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Aumento de animais silvestres em área urbana de Maceió tem causado problemas, denuncia advogada

Moradores do Flexal de Baixo e de Cima relatam que animais silvestres têm se alimentado de bichos domésticos e que não há assistência por parte da Braskem ou do poder público

Por Shelton Melo* 21/06/2023 17h05 - Atualizado em 22/06/2023 10h10
Aumento de animais silvestres em área urbana de Maceió tem causado problemas, denuncia advogada
Cobra é avistada atacando galinha na região dos Flexais, em Maceió - Foto: Cortesia ao Jornal de Alagoas

Moradores do Flexal, uma das regiões mais isoladas de Maceió e prejudicadas pelo afundamento de solo causado pela mineradora Braskem em Maceió, divulgaram nesta semana, através da página do Movimento SOS Pinheiros, o desaparecimento de cerca de nove gatos da comunidade.  Nos Flexais de Cima e de Baixo moram ainda 9,5 mil pessoas. 

A informação ganhou força quando uma cobra jiboia de cerca um metro e meio foi encontrada e capturada no comércio do bairro, dentro de uma gaiola. Seu objetivo era se alimentar de um passarinho. Semanas antes, o mesmo animal foi avistado alimentando-se um galo que havia desaparecido. O encontro entre os animais silvestres e os domésticos em Bebedouro tem se intensificado desde a mudança da paisagem urbana em toda  a região. 

Com o afundamento do solo provocado pela extração de sal-gema da Braskem, aproximadamente 60 mil pessoas de cinco bairros de Maceió foram expulsas de suas casas, e regiões como a do bairro do Bebedouro ficaram silenciosas, abandonadas. Nos lugares onde havia casas e famílias morando, encontra-se hoje um ambiente fantasmagórico, com imóveis quebrados e tomados por vegetação. 

Além do aumento no número de répteis, moradores relatam ter visto raposas e jacarés passeando onde antes haviam ruas e avenidas. Vale destacar que próximo à região dos Flexais fica localizado o Parque Municipal de Maceió. 

Ao Jornal de Alagoas, a advogada ambiental e ex-integrante da Comissão de Bem-Estar Animal da Ordem do Advogado do Brasil (OAB), Elisa Moraes, falou do medo da população. "Os moradores do Flexal estão muito assustadas por conta dessa cobras. A maioria é pobre e não tem assistência. Eles temem que algum animal entre em suas casas e machuquem as crianças", afirmou.

Esse desequilíbrio ambiental está enquadrado na lei de crimes ambientais, lei nº 9.605, de acordo com a advogada denunciante. Elisa pediu posicionamento da empresa: "Entendo todo esse desequilíbrio como crime ambiental. Os moradores querem que a empresa assuma a responsabilidade dela, tirem os animais dos bairros afetados, os abriguem e assuma o cuidado deles".

Atualmente, cerca de 1100 animais estão em condição de abandonado só no bairro do Pinheiro, e todos os dias moradores encontram gatos, cachorros, galinhas e outros animais domésticos mortos. "Já encontramos animais dentro de casas recém tamponadas pela Braskem. Animais que ficaram presos após o imóvel ser fechado e morreram sem ter como sair. Ossadas também são encontradas. São várias situações de maus-tratos são observadas", complementou.

Animais abandonados recebem auxílio. Foto: Cortesia


Em 2020, a advogada denunciou a Braskem ao ministério Publico Estadual de Alagoas (MPE-AL) quanto ao abandono dos animais e a falta de assistência da empresa.. Houve, segunda Elisa, aproximadamente 17 audiências públicas, mas nenhuma pauta teria sido acolhida pela empresa. Centenas de animais foram abandonados pelas famílias que deixaram os bairros às pressas, para casas alugadas, muitas vezes, menores do que as que já se habitava. 

O resultado da ausência de políticas públicas e de assistência da empresa foi uma enorme quantidade de bichos largados, à princípio, à própria sorte. Organizações Não Governamentais de cuidados animais e trabalhos realizados pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal) foram responsáveis pela castração de muito desses animais, evitando com que houvesse uma proliferação ainda maior de animais de rua. 

Para chegar à região do Flexal, é preciso cruzar um "bairro fantasma" ou pegar uma embarcação pela lagoa Mundaú. Os moradores da região estão sofrendo há dois anos com a falta de serviços essenciais, como escolas e postos de saúde, e pedem para serem relocados, como ocorreu com as áreas vizinhas.

*Estagiário sob supervisão