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FPI do São Francisco resgata mais de 500 animais silvestres durante a primeira semana de fiscalização

Equipe Fauna atuou nas cidades do Alto Sertão de Alagoas e libertou animais que eram mantidos em cativeiro ilegalmente; nessa edição, animais feridos contam com um hospital de campanha montado pela SOS Caatinga em parceria com o IMA

Por Assessoria 27/11/2022 10h10
FPI do São Francisco resgata mais de 500 animais silvestres durante a primeira semana de fiscalização
Animais em gaiolas. - Foto: Assessoria

Retirados de seu habitat e mantidos em cativeiro, 512 animais silvestres foram resgatados pela Equipe Fauna da 11ª FPI do São Francisco durante a primeira semana de operação que acontece nas cidades do Alto Sertão de Alagoas desde o dia 20 de novembro. Aves, répteis e mamíferos recebem atendimento veterinário e passam por reabilitação, para depois ganhar a liberdade.

A maioria das espécies é nativa da Caatinga, bioma exclusivamente brasileiro que ainda sofre com a degradação humana e onde a cultura de caçar animais silvestres persiste, apesar do trabalho insistente de conscientização e fiscalização dos órgãos ambientais.

O médico veterinário Rick Vieira, da Organização Não Governamental (ONG) SOS Caatinga, explicou que mais de 90% dos animais resgatados chegam ao Centro de Triagem de Animais Silvestres (Cetas) com desnutrição severa.
“A situação demonstra que esses animais, capturados ilegalmente de seu habitat e mantidos em cativeiro, não recebem a alimentação adequada ou recebem apenas uma fonte de alimento. As pessoas não sabem, por exemplo, que os jabutis, conhecidos também como cágados, se alimentam de proteínas como carne de animais mortos ou ovos. O papagaio não come somente semente de girassol, ele também se alimenta de frutas. Precisam de uma alimentação variada, encontrada em seu habitat”, explica.

Rick Vieira diz que o hábito de criar animais silvestres, principalmente aves, ainda é muito forte no Sertão de Alagoas. “Eles sofrem muita crueldade, como a amputação das asas e as pessoas costumam cegá-los, para que cantem. Mas aquele som é um pedido de socorro”, relata o veterinário.

Ao chegar no Cetas, os animais passam por tratamento com médico veterinário, se for preciso, recebem suplementos vitamínicos e passam por reabilitação para poder voltar para a natureza. Porém, alguns ficam impossibilitados de ganhar a liberdade por estarem muito debilitados ou acostumados com a presença humana.
Entre os animais resgatados na primeira semana da FPI, estão: 486 aves, 19 jabutis, 1 sagui, 1 Tatupeba e 5 preás. Entre as espécies de aves estão: Papa-Capim, Sanhaço, Galo de Campina, Canário da Terra, Saíras, Asa Branca – ave símbolo do Nordeste, codorna-do-nordeste e um Carcará que aparentemente foi vítima de atropelamento e passa por reabilitação no hospital de campanha, Papagaio do Mangue, Papagaio Verdadeiro, Periquito da Caatinga, Jesus-Meu-Deus, outros nativos e alguns que não ocorrem no estado de Alagoas que devem ser enviados para sua região de origem.

O médico veterinário e consultor ambiental do Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA), Rafael Cordeiro, diz que o principal objetivo da Equipe Fauna é a manutenção das espécies, oferecendo suporte médico, alimentação e condicioná-los para que voltem ao seu habitat.O médico veterinário e consultor ambiental do Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA), Rafael Cordeiro, diz que o principal objetivo da Equipe Fauna é a manutenção das espécies, oferecendo suporte médico, alimentação e condicioná-los para que voltem ao seu habitat.

“A FPI é importante para reforçar o combate ao crime contra esses animais. As pessoas precisam saber também que, caso queiram criar animais silvestres, elas podem se cadastrar como criador amador, buscar a legalização junto ao IMA. Outro ponto importante é trabalhar a educação ambiental. Despertar nas pessoas que precisamos preservar a nossa fauna”, reforça.

SOS Caatinga

O presidente da SOS Caatinga, Marcos Araújo, conta que a ONG participa da FPI em Alagoas desde a primeira edição e que o maior objetivo da Equipe Fauna é defender os animais nativos da Caatinga. Para atuar há quase 20 anos na proteção da fauna e flora da Caatinga, a ONG conta com doações e principalmente com o apoio do Ministério Público do Estado (MPE).

“Nossa ONG atua há quase vinte anos e contamos desde o início com o apoio de doações e do Ministério Público Estadual [MPE], que através de uma TAC [Termo de Ajustamento de Conduta] nos doou uma viatura, que usamos para o nosso trabalho de fiscalização de proteção dos animais e do bioma. Os promotores de Justiça Lavínia Fragoso e Alberto Fonseca são nossos grandes apoiadores”, afirma.

Marcos Araújo explica que a SOS Caatinga conta com o apoio do Batalhão de Polícia Ambiental (BPA) quando flagra algum crime contra a fauna e flora do Sertão de Alagoas.

“Sempre que flagramos situações criminosas, acionamos o BPA. Somos os olhos do IMA e do Ibama”, explica.
A SOS Caatinga também monitora a fauna utilizando câmeras trap e já flagraram mamíferos como jaguatiricas e gatos mouriscos vivendo na Caatinga do Sertão de Alagoas.

Hospital de Campanha


Ele comemora o fato de a 11ª FPI contar com um hospital veterinário de campanha pela primeira vez.
“Todos os animais que chegam debilitados ao Cetas são avaliados por biólogos e médicos veterinários e, se precisar passar por cirurgia, agora temos suporte. Contamos com uma mesa de cirurgia. Mas se o caso for muito grave, ele será levado para o Cetas de Maceió, onde a estrutura é completa. Nosso maior empenho é salvar a vida desses animais”, afirma.

Macaco-prego-galego


O presidente da SOS Caatinga contou que desde 2016, a ONG tem monitorado o Macaco-prego-galego, que chegou a ser considerado extinto da natureza, mas foi redescoberto em 2006.

“Em 2016 a gente recebeu a denúncia de que esse primata era mantido em cativeiro e realizamos o resgate. A Caatinga é um lar de muitos animais ameaçados e atuamos para proteger todas as espécies”, conta.
Dos 25 primatas mais ameaçados de extinção no planeta, um deles é o Macaco-prego-galego, por isso a importância de lutar pela sua preservação e realizar o monitoramento dos indivíduos na natureza.

“Mas não são somente os animais silvestres que sofrem com a degradação do seu habitat. A vegetação da Caatinga e a madeira extraída ilegalmente é muito utilizada para a construção de cancelas e carvão por exemplo. A Caatinga de Alagoas já perdeu 70% da sua área. O bioma tem um condicionamento de regeneração rápido e precisamos alertar para que as pessoas preservem suas árvores frutíferas, pois os animais dependem delas para sobreviver, tanto os silvestres como os bodes e bois que vivem nessa região.

Passagem de Fauna

A SOS Caatinga está trabalhando para que haja passagens de fauna das rodovias federais e estaduais que passam pela Caatinga, e também no Canal do Sertão, que leva água do Rio São Francisco para comunidades mais afastadas.

“Muitas famílias de animais silvestres foram separadas pela construção do Canal do Sertão e podemos perder a pureza das espécies, caso elas não se reencontrem. Outro ponto importante com relação ao Canal é a construção de canaletas para que os animais possam beber da água. Muitos acabam caindo lá dentro e não conseguem mais sair. Também precisamos que o poder público federal construa passagens de fauna a cada 5km do Canal do Sertão”, explica Marcos Araújo.

As passagens de fauna nas rodovias devem diminuir os casos de atropelamento de animais que tentam atravessar de um lado para o outro, e acabam sendo atingidos por veículos.

Outro ponto citado pelo presidente da SOS Caatinga, é a urgência de apoio das prefeituras das cidades do Sertão de Alagoas para que haja um trabalho intenso de educação ambiental nas escolas e dentro das comunidades.

“É preciso que haja educação ambiental nas escolas, porque as crianças se sensibilizam mais do que os adultos e podem ser educadores de suas famílias. Precisamos levar o assunto também para restaurantes e hotéis, para que os turistas que visitam nossa região, sejam orientados sobre os cuidados que devem ser tomados na Caatinga”, lamentou.

Manter animais silvestres em cativeiro pode gerar multa de R$ 500 a R$ 1 mil e, dependendo da espécie, a multa pode chegar a R$ 5 mil. Se for constatado maus-tratos, o responsável pode responder pelo crime e pegar pena de até 1 ano e 4 meses de prisão. Caso a quantidade de animais silvestres mantidos em cativeiro seja muito grande, pode ser considerado crime de tráfico de animais.