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Quilombo Jorge: Resistência e desafios atuais são encarados pela FPI do São Francisco
Água, posto de saúde e moradias dignas estão entre maiores necessidades de quilombolas de Poço das Trincheiras/AL
Na zona rural de Poço das Trincheiras e Santana do Ipanema, no sertão de Alagoas, estão algumas comunidades quilombolas que resistem há anos de preconceito e vulnerabilidade social. A falta d´água para o sertanejo é a luta pela própria sobrevivência, onde a ausência de água se traduz em fome e doenças.
Nesse cenário desafiador, a Fiscalização Preventiva Integrada (FPI) do Rio São Francisco emerge como um agente indutor de políticas públicas essenciais a essas comunidades. A FPI visitou o Povoado Jorge, em Poço das Trincheiras/AL, o mais antigo quilombo da região. Uma comunidade que remonta a possíveis fugitivos do ataque a Palmares, em 1694, perseguidos por Domingos Jorge Velho até essa localidade.
Jorge Velho teria ficado na região por um tempo buscando capturar pessoas negras para reescravizá-las. Esse período de ocupação marcou profundamente a área, que passou a ser conhecida como Jorge, o local onde Jorge esteve.
Apesar de sua história rica, o Povoado Jorge, berço dos quilombos do Alto do Tamanduá e Baixio do Tamanduá, permanece o mais vulnerável. A água escasseia nas casas, e a comunidade carece de cisternas, ao contrário dos outros dois quilombos.
As moradias precárias são outro ponto crítico. Nas chuvas do último inverno, muitas casas foram danificadas, algumas inabitáveis, levando alguns moradores a construírem casas de taipa, enfrentando condições adversas. Sem falar na falta de banheiros nas casas, que leva à sujeira, insalubridade e doenças.
Embora conte com uma escola de boa qualidade que atende as crianças do povoado, a comunidade de cerca de 160 famílias enfrenta a falta de um posto de saúde. Os atendimentos básicos ocorrem semanalmente na sede da associação comunitária, mas no dia da visita da FPI, já era a segunda terça-feira consecutiva sem atendimento. Uma criança ferida na noite anterior aguardava transporte para o hospital, pois os pais não conseguiram que a ambulância prestasse socorro.
A falta de perspectivas e de oportunidades para os moradores do Quilombo Jorge leva os jovens a se aventurarem em lavouras pelo Sul e Sudeste do país, nem sempre em condições adequadas. Os raros alunos que concluem o ensino médio também não conseguem emprego por falta de vagas.
A visita ao Quilombo Jorge foi feita pela Equipe Comunidades Tradicionais e Patrimônio Cultural, coordenada pelo Ministério Público Federal (MPF), com a presença do procurador da República Érico Gomes, que também coordena a FPI em Alagoas, que informou aos moradores que estará empenhado em efetivar políticas públicas para os quilombolas.
A visita foi acompanhada pela Rede Mulheres de Comunidades Tradicionais (RMCT), que intermediaram o contato com a comunidade e facilitaram a interlocução com os moradores. Assim como a Fundação Palmares e a Secretaria de Estado da Mulher e dos Direitos Humanos (Semudh) que apresentaram políticas públicas disponíveis para os quilombolas, indicando a Secretaria Municipal de Assistência Social como o órgão facilitador.
O representante do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), que investigou o patrimônio cultural da comunidade, descobriu eventos vinculados à Igreja Católica, como a tradicional procissão de São José em março.
Enquanto a equipe se envolvia em diálogos com os moradores, o Instituto do Meio Ambiente (IMA) realizou uma inspeção na comunidade, examinando a qualidade da água e o estado do saneamento básico. E a Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh) avaliava meios para viabilizar o acesso à água de qualidade na comunidade.