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Superlotação e ineficiência: transporte escolar em Maceió prejudica alunos
"Muito calor, crianças amontoadas e correndo risco de integridade física" diretores criticam a atuação da Semed em fornecer o direito dos estudantes
Alunos de escolas do município de Maceió vêm sofrendo com a superlotação e a má qualidade nos serviços prestados pela empresa Localyne Transporte e Turismo. Em relatórios produzidos por diretores de escolas municipais, eles apontam que o transporte na educação infantil de Maceió são feitos por “ônibus superlotado e colocando as crianças em perigo”.
A média de pessoas transportadas sentadas dentro do transporte coletivo gira em torno de 40. Com crianças,esse número deve ser reduido para garantir a segurança dos passageiros. Porém, na Escola Municipal Paulo Bandeira, no Benedito Bentes, somente em uma das rotas que levam os alunos do período da manhã, o dobro de crianças, cerca de 80, são transportadas de uma única vez.
Cristiane da Silva, de 50 anos, diretora da escola, mostrou o Atesto do Transporte Escolar da unidade, que é encaminhado como relatório à Secretaria Municipal de Educação (Semed).
Nas observações, a diretoria da escola cita “ônibus superlotado e colocando as crianças em perigo”, além disso, outros aspectos da precariedade do transporte são citadas:
- "Todos os dias as crianças chegam atrasadas na aula, calor, apertado, crianças indo a pé a viagem inteira, vomitando, passando perigo. O seu direito não está sendo garantido.”, é escrito ao fim das observações, em negrito.
Segundo Cristiane, todas as escolas do município sofrem com a falta de apoio da Semed. “São todas que passam por isso, acho que não tem uma que não reclame.”
A equipe do JAL esteve na escola e acompanhou um dos abastecimentos de alunos. O motorista, que também não quis se identificar, temendo perder o emprego, disse que: "realmente é muito quente, as crianças passam um sufoco até chegarem aqui."
Outra unidade, a Escola Municipal Major Bonifácio Silveira, localizada na Gruta de Lourdes, uma das responsáveis pelo espaço, que não quis se identificar, por medo de represálias da Semed, disse que “não tenho como defender, os ônibus são muito velhos e ruins.”
A diretora conta que todas as unidades da rede municipal sofrem com a falta de estrutura de mobilidade adequada. São muitas crianças, muitas vezes em pé, com calor e correndo risco de se machucarem. “Já tivemos diversas aulas atrasadas por causa disso”, comentou a profissional da educação.
Em um momento da entrevista, a responsável comentou que já houveram inclusive, situações contraditórias quanto ao serviço da Prefeitura de Maceió. A escola faz parte das unidades realocadas, após a desocupação dos bairros atingidos pela Braskem.
Saindo da Flexal de Baixo, a escola foi restituída na Gruta de Lourdes, o que distanciou os alunos. Porém, para regularizar as matrículas, os pais precisam estar presentes para assinar os termos necessários na documentação.
A diretora solicitou que os pais acompanhassem os alunos, em uma ocasião, e receberam a liberação para irem à unidade acompanhando os pequenos, para que a regularização fosse feita. Entretanto, nesta viagem, uma correia do ônibus arrebentou e, em suas palavras:
“Foi um desespero só, imagina, os pais das crianças gritando, crianças gritando, foi uma loucura, imagina se alguém se fere ou se machuca, a culpa ia ser de quem?”, afirmou ela, cabisbaixa com a situação.
Durante a entrevista, ela ainda citou outro caso que impressiona. A Prefeitura de Maceió atrasou aulas e impossibilitou outras, durante o acontecimento da X Bienal do Livro, devido ao uso do transporte escolar, que levaria as crianças para as unidades municipais, para levar grupos de crianças para o evento.
Em outro momento, ela critica a posição da Secretária de Educação de Maceió, Jó Pereira. A responsável pelo espaço comentou que também existem obras inacabadas na unidade da Gruta, assim como em escolas no Benedito Bentes, como é o caso do CMEI Maria José de Oliveira, visitado pela equipe do Jornal de Alagoas e da Escola Municipal Paulo Bandeira, citada acima na matéria.
Segundo ela, a secretária, ao assumir a pasta, “pediu para que as obras parassem, pra ela tomar pé do que estava acontecendo e isso prejudicou os alunos, parou a empresa de engenharia também, só que isso foi em maio né?”, indaga a responsável.
A empresa responsável pelo transporte escolar da cidade de Maceió é a Localine Transportes, que tem sede no Farol. A reportagem tentou contato com a Semed e com a empresa que fornece o transporte, porém não obtemos respostas até o momento.