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Livro traz instruções para confecção do legítimo filé alagoano
A consolidação do Bordado Filé como marca alagoana com padrão de qualidade reconhecido nacional e internacionalmente está, a cada dia, mais próxima da realidade de centenas de famílias que sobrevivem a partir da atividade na região das lagoas Mundaú-Manguaba.
Desde 2009, bordadeiras, aliadas a instituições públicas governamentais, Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e Sebrae Alagoas, percorrem o passo a passo necessário para o registro de Indicação Geográfica (IG), na modalidade Indicação de Procedência (IP) junto ao Instituto
Nacional de Propriedade Industrial (INPI). O reconhecimento do INPI tende a contribuir para a preservação e reconhecimento do autêntico filé de Alagoas, além de influenciar na valorização comercial do produto, que pode ter um incremento de 30% no preço praticado.
No caminho para a conquista do registro, etapas importantes foram cumpridas como, o reconhecimento oficial pelo Estado de Alagoas do bordado filé como Patrimônio Cultural Imaterial dos Alagoanos, e a criação do Instituto do Bordado Filé. Mais recentemente, em março de 2015, o projeto teve mais um desdobramento com a publicação do Caderno de Instruções do Filé, ação de grande importância para a salvaguarda do bordado alagoano.
Apresentado pelo Instituto do Bordado Filé Alagoas, a obra é uma realização do Sebrae Alagoas e do Governo do Estado, com apoio da Prefeitura de Maceió e da Ufal.
O Caderno de Instruções traz o passo a passo da atividade a partir do modo de produção desenvolvido na região das lagoas Mundaú-Manguaba. A obra apresenta ainda a história do filé desde os primeiros registros em Portugal e na Itália, até o desenvolvimento das tecnologias e peculiaridades que fizeram da arte patrimônio imaterial do povo alagoano.
Autora de parte dos textos da obra, a consultora Marta Melo, destaca a importância do filé para a cultura e a economia do estado. Durante lançamento do trabalho, ela destacou: “O filé está intrinsecamente ligado à imagem do que representa Alagoas e com esse caderno o que era apenas memória oral passa ter registro impresso, está documentado para a posteridade”.
Características do filé alagoano
A publicação explica porque o filé é um bordado e não uma renda, como muitos ainda acreditam. “Considera-se ‘bordado’ todos os trabalhos exercidos por meio de uma agulha sobre qualquer tipo e suporte pré-existente”, esclarece o texto na página 17 do livro.
Além das características que vão determinar o legítimo filé alagoano da região das lagoas Mundaú-Manguaba e do passo a passo para a sua produção, o Caderno de Instruções lista os 21 pontos do bordado filé, bem como suas variações. O popular ponto ‘bom gosto’ ou ‘rosa’ presente na maioria das peças, por exemplo, pode ser executado de 12 formas diferentes.
Com 73 páginas ilustradas, o livro revela ainda os critérios para inovação, os cuidados para conservação do bordado com detalhamento completo das instruções que devem contar na etiqueta do produto, bem como as fichas técnicas que vão definir todos os critérios para que o filé seja reconhecido como legítimo produto da região das lagoas Mundaú-Manguaba.
Para a assessora especial da Fundação Municipal de Ação Cultural (FMAC), Vania Amorim, o Caderno é fonte de aprendizado às novas
gerações, para que o ofício de filezeira tenha continuidade, por meio da transmissão dos conhecimentos acumulados, salvaguardando-se as características originais que deram fama à região lagunar como produtora e o reconhecimento oficial do bordado filé como um Patrimônio Cultural Imaterial dos alagoanos. “O desafio é manter a qualidade do bordado em alta, fazendo com que se destaque dentre os concorrentes de menor qualidade tanto de insumos quanto de execução”, afirma.