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Crime da Braskem provoca suicídios em massa e empresa "ganha" área nobre em Maceió, aponta reportagem
O acordo existente entre a indústria petroquímica e os moradores que aceitaram o negócio garante o auxílio de apenas R$ 1.000,00 mensais
Dando sequência à série de reportagens "desvendando o caso Braskem", de autoria da jornalista Heloísa Vilela, e exibida no canal do Youtube do Instituto Conhecimento Liberta (ICL), o segundo vídeo da série foi publicado no dia 20 de setembro e aponta uma série de questões que dizem respeito ao afundamento de solo que causou a migração foraçada de mais de 50 mil pessoas em Maceió.
A reportagem se inicia de forma chocante trazendo Cássio Araújo, morador do bairro do Pinheiro, um dos bairros afetados pelo crime da Braskem e que vive no local há 52 anos, Ele relembrou a morte do seu vizinho, o policial civil José Ronaldo Dias Cavalcante, que teria tirado a própria vida dentro do próprio carro em frente à sua casa no dia 3 de março deste ano.
Ele não foi o único. Atualmente, existem 12 casos de suicídio diretamente ligados ao desastre batizado de "Chernobyl alagoana" e os danos psicológicos causados diante do ato criminoso, que resultou em cerca de 55 mil pessoas sendo obrigadas a se retirarem de suas residências em cinco bairros de Maceió.
Intensificando a indignação e revolta sentida por muitos, a Braskem, causadora do desastre ambiental responsável por afundar os cinco bairros, passou a ser a dona do lugar. No último acordo realizado entre a mineradora e a Prefeitura de Maceió, ela passou a ser dona inclusive das praças e prédios públicos situados na região, como escolas e postos de saúde.
"Ela [Braskem] conseguiu fazer um dos melhores negócios que uma empresa pode ter feito na vida, transformou uma indenização, por conta dessas maldades que ela provocou, em um grande negócio", disse Cássio, que se recusa a deixar o seu imóvel, onde viveu por toda a sua vida, por acreditar que o ato de se retirar enfraqueceria a sua parte na negociação com a mineradora.
Ele aponta ainda que o acordo existente entre a indústria petroquímica e os moradores que aceitaram o negócio garante o auxílio de apenas R$ 1.000,00 mensais, valor este que arca com aluguéis apenas na periferia.
O deslocamento de tantas pessoas da área afetada pelo desastre, que consequentemente precisaram encontrar outros locais para morar, causou inclusive o aumento no preço dos imóveis da capital devido a alta procura dessas pessoas. Enquanto isso, a Braskem possui hoje uma área de localização nobre de 5.800 m².
A reportagem traz ainda o fato de que a responsável pelo maior desastre ambiental de Alagoas está, atualmente, retirando areia das praias da capital e a utilizando para preencher as minas e estabilizar o solo, alterando o meio ambiente na região.
"Acabamos de ingressar com uma representação no Ministério Público Federal (MPF) contra a Agência Nacional de Mineração, o Instituto do Meio Ambiente (IMA), o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e obviamente a Braskem por poluição qualificada", conta Alexandre Sampaio, presidente da Associação dos Empreendedores e Vítimas da Mineração.
Agora dona de toda a área, que tem uma bela paisagem, acredita-se que a mineradora já esteja pensando nos lucros do futuro, como explica o cientista político Diego Rodrigues, que relatou que diversas lideranças desses bairros temem que daqui a alguns anos, quando o solo da área estiver estabilizado, a região seja tomada por resorts e condomínios de luxo.