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Tim, Claro e Vivo desobedecem Anatel e travam acesso de internet para alunos pobres de AL
Operadoras afirmam que acionaram a Justiça e que empresa que venceu licitação não tem autorização para fornecer internet móvel
As operadoras de telefonia Claro, Tim e Vivo têm desobedecido determinações da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) e se recusam a vender linhas de dados de internet para atender a programas públicos de conectividade para alunos pobres e professores de redes públicas de Alagoas e do Amazonas.
As três empresas se recusam a fornecer os chamados perfis elétricos (que carregam os dados nos chips) para os programas de conectividade dos dois estados, conexão esperada para 650 mil alunos.
A agência já aplicou multa diária de R$ 50 mil por esse descumprimento e avalia levar o caso à Justiça e ao Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).
Esses projetos ocorrem no âmbito de lei federal que determinou o repasse de R$ 3,5 bilhões aos estados para garantir internet a 22 milhões de alunos pobres registrados no CadÚnico (usado no Bolsa Família) e a professores da rede pública. Os prejuízos de aprendizagem causados pelo fechamento das escolas na pandemia motivaram a criação da lei.
Os dois estados, Alagoas e Amazonas, fizeram licitações no ano passado, vencidas pela empresa Base Mobile. As contratações preveem fornecimento de acesso com filtro —que permita apenas o uso da internet para fins educacionais— e de chips universais. No modelo, é possível trocar de operadora remotamente com base na existência e na qualidade de cobertura na residência dos estudantes.
As empresas são contrárias a esses termos e se recusam a vender a preço de mercado as linhas de conexão. Além de Amazonas e Alagoas, a Base conquistou editais da Bahia, de Goiás e de um consórcio de redes de ensino de Santa Catarina. Nos três últimos casos, os projetos ainda estão sendo implementados.
Essas licitações, somadas, preveem internet para 1,2 milhão de estudantes dos ensinos fundamental e médio.
As operadoras questionaram as licitações e também entraram na Justiça —até agora, não conseguiram nenhuma decisão favorável. Um dos principais argumentos é de que a Base Mobile estaria fazendo revenda da conexão.
Em nota, as três companhias afirmaram que a empresa não tem autorização para fornecer internet móvel.
Os editais falam em contratações de softwares ou plataformas com exigência de controle de acesso somente para conteúdos educacionais, o que exige filtros. O Marco Civil da Internet veda que operadoras façam filtragem de conteúdos.
A Anatel, que regula o setor, refutou o entendimento das operadoras e determinou que elas fornecssem as linhas até 15 de abril, com multa diária de R$ 50 mil em caso de descumprimento.
Após um novo recurso administrativo das três empresas, o presidente da Anatel, Carlos Baigorri, manteve a decisão anterior, reafirmando a obrigação das operadoras em fornecer os acessos. Os despachos, de 28 de abril, ressaltam os riscos de impacto na "execução de política pública relevante".
Os documentos, obtidos pela Folha, destacam que os beneficiários são professores da rede pública e estudantes pobres e que o prazo para uso dos recursos é exíguo, já que a verba precisa ser usada até o fim do ano.
"Quem está sendo prejudicada é a sociedade brasileira", disse à Folha o presidente da Anatel. "Isso não é novidade para a Anatel, estamos acostumados a combater o abuso de poder econômico. Vamos esticar a corda e, institucionalmente, fazer valer essa política pública".
A agência avalia acionar a AGU (Advocacia-Geral da União) para levar o caso à Justiça e também ao Cade.
*Com Folha de S. Paulo