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Conspirações e apoio da extrema-direita: entenda as polêmicas que envolvem o filme Som da Liberdade
O filme "Som da liberdade" estreou no Brasil na última quinta-feira (21) e em seu primeiro final de semana de estreia já se tornou a principal bilheteria do país. Apesar da alta procura, a obra vem causando polêmica nas redes sociais devido ao seu discurso e sobre as reais intenções da trama.
Dirigido e escrito por Alejandro Monteverde, o filme foi supostamente baseado em histórias reais vividas por Tim Ballard, um ativista e ex-agente especial do Departamento de Segurança Interna do governo dos Estados Unidos, e distribuído pela produtora cristã Angel Studios.
Uma das primeiras polêmicas envolvendo a trama é referente a sua veracidade. Isso porque, apesar de Tim ser conhecido por ter criado uma organização anti-tráfico de pessoas a qual ele atribuiu o resgate de várias vítimas, a imprensa estadunidense afirma que não há provas suficientes para comprovar a alegação.
Outra polêmica diz respeito à possível relação do enredo do filme com a QAnon, uma teoria da conspiração bastante popular entre a extrema direita nos EUA. Trata-se de uma narrativa falsa que acusa os progressistas de controlarem redes globais de tráfico sexual infantil.
Quando perguntados sobre a ligação, a produtora e o diretor do filme negaram as acusações, porém, o ator principal do filme, Jim Cazeviel, apoiou publicamente a teoria conspiratória QAnon e espectadores inflamados acusaram resenhistas que criticaram o filme de pedófilos. Miles Klee, da revista Rolling Stone, recebeu até ameaças de morte por descrever o longa como um “thriller com pitadas de QAnon”.
Mobilização de evangélicos e bolsonaristas
No Brasil, o longa mobilizou um público específico que se uniu para torná-lo recorde de bilheteria no país. Vendido como uma trama antipedofilia, a produção tem ao seu lado grupos que se autodefinem como conservadores, como evangélicos e bolsonaristas, que utilizam da pauta para classificar, de forma má intencionada, aqueles que criticam o filme como oposição à luta contra a pedofilia.
Isso acabou criando um movimento incomum nos cinemas brasileiros, podendo ser notado principalmente nas redes sociais, onde uma postagem viralizou na última semana. Nas imagens, é possível ver um grupo entoando louvores na porta do cinema com a legenda "A igreja se uniu e fechou a sala toda".
Outro fato curioso é de que, durante a pré-estreia do filme em Brasília, no dia 19 de setembro, estiveram presentes a família Bolsonaro, a ex-ministra e senadora Damares Alves e o deputado Mário Frias.
Nas redes sociais, Flávio Bolsonaro escreveu: “Convido a todos que defendem os valores cristãos para assistir ao filme”.
Na web, diversos internautas apontaram o fato de que a produção foi financiada por pessoas e instituições ligadas a extrema-direita americana, ligando o combate à pedofilia e ao tráfico infantil a uma posição política, estando o mesmo acontecendo no Brasil, o que compromete a real luta humanitária e o trabalho de ativistas que atuam contra a exploração infantil.
Denúncias contra Tim Ballard
Uma outra polêmica gravíssima cerca a produção. No dia 19 de setembro, um grupo de mulheres anônimas da Operation Underground Railroad, fundada por Ballard, que teria inspirado o filme, voltou a acusá-lo de abuso.
O grupo o acusa de assédio sexual, manipulação espiritual, aliciamento e má conduta sexual enquanto as mesmas trabalhavam na fundação de Ballard, que atua no combate ao tráfico infantil.
Após as denúncias, Tim Ballard deixou sua função na organização e negou o que foi dito pelo grupo, denúncias que alegou serem "invenções infundadas projetadas para me destruir e ao movimento que construímos para acabar com o tráfico e exploração de crianças vulneráveis".
*Com informações do Terra