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Especialistas voltam a criticar SMTT após confirmação de abertura de ruas: "Mostra-se incompetente"

Em coletiva, órgão apresentou à imprensa projeto de mobilidade urbana para a região da Jatiúca, em Maceió

Por Vinícius Rocha 23/03/2023 15h03 - Atualizado em 23/03/2023 18h06
Especialistas voltam a criticar SMTT após confirmação de abertura de ruas: 'Mostra-se incompetente'
Projeto da SMTT quer abrir quatro ruas na Vera Arruda em horário limitado e com fiscalização - Foto: Reprodução

Especialistas em mobilidade urbana voltaram a criticar a Secretaria Municipal de Transporte e Trânsito (SMTT) após o órgão anunciar o projeto de mobilidade urbana para a parte baixa da capital alagoana, incluindo a abertura de quatro ruas para fluxo de veículos no Corredor Vera Arruda, na Jatiúca.

Para o arquiteto e urbanista Daniel Moura, a SMTT se mostra incompetente na tentativa de reduzir o uso de carros nas cidades, indo na contramão do que está sendo feito em cidades do mundo inteiro.

A SMTT anunciou o projeto, que ainda está com consulta pública em aberto, na manhã desta quinta-feira (23), em entrevista coletiva concedida à imprensa e transmitida online. O órgão justificou as mudanças com a alegação de que elas irão promover a fluidez no trânsito na parte baixa da capital alagoana e diminuirá  também o tempo de viagem para a maioria da população, que utiliza o transporte público. “É um inconveniente mínimo para quem mora ali que vai trazer um benefício para um grande número de pessoas da cidade”, argumentou o superintendente da secretaria, André Costa.

Para Moura, no entanto, a medida é “enxugar gelo”. “As pessoas compram carros e eles oferecem mais espaço para as pessoas comprarem mais carros. São incompetentes para buscar soluções sustentáveis”, diz. Segundo o arquiteto, que tem especialização em desenho urbano, o argumento de que ao melhorar para os carros vai melhorar também para o transporte coletivo é “pura balela”.


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Moura diz ainda que a prefeitura deveria oferecer facilidades para que as pessoas se sintam estimuladas a usar meios de transporte diferentes do carro e aponta estratégias que desincentivem o uso do automóvel como meio de locomoção.

“Para o transporte coletivo, pode aumentar a quantidade de vias com faixas exclusivas para ônibus, que reduzem o tempo no trajeto, racionalizar as linhas (reduzindo o número de linhas sobrepostas e integrando-as), discutir a questão tarifária, já que o transporte coletivo é garantido como um serviço público essencial na CF88 (art. 30, V), mas é oferecido para a população como uma mercadoria, onde só usa quem paga por ele; para as bicicletas, ampliar a malha cicloviária, com ciclovias, ciclofaixas, implantar serviços de compartilhamento de bicicletas, como já existem em outras cidades, dar incentivos fiscais para empresas que recebem bem o ciclista, com bicicletários e vestiários, por exemplo; para pedestres e pessoas com mobilidade reduzida, oferecer calçadas acessíveis e arborizadas, onde o caminhar seja algo prazeroso e não um martírio”, relata.

Em entrevista ao Jornal de Alagoas, publicada em 16 de março, o especialista havia comentado que na literatura científica atual sobre mobilidade urbana é possível observar "que quanto mais espaço é ofertado para os automóveis, mais as pessoas sentir-se-ão estimuladas a usar o automóvel e aquele espaço que foi oferecido em poucos anos voltará a estar congestionado".

Na entrevista coletiva desta manhã, o superintendente da SMTT afirmou, sem citar nomes, que quem já falou em literatura mundial e diz que é um retrocesso é porque “está lendo parte da literatura. Não conhece ela toda". 

"Infelizmente discurso tem para qualquer lado, só que eu escolho os livros que dizem respeito aquilo que eu estou defendendo, vou escolher as experiências no mundo que eu acho que eu concordo e que eu quero que prevaleça". André Costa, entretanto, não apresentou nenhuma referência científica que embasasse seus apontamentos. 

A engenheira de trânsito e professora universitária, Jessica Lima, também não concorda com a abertura das vias. Segundo ela, um estudo considerando dados de cidades de 228 regiões metropolitanas nos EUA mostrou que o ganho de capacidade gerado pela abertura de vias é anulado pelo aumento dos deslocamentos por carro que se seguem, mesmo quando esse ganho de capacidade era substancial.

“O que leva a SMTT a crer que a indução de demanda não vai acontecer em Maceió?”, questiona.

Ela também afirmou que os dados apresentados pela SMTT com relação ao aumento de 29% no número de passageiros no transporte coletivo dizem respeito a um período entre 2020 e 2022, mas que, devido a pandemia, deve-se observar também os números de anos anteriores a esse período.

Vale destacar que, durante a entrevista coletiva, a SMTT apontou números, baseado em estudos próprios, garantindo que as mudanças vão permitir mais viagens das linhas de ônibus, o que por sua vez vai reduzir o número de passageiros por viagem e também diminuir o tempo das viagens, beneficiando 75 mil pessoas que circulam diariamente naquela região, de acordo com o órgão.

A SMTT reforçou também que a prioridade da gestão da Prefeitura é incentivar a mobilidade ativa, incluindo a promoção de espaços destinado a pedestres e ciclistas, citando os projetos de ciclofaixas da Avenida Fernandes Lima, no Farol, da Avenida Siqueira Campos, no Trapiche, da Faixa Verde, na Orla de Ponta Verde e das ruas abertas no Vergel do Lago e Clima Bom. 

De acordo com a SMTT, no novo Eixo Viário do Corredor Vera Arruda o tráfego de veículos seria liberado apenas entre 7h às 19h, com a utilização de semáforos, pistões hidráulicos, câmeras OCR que serão utilizados para a fiscalização no período em que o tráfego for proibido. A área de convívio aproximada do Corredor Vera Arruda é de 42 m². A SMTT pretende criar passagens elevadas entre os giradores para garantir o fluxo seguro de veículos. Essa intervenção ocuparia 336m², o que equivale, segundo o órgão, a 0,8% da área de convívio total do corredor.

A consulta pública sobre a abertura de ruas na Vera Arruda permanece aberta até o dia 28 de março.