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Menina de 13 anos dá a luz após sofrer estupro e ter aborto negado
Adolescente ainda com 12 anos gravava vídeos no quintal de sua casa quando um homem desconhecido a atacou e a estuprou
Ashley* tem treze anos, e deveria entrar no período equivalente à sétima série nas escolas dos Estados Unidos, mas essa trajetória será interrompida. Aos 13 anos, ela foi estuprada e teve acesso negado ao aborto legal. Segundo os jornais The Guardian e a revista Time, em 2022, ela deu a luz a um menino na cidade de Clarksdale, no Mississippi.
Mississipi é um dos estados mais conservadores do país em relação ao acesso ao aborto legal e, desde que a Suprema Corte dos Estados Unidos reverteu a Roe vs. Wade (definição que descriminalizava o aborto em todo o país), o acesso se tornou ainda mais difícil.
De acordo com os jornais, a adolescente ainda com 12 anos gravava vídeos no quintal de sua casa quando um homem desconhecido a atacou e a estuprou. Após 39 semanas de gestação, ela deu à luz, em um parto que foi descrito como "doloroso".
"Essa situação machuca mais porque era uma criança inocente fazendo o que crianças fazem, brincando, e era minha criança. Machuca, e sempre vai machucar", disse Regina, mãe de Ashley, à Time.
A descoberta da gravidez aconteceu após Ashley passar muito mal, com quadro muito frequente de vômitos e comportamento muito diferente; ao invés de brincar ou gravar vídeos pelo celular, ela estava mais isolada, em seu quarto, ou em silêncio toda vez que se sentava à mesa para comer ou interagir com outros familiares.
Regina conta que, quando ela completou 13 anos em novembro de 2022, não estava com humor para comemorar o próprio aniversário. “Ela apenas disse: 'Dói'”, lembra. “Ela estava chorando em seu quarto. Perguntei a ela o que havia de errado e ela disse que não queria me contar."
Após passar muito mal, Ashley e sua mãe foram ao pronto-socorro do Northwest Regional Medical Center, em Clarksdale. Após receber o exame de sangue, profissionais de saúde chamaram a polícia e a menina chegou a ser questionada sobre "o que andava fazendo", segundo relatório que a Time teve acesso. Foi quando descobriram que Ashley estava grávida. “Eu desabei”, disse Regina.
O acesso ao aborto negado
Foi ao descobrir que estava entre 11 e 15 semanas de gravidez que o hospital encaminhou Ashley para a Clarksdale Women's Clinic, que oferece serviços de obstetrícia e ginecologia em seu próprio estado. “
Foi surreal para ela”, disse a Dra. Erica Balthrop, que atendeu a menina à época, em conversa com a Time. “Ela simplesmente não tinha ideia de que estava grávida".
Como em Mississipi a legislação é extremamente rígida comparada a outros estados norte-americanos, a médica sugeriu que o local mais próximo com chances realizar a interrupção da gravidez naquele estágio seria em Chicago, no estado de Illinois - a cerca de nove horas de carro do local a família de Ashley mora.
Sem dinheiro para fazer a viagem ou com possibilidade de sua mãe faltar ao trabalho ou pagar pelo procedimento, a solução encontrada foi a que acontece com muitas meninas e mulheres no mundo todo: dar continuidade à gravidez ou interrompê-la de maneira insegura e colocar sua vida em risco. No caso da adolescente, a primeira escolha prevaleceu.
O direito ao aborto nos Estados Unidos
Tecnicamente, o estado do Mississipi permite abortos em casos de estupros e quando há risco de vida, mas ainda assim as operações liberadas nesses casos são raras (este seria o caso de Ashley, viu?). Mas a última clínica especializada em direitos reprodutivos do estado fechou após a decisão da Suprema Corte dos EUA, que retirou o direito constitucional - garantido a quase meia década - de acesso ao aborto legal e permite os governos estaduais construam suas próprias leis sobre o tema.
No caso de Mississipi, o governo estadual decretou que estupros precisam ser denunciados às forças policiais para que o aborto seja permitido. O estado também proíbe a realização do aborto após 15 semanas de gestação, em todas as causais, ou seja: em caso de estupro, quando há risco de vida ou problemas de saúde do feto.
*O nome da adolescente foi alterado pela reportagem da Time para proteger sua identidade