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Alagoas registra 7 crianças por dia sem o nome do pai; diz Associação

No estado alagoano de 2020 a 2022, 5.522 crianças foram registradas sem o nome de seu progenitor

Por Redação* 14/08/2022 14h02 - Atualizado em 14/08/2022 15h03
Alagoas registra 7 crianças por dia sem o nome do pai; diz Associação
O índice de mães solteiras em Alagoas ainda é alto. - Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil)

Os dados da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen/AL) apontam que Algoas de 2020 a 2022, 5.522 crianças foram registradas sem o nome do pai. Revelando ainda que, em média, sete registros de recém-nascidos no estado são feitos sem a presença do genitor por dia.

Até 1º de agosto de 2022 já foram 1.982 crianças nascidas e que estão sem o nome do pai no registro civil.

Ao Eufemea, a psicóloga Raquel Pedrosa, explica os benefícios que uma paternidade ativa pode trazer para a família. Para ela, a criança adota um bom desenvolvimento psicológico, que irá transformá-la em uma pessoa mais segura e com maiores chances de ser bem sucedida.

Raquel Pedrosa. Foto: cortesia

“A mulher se sente mais segura, amparada e com liberdade maior para se aventurar mais no mercado de trabalho, já os homens ganham novas perspectivas de aspirações profissionais”, reforça.

Segundo a lei brasileira, a mãe não pode indicar o nome de alguém que não seja o verdadeiro pai –a presunção de paternidade só ocorre em caso de pais casados.

Quando a mãe é solteira, é necessário o reconhecimento do pai para que ele conste do registro. Caso ele se recuse a fazer o exame, a certidão de nascimento é feita sem o nome dele, e a mãe poderá ingressar com ação judicial para investigação de paternidade.

Ausência paterna


Raquel Pedrosa pontua que a ausência do pai reflete no desenvolvimento da criança que já pode ser percebido na pré-escola e se manter ao longo da vida escolar. “Isso pode incluir comportamentos agressivos, baixo rendimento escolar e até problemas no desenvolvimento emocional e social da criança”, informa a psicóloga.

Raquel destaca a importância de que as crianças e os pais estejam em acompanhamento psicológico para amenizar os problemas decorrentes da ausência paterna. No caso da criança, ela explica que a psicoterapia possibilita que externe e administre de uma maneira mais saudável a frustração. Já com a mãe, a psicoterapia é válida para orientação de como lidar com as demandas de seus filhos.

De acordo com Pedrosa, a ausência da figura paterna pode refletir de diversas formas e em diversos momentos da vida de uma pessoa. Ela ressalta que na vida adulta, a pessoa pode estar mais suscetível à depressão, transtorno de ansiedade, envolvimento com álcool e outras drogas e relacionamentos interpessoais mais fragilizados.

“Não sei se é possível ensinar isso a algum homem. Ser um pai ativo é algo que se aprende no berço vendo os exemplos no seu contexto. Acho que a mudança precisa ser cultural”, conclui.

Maternidade solo


A diarista Vera Lúcia é mãe de um adolescente de 16 anos que não tem o nome do pai na certidão de nascimento. Segundo ela, o pai nega a paternidade e exige o exame de DNA.

No entanto, Lúcia afirma que a ausência paterna não afetou na educação e criação de sua filha. “Eu sempre estive presente em todos os momentos, principalmente na educação. Sempre conversei com ela sobre o que é certo e errado, e ela vê o meu exemplo”, relata.

A diarista expõe que se sente sobrecarregada e encontra dificuldades para conciliar a maternidade e a vida profissional. “Quando tem reunião na escola e nos dias dos plantões pedagógico, eu vejo que se o pai fosse presente ele poderia ir em meu lugar, quando não tenho tempo”, alega.

A mãe da adolescente conta as principais dificuldades de ser mãe solo durante a criação de sua filha e alega sempre se esforçar no trabalho para não faltar nada em casa. “As dificuldades estão na emergência de doenças, na hora da conversa para aconselhar e também nas despesas, principalmente a comida que não pode faltar”, finaliza.

Impactos


A advogada e jornalista Meline Lopes não tem o nome do pai na certidão de nascimento. Para ela, a sua infância foi frustrante por não saber quem é seu pai.

“Em eventos escolares meus amigos perguntavam quem era o meu pai e eu não sabia nem a figura dele, para mim foi muito frustrante”, lamenta.

A advogada afirma que por muito tempo sentiu dificuldade de confiar nas pessoas e ter relacionamentos amorosos, sendo necessário terapia para reparar os danos causados pela ausência paterna.

“Eu sempre achei que eu era a parte errada da história, que eu tinha feito alguma coisa de errado para ele não querer se aproximar”, expõe.

Com informações de Rebecca Moura.