Geral

Degradação do meio ambiente faz secar Lagoa do Pé Leve, em Limoeiro de Anadia

Por G1 AL 22/05/2017 09h09
Degradação do meio ambiente faz secar Lagoa do Pé Leve, em Limoeiro de Anadia

Equipes da Fiscalização Preventiva Integrada (FPI) da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco constataram que a Lagoa do Pé Leve, situada no município de Limoeiro de Anadia, no Agreste de Alagoas, secou devido à degradação ambiental provocada pelo homem.

A informação foi divulgada neste domingo (21) pelo Ministério Público do Estado de Alagoas (MP-AL), que coordena a FPI.

Na primeira semana de operação, os fiscais constataram que o leito da lagoa, que já foi fonte de alimentos e de renda para a população mais carente da região, havia secado completamente.

Eles colheram dados para o diagnóstico, mas de antemão, identificaram que, além da diminuição de chuvas na região, a retirada de água em grande volume e a degradação do meio ambiente foram decisivos para secar a lagoa.

“Com a redução da chuva, a recarga diminui enquanto a extração de água se manteve em nível elevado. Em seguida, veio a supressão de mata ciliar no entorno decorrente da ocupação desordenada nas margens da lagoa. A vegetação apara a água que cai da chuva, ajudando a abastecer lentamente o aquífero. Sem ela, a água evapora de modo natural”, explicou um analista ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA).

Um técnico do Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA) chegou a flagrar o avanço de cercas de uma propriedade para dentro do leito do rio.

Além disso, a FPI do São Francisco também flagrou um pivô central instalado nas proximidades do Pé Leve. Segundo os técnicos ambientais, o instrumento é um dos que mais consomem e desperdiçam água no agronegócio.

Para extração de grandes volumes de água, é necessária uma autorização. “Se o volume extraído for pequeno a outorga é dispensada. Mas, mesmo assim, deve haver um certificado de dispensa da licença para o Estado ter controle da subtração de água”, disse um servidor público da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e de Recursos Hídricos (SEMARH) .

O coordenador da equipe flora da FPI do São Francisco explicou como a captação irregular de água prejudica a lagoa: “Quando se retira o líquido do subsolo a partir dos poços, rebaixa-se o lençol freático, que, junto à água superficial da chuva, deveria alimentar a lagoa. É como uma caixa d’água que vai secando. Para piorar, a evaporação impede a água da superfície de recarregar o próprio lençol”.

Reflexos da degradação

Um dos moradores do povoado lembra que a lagoa costumava estar sempre cheia, e que começou a secar em pouco tempo.

“Essa lagoa nunca secou. Era cheia direto. Do ano passado para cá, a água foi baixando até acabar”, disse Pedro Correia de Araújo, que mora há 25 anos no Distrito do Pé Leve, em Limoeiro do Anadia.

Outro morador da região, Gilvan da Silva, está há 12 anos no local e lamenta o prejuízo causado para a atividade da pesca. “Quem criava seus meninos vendendo peixe, perdeu a fonte de renda. O Pé Leve cheio deixou muitas histórias. Dá tristeza vê-lo assim. Quem não sente? Essa lagoa era uma mãe para todos”, falou.

Até o clima foi afetado. “Nesses dias, percebemos que a umidade em Arapiraca e nas cidades vizinhas estava baixíssima. Vamos lembrar que a região está localizada próxima do Sertão e não pode dispensar recursos naturais como a Lagoa do Pé Leve”, afirma um técnico do IBAMA.

O Instituto ressalta que o desequilíbrio atinge também toda a Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, já que o Pé Leve abastece o Rio Piauí, um dos afluentes do Velho Chico.

Para o promotor de Justiça Alberto Fonseca, um dos coordenadores da FPI do São Francisco, só é possível salvar a Lagoa do Pé Leve se houver um trabalho a longo prazo e que envolva um compromisso do poder público e da população.

“Precisamos fazer um trabalho de conscientização dos moradores para preservar a lagoa. Quanto mais água for retirada do espelho d’água, menos ele terá a oferecer. Da mesma forma, precisamos dar cabo dos crimes ambientais que estão ocorrendo no local”, afirma.

Para a recuperação do Pé Leve, o representante do MP-AL disse que é preciso resolver o problema do lançamento de esgoto, recuperar as matas ciliares, retirar as residências localizadas nas margens (áreas de preservação permanente) e limpar o lixo acumulado no leito seco.