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Animais são aliados no tratamento de doenças físicas e mentais
Eles melhoram o estado emocional dos humanos pelo simples fato de se deixarem tocar
O contato com animais vai muito além da companhia que proporcionam. Um pequeno tempo diário dedicado a eles funciona com uma terapia ao ser humano. Há quem goste de criar gato, cachorro, saguim, jabuti, peixes, até aquele ratinho branco (hamster), que há alguns anos andava pendurado no ombro de algumas pessoas. Há também quem prefira papagaio, periquito, curió, bem-te-vi.
Quem tem um animal de estimação sabe a sensação de chegar em casa depois de um dia cansativo de trabalho e ser recebido com muita festa. Isso deixa qualquer um mais feliz. E você sabia que eles melhoram o estado emocional dos humanos?
Segundo Paula Vilhena, psiquiatra da Secretaria de Estado da Saúde (Sesau), o contato com os animais, sejam eles de estimação ou não, contribui para que o ser humano vá afrouxando sua rigidez e seus receios, trazendo à tona seus afetos e permitindo a transformação pessoal.
“Animais são co-terapeutas, pois agem diretamente pela linguagem instintiva, facilitando a aproximação e a troca afetiva. É como se o homem se entregasse carinhosamente quando afaga a cabeça de um cachorro ou quando recebe por parte do papagaio, o direito de lhe fazer cafuné”, diz.
Ainda de acordo com Paula Vilhena, em ambulatórios infantis e hospitais psiquiátricos, os animais, a exemplo do cachorro, são utilizados como ferramenta clínica, pois facilita a aproximação, a troca, o contato, auxiliando no tratamento e melhorando o quadro clínico dos pacientes.
“Na verdade, o uso do cachorro, principalmente com crianças em situações de hospitalização, é possível perceber que ele alivia a tensão, o medo e a dor crônica. Já com pessoas que possuem deficiência motora, como na paralisia cerebral, o ato de jogar a bolinha para o cão provoca uma troca de afeto”, explica. “O animal é um amigo fiel, que está com você independente do gênero, cor, raça, temperamento ou condição financeira. É aquele ser vivo que não te trai.”
Muitos animais, por suas características dinâmicas e de personalidade, atraem pessoas que estão em sintonia com tais características, ou seja, uma pessoa mais introspectiva, racional poderia ser dar muito bem com um gato, enquanto uma extrovertida e sentimental teria uma predileção por um cachorro. Entretanto, conforme a psiquiatra, é difícil estabelecer uma regra, visto que estes exemplos não cabem a todos.
“O mais comum, por questões econômicas, facilidade de acesso e cuidados gerais, é o cachorro. Nossa sociedade desenvolveu muitos aparatos para torná-lo membro ativo da família humana. Nas grandes cidades temos diversos pet shops, hospitais veterinários, hotéis e até cemitérios voltados para cães, evidenciando a relação estreita entre homem e animal”, evidencia.
Contudo, o que realmente importa, para ela, é o valor sentimental que o animal tem para o seu dono, uma vez que existe carinho, saudade, preocupação, receio e amor, fazendo deste um integrante do sistema familiar. “Um cuida do outro. E este cuidado e troca estimulam diversos sentimentos e emoções no ser humano, de forma benéfica e construtiva”, avalia.
Amigos para toda a hora
De todos os animais, os mais importantes e preferidos para Olívia de Cássia Cerqueira, uma simpática jornalista de 57 anos, são os cachorros e os gatos. Animais domésticos que ela adotou como filhos.
“Sempre gostei de cachorros e gatos, no entanto, minha mãe não deixava criá-los, sob hipótese alguma, pois eu sofria de asma quando criança. Costumava pegar os felinos na rua, mas era obrigada a levá-los de volta. Hoje, a jornalista divide a casa com sete animais, entre cães e gatos.
Em fevereiro do ano passado, quando foi diagnosticada com a síndrome de Machado-Joseph, também conhecida com ataxia espinocerebelar do tipo 3 (ou SCA 3), doença crônica hereditária dominante, com pelo menos três gerações de uma mesma família afetadas, seus animais passaram a funcionar como estímulo revitalizador, aliviando a solidão e, principalmente, lhe dando forças para encarar todo os obstáculos.
“Interagimos praticamente todo o tempo. Minha vida com eles é muito prazerosa, me preenchem espiritualmente e me realizam plenamente. Eles demonstram carinho, ciúme, ternura e fazem com que meus dias sejam plenos. Na maioria das vezes, são as minhas únicas companhias”, diz Olívia de Cássia.
O cavalo também é um importante aliado no combate às doenças neurológicas. Cavalgar deixou de ser apenas um prazer ou meio de locomoção. Hoje, essa prática também é usada como terapia no desenvolvimento biopsicossocial de pessoas portadoras de deficiência ou de necessidades especiais, tais como síndrome de Down, paralisia cerebral, derrame, esclerose múltipla e autismo. Este é o objetivo básico da equoterapia, também conhecida com hipoterapia.
Alexsandra Carvalho, fisioterapeuta do Centro de Equoterapia e Zooterapia de Alagoas da Associação Deficientes Físicos de Alagoas (Adefal) – uma das instituições conveniadas à Sesau-, explicou que o cavalo, ao se mover, pode ainda estimular uma série de reações no corpo do paciente. Isso faz com que ele esteja sempre em busca do seu próprio equilíbrio.
“A equoterapia pode ajudar com o tratamento de pacientes com autismo, melhorando a interação social, a linguagem e a área emocional. A criança passa, portanto, a superar alguns de seus medos, além de melhorar a expressão facial e conquistar novas amizades com os que estão presentes nas sessões”, destacou.
Muitas vezes, o diagnóstico da doença demora a ser descoberto. Foi isso que aconteceu com o filho da dona de casa, Quitéria Paes, 31 anos. Ela chegou a suspeitar que Marcelo Costa tivesse o transtorno, porém, o diagnóstico só veio quando ele já estava com quatro anos.
“Ele quase não falava, se incomodava com a presença de pessoas, suas mãos tremiam e também não respondia a nenhum estímulo. A partir daí especialistas confirmaram o autismo”, explicou.
Após o diagnóstico, Quitéria Paes levou o pequeno Marcelo, hoje com onze anos, à equoterapia na busca de socializar a criança. “Os benefícios são nítidos e eu estou constantemente trabalhando com meu filho. Hoje ele vai à escola, gosta muitos dos professores e consegue conviver com amigos, além de amar cavalos”, ressalta.
Segundo Quitéria Paes, o próximo objetivo é trabalhar para que o filho tenha independência. “O Marcelo consegue se vestir e ir ao banheiro, mas ainda é muito dependente e quero que ele desenvolva o processo de aprendizagem na escola. Acredito que a equoterapia vai ajudá-lo a melhorar a linguagem verbal e gestual”, comentou.
A fisioterapeuta explicou ainda que estudos mostram que estes movimentos com a ajuda dos cavalos aliviam a tensão na parte do cérebro que afeta a fala e a visão. É por isso que há o desenvolvimento em todos estes sentidos. O autismo pode provocar o desequilíbrio motor da criança, que cai frequentemente. “Em cima do cavalo a criança percebe a andadura do animal, o que ajuda o paciente a encontrar o equilíbrio”, explicou.
No caso do Marcelo, a fisioterapeuta conta que, no primeiro dia de terapia, ele não falava tampouco interagia com os profissionais. “Ele chegou e ficou distante, mas, após sete anos de tratamento, já consegue se comunicar de uma forma melhor e entende sobre limites, regras e rotina”, destacou.
A equoterapia conta com uma equipe de profissionais como fonoaudiólogo, terapeuta ocupacional, psicopedagogo, profissional de educação física, psicólogo e equitador. O acompanhamento é realizado em vários aspectos e os resultados são perceptíveis para a família do paciente.