Mike Beuttler disputou 28 corridas de Fórmula 1 entre 1971 e 1973 — Foto: Reprodução/redes sociais

O automobilismo sempre teve a pecha de ter um ambiente machista e sexista. Nesse contexto, ao contrário de outras modalidades nas quais alguns atletas assumiram sua homossexualidade, a Fórmula 1 teve apenas um piloto do sexo masculino a assumir tal orientação em 70 temporadas: o inglês Mike Beuttler, que completaria 80 anos de idade nesse dia 13 de abril.

Michael Simon Brindley Bream Beuttler nasceu em 1940, no Egito, já que seu pai, um integrante do exército britânico, estava no país por causa da Segunda Guerra Mundial. Tão logo o conflito terminou, Mike foi morar com os pais na Inglaterra. Interessou-se pelas corridas na década de 1960 e decidiu parar com os estudos para correr.

Alcançou resultados bastante promissores na Fórmula 3, com vitórias em Silverstone, Brands Hatch e Montlhery na temporada de 1969. Com a ajuda de amigos corretores, monta uma equipe de Fórmula 1 e aluga um carro da March para correr. Em 1971, disputa quatro corridas, mas não completa nenhuma. Na Alemanha, tem um pneu furado durante a corrida e resolve pegar um atalho para não ter de percorrer os 22,8 km da pista de Nürburgring. É claro que ele foi desclassificado.

Em 1972, os resultados melhoram, mas faltam à equipe estrutura, e a Beuttler, talento que lhe diferencie. Nas dez corridas em que toma parte, tem como melhores resultados um oitavo lugar em Nürburgring e um décimo em Monza. Apesar do desempenho razoável, é criticado por fechar a porta na caradura de quem lhe persegue na pista, e ganha o apelido de "blocker" ("bloqueador" em português).

Para 1973, o esquema de aluguel de carros da March continuou. No difícil traçado de rua de Montjuich, na Espanha, Beuttler fez sua melhor corrida na Fórmula 1 e quase pontuou ao terminar em sétimo. O inglês chegou a estar à frente do campeão mundial Denny Hulme, mas não resistiu à força do carro da McLaren e foi ultrapassado a nove voltas do fim.

Ainda em 1973, os únicos momentos dignos de nota foram um 11º lugar no grid de largada na Áustria e uma oitava colocação na Suécia. A última corrida de Beuttler na Fórmula 1 terminou com uma razoável décima colocação em Watkins Glen, nos Estados Unidos. Em cinco das 28 provas que disputou na F1, o inglês chegou entre os dez primeiros, resultados que hoje dariam pontos.

No fim daquele ano, uma crise no mercado imobiliário britânico fez com que os amigos desistissem da Fórmula 1. Beuttler disputou ainda os 1000 km de Brands Hatch em 1974 até encerrar sua trajetória de piloto, com apenas 34 anos de idade.

Na época de Fórmula 1, já havia rumores de que Beuttler e seus amigos - também homossexuais - promoviam festas inclusive nos fins de semana de grande prêmio. Para disfarçar, Mike passou a aparecer nos autódromos com mulheres modelos. Só depois é que Beuttler assumiu publicamente sua orientação sexual.

Depois de encerrar sua trajetória nas pistas, Mike Beuttler se mudou para San Francisco, nos Estados Unidos, onde passou a dirigir seus negócios. Morreu com apenas 48 anos de idade, em 1988, por complicações decorrentes do vírus da Aids.

Até hoje, passados mais de 30 anos de sua morte, Mike Beuttler é o único dos 769 pilotos do sexo masculino inscritos em eventos oficiais da Fórmula 1 a assumir sua condição de homossexual. Entre as cinco mulheres que correram, a italiana Lella Lombardi foi a única declaradamente gay.