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Família de idosa internada acusa HGE de negligência médica e omissão de tratamento
Paciente de 63 anos frequenta a unidade hospitalar desde 2021; ela tem Lúpus e parentes acusam hospital de descaso no atendimento. “Temos uma coleção de denúncias na ouvidoria e B.Os”
A família de uma paciente idosa interna no Hospital Geral do Estado de Alagoas acusa a unidade hospitalar de negligência médica, omissão de tratamento e perseguição. Jaira Maria Magalhães, de 63 anos, está internada desde 2021, com uma obstrução arterial. Portadora de Lúpus, doença autoimune, ela tenta transferência para outro hospital onde conseguiria um tratamento específico.
De acordo com a filha de Jaira, Sheyla Alencar, a mãe precisa de pulsoterapia, que é um tratamento envolvendo um coquetel de corticoides administrado em altas doses durante um curto período de tempo, para pacientes em ambientes de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em crises agudas e com inúmeras comorbidades, caso de sua mãe.
O HGE, segundo a família da paciente, não dispõe do tratamento, tampouco da especialidade médica regulatória, que seria a reumatologia. Ela acusa os médicos do hospital de se negarem a pedir oficialmente a transferência dela para outra unidade de saúde e que possuem uma “coleção de denúncias” na ouvidoria do hospital, além de Boletins de Ocorrência, contra o que chamaram de negligências médicas hospitalares e omissão de tratamento.
Sheyla explicou ao Jornal de Alagoas que a mãe possui confusão mental e alucinações severas e que procurou os médicos para entender o caso e alertar para a necessidade de investigação.
“Me disseram que como não dispunham de serviço de reumatologia, nada podiam fazer”, lamenta.
Ela explica que a situação da mãe se agrava diariamente, mas a clínica médica se negava a colher exames básicos para verificação de taxas metabólicas, negligenciando o atendimento a crise lúpica e se omitindo frente ao quadro neurológico.
A família tentou realizar a transferência de hospital na perspectiva de obter um melhor tratamento, mas o relatório não foi preenchido pelo setor responsável. “Ela estava com procedimento cirúrgico marcado e precisava estabilizar a doença autoimune, principalmente, por se tratar de um procedimento de auto risco em condições de crise", disse, revoltada.
A revelia da coordenação do setor, Sheyla conseguiu levar sua mãe para uma consulta particular com um reumatologista. Os exames, de acordo com a filha, foram colhidos dentro da ambulância com a paciente ainda acamada e sem auxílio de outros profissionais.
"A médica pediu urgência e os exames saíram em 24 horas. Constatando que a paciente estava em possível crise e que precisava de suporte médico hospitalar especializado. Ela produziu uma carta ao HGE, cobrando providências e colocando-se à disposição de nós da família. Somente, a partir deste momento é que passaram tomar providências mínimas (reposição da taxa de sódio). No entanto, a instituição não se prontificou a levar a paciente para fazer quaisquer exames ou consulta em unidade de apoio que dispusesse do serviço de reumatologia. Conduta comum entre os hospitais e realizada com constância. Protocolei uma carta na ouvidoria na época e tenho a carta da Médica. O que sustenta a versão dos acontecimentos", explica.
Após sair do primeiro internamento, em junho de 2021, Jaira voltou a adoecer e foi hospitalizada novamente este ano, há quatro meses.
"Quero que saibam que está sendo tudo documentado quanto às negligencias do HGE. Até o momento minha mãe tá morrendo dentro do HGE e não conseguimos a transferência dela para ela fazer o tratamento que ela precisa", desesperada.
À reportagem, Sheyla alega ainda que está sofrendo perseguição política, sem detalhar o porque disso estar acontecendo. "Estamos sendo perseguidos sim''.
O caso
Internada na Ala Vermelha Clínica do HGE desde maio deste ano, com queda nos sinais vitais, anemia grave, infecção urinária e nefrite aguda, Jaira foi diagnosticada com Crise Aguda de Lúpus Sistêmico e recomendou-se pulsoterapia e intervenção endovenosa.
Na ocasião do diagnóstico, o corpo médico que a atendeu solicitou transferência para a UTI.
"A questão é que a paciente intercorreu vascular - eventos trombólicos graves. Esse foi o motivo pela qual ela foi levada novamente ao HGE”, conta Sheyla. Foi uma irresponsabilidade clínica, tendo em vista que a paciente estava realizando pulsoterapia e teria que interromper o tratamento, uma vez que o Hospital Geral do Estado não dispõe da terapêutica adequada ao Lúpus", acrescentou.
Sheyla relatou que no HGE, sua genitora permaneceu por cerca de 60 dias (sendo 45 de UTI). Realizando tratamento via oral para o lúpus, sem qualquer investigação específica do seu quadro Lúpico. Apenas tratando com terapêutica paliativa de controles hematológicos, renais e vasculares. Ou seja, sem investigar a causa de todos esses problemas.
Mesmo diante da gravidade do caso e após 15 dias de internamento, a paciente sequer tinha entrado na lista de espera da cirurgia de angioplastia.
Ela só realizou o procedimento de angioplastia nos dois membros inferiores após intervenção da Defensoria Pública que impetrou uma ação Judicial para resolutiva do caso.
Jaira teve a perna direita amputada e, após cinco dias do procedimento de amputação, ela foi levada para a ala D (área verde clínica), onde permaneceu por cerca de 15 dias, aguardando a visita de uma Reumatologista, que, segundo Sheyla, nunca apareceu.
"No dia cinco de julho Jaira recebeu alta, e após aguardar 48h por uma ambulância do hospital, só voltou ao seu domicilio, por uma cortesia da prefeitura da cidade de Ibateguara, que cedeu um transporte. Sem qualquer avaliação reumatológica e sem respostas efetivas para o quadro inicial que a levou ao internamento".
Dia 23/07 voltou a intercorrer, apresentando quadros graves de queda de sinais, anemia hemolitica com sagramento digestivo, infecção urinária e Nefrite Aguda.
O drama continuou e quatro dias após a intercorrência ela foi levada à Unidade de Pronto Atendimento do Trapiche. Ela acusa a unidade de negar-se a intervir para que a paciente fosse transferida para uma unidade que dispusesse de assistência reumatológica e pulsoterapia e que foi negado relatório clínico à família para que conseguir “efetividade junto à defensoria”.
"Assim, a mercê da própria sorte e sem o compromisso da saúde pública em fornecer o internamento que a paciente realmente precisava, ela foi regulada novamente para o Hospital Geral do Estado. Onde encontra-se interna desde o dia 29/07 na Ala D, Leito 05, Enfermaria 05", diz Sheyla.
Acontecimentos Atuais
Ela conta também que desde esta data, os médicos e atendentes do hospital tem se negado a oferecer prontuários e também dialogar com a família.
"Já no segundo dia de internamento, foi preciso a intervenção da Ouvidoria do HGE, para que o quadro clínico da paciente fosse reavaliado, pois a médica Maysa Alencar (Ora, médica plantonista que assinou o relatório de alta da paciente no dia 05/07). Me acusou de histeria, afirmando que a paciente estava bem e que não havia qualquer necessidade de internação. Suspendendo medicações venosas iniciadas ainda na Ala azul. Negligenciando, inclusive, um quadro de infeção na pele celulite (infecção da derme pela bactéria Streptococus), afirmando ser um hematoma devido ao esparadrapo", esclareceu.
Sheyla diz que o HGE afirma que o paciente está muito bem e vai receber alta, ela, porém diz que a mãe está tendo efeitos colaterais que comprometem olhos, coração, rins e circulação devido a picos hiperglicêmicos que chegam altas taxas, sem controle adequado e verificação constante.
Nesta sexta-feira (12), o HGE voltou a sinalizar a alta da paciente que teve seu problema de saúde reconhecido pelo Núcleo de Saúde da Defensoria Pública, que impetrou uma ação Judicial, com pedido de Liminar em Caráter de urgência. Ainda nesta sexta, a família descobriu que o hospital só entrou com pedido de transferência, após a intervenção da defensoria no dia 10/08, solicitando esclarecimentos sobre o caso.
Em nota, o Hospital Geral do Estado, afirmou que está adotando todas medidas necessárias para assegurar assistência qualificada à paciente Jaira Maria Magalhães Porto e que a paciente, com diagnóstico de Lúpus Eritematoso Sistemático e Hematêmese vem recebendo a assistência médica que o caso requer, recebendo os cuidados multidisciplinares, que incluem a integração de diversos especialistas na estabilização do quadro clínico.
Leia a nota completa do HGE na íntegra:
NOTA DE ESCLARECIMENTO
Assistência a paciente Jaira Maria Magalhães Porto
O Hospital Geral do Estado (HGE), em Maceió, esclarece que está adotando todas as medidas necessárias para assegurar assistência qualificada à paciente Jaira Maria Magalhães Porto, de 63 anos e que, em nenhum momento, houve negligência na assistência prestada a ela. Esclarece que a paciente foi admitida no último dia 29 de julho, às 17h13, com diagnóstico de Lúpus Eritematoso Sistemático e Hematêmese e, desde então, vem recebendo a assistência médica que o caso requer.
Salienta que, no momento, a paciente segue internada na Área Verde e está recebendo os cuidados multidisciplinares, que incluem a integração de diversos especialistas para estabilização do quadro clínico. Isso porque, o Lúpus Eritematoso Sistêmico é uma doença inflamatória crônica de origem autoimune, que não tem cura, e que a assistência médica visa controlar os sintomas decorrentes de crises como a vivenciada por Jaira Maria Magalhães Porto.