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Região afetada pela mina da Braskem se transforma em bairro fantasma e sofre invasão de ratos

Área vizinha viu saída de comércios e de serviços, mas moradores seguem no local; ao todo, solo já afundou 1,80 m

Por Redação* 05/12/2023 09h09
Região afetada pela mina da Braskem se transforma em bairro fantasma e sofre invasão de ratos
Região afetada pela Braskem vira bairro fantasma - Foto: O globo


Após a região que fica em torno da mina da Braskem começar a afundar em Maceió (AL), a área que fica em torno se transformou em um bairro fantasma. O comércio, as escolas e outros serviços foram embora do local, e moradores que restam relatam falta de água e uma invasão de ratos.

A equipe da Folha de São Paulo visitou nesta segunda-feira (4) imóveis que ficam a 500 metros da mina, no bairro de Bom Parto. Segundo quem vive nestes locais, o problema começou há cinco anos, e vem se intensificando desde então. A empresa diz ter um programa para atender as vítimas desde dezembro de 2019.

As casas desocupadas, sem teto, portas ou janelas agora têm como moradores galinhas, gatos e outros animais, além do cenário de destruição. Quando a Folha esteve na região, três crianças brincavam na rua, em meio ao barro, lixo e poças de água.

"Ninguém pode sair de casa. Temos medo de deixar as nossas coisas, nossas crianças, e acontecer alguma coisa. Falta água sempre. A que chega, tem gosto de lama. Estamos vivendo com ratos, os bichos mesmo. Mercadinho? Não tem. Farmácia? Não tem. Escola? Não tem. Posto de saúde? Não funciona mais", diz Maria Betânia Galdino da Silva, 54, moradora do bairro.

Ela está sem trabalhar desde 2018. "Hoje, vivo as custas dos meus filhos. Sou viúva. Então, como na casa de um filho, de outro, e assim vou levando a vida. Entre as pessoas da minha família, com netos e bisnetos, são quase 30 aqui nessa região", complementa ela.

Os primeiros relatos sobre os danos no solo no município surgiram em meio de tremores de terra no dia 3 de março de 2018. Na ocasião, o abalo fez ceder trechos de asfalto e causou rachaduras no piso e paredes de imóveis, atingindo cerca de 14,5 mil casas, apartamentos e estabelecimentos comerciais.

Todos os moradores do Mutange (onde fica a mina) já foram retirados. Bom Parto é o segundo bairro mais afetado, mas ainda restam pessoas vivendo na área. Outras regiões também foram atingidas, incluindo Pinheiro, Bebedouro e Farol. No total, o desastre ambiental atinge cerca de 20% do território da cidade.

Em 2019, o Serviço Geológico do Brasil, órgão ligado ao Ministério das Minas e Energia, concluiu que as atividades de mineração da Braskem em uma área de falha geológica causaram o problema.

Na época, a mineradora tinha em área urbana 35 poços de extração de sal-gema, material usado para produzir PVC e soda cáustica. Os poços estavam pressurizados e vedados, porém a instabilidade das crateras causou danos ao solo, que foram visíveis na superfície.

A exploração do minério começou em 1979 e se manteve até maio de 2019, quando foi suspensa pela Braskem um dia após a divulgação do laudo pelo Serviço Geológico.

*Com Folha de São Paulo / Josué Seixas