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Jornalista alagoano comenta charge de 1985 que "profetizou" crime da Braskem em Maceió
Publicada no ano de 1985 no jornal impresso Tribuna de Alagoas, denúncia mostrava risco do colapso do solo em Maceió, confirmado mais de três décadas depois
Arquiteto por formação, o desenhista, chargista, ilustrador, jornalista e analista político, Ênio Lins, tem papel de destaque na história do jornalismo e da comunicação em Alagoas.
Um de seus trabalhos, publicado como charge em 1985 no jornal impresso Tribuna de Alagoas, descrevia uma tragédia que veio se confirmar 38 anos depois. Na imagem, um grande buraco embaixo da terra ameaça casas em Maceió e a denúncia era clara: a extração de sal-gema, em Maceió.
A “profecia” do chargista já alertava para os riscos da mineração em área urbana e mostra que desde aquela década o jornalismo alagoano já tinha ciência dos possíveis prejuízos para a capital, confirmados com o afundamento do solo que devasta Maceió.
Quando se lembra da época em que a charge foi feita, em suas próprias palavras, o jornalista comentou sobre o desafio enfrentado pela imprensa em expor os problemas na época, considerando as diversas restrições: "Então, as matérias negativas sobre a implantação da então indústria salgema, elas foram muito reduzidas pela censura”. No entanto, ele afirma que mesmo com todas as dificuldades, o trabalho era feito “com muita eficiência”.
Sobre a charge que prenunciava a tragédia vivida hoje em Maceió, ele explica que aquela já era uma preocupação da época: "A minha opção foi dar destaque à questão do risco de desabamento, até porque o próprio ecologista na época levava, e quando ele falava isso, mas ele considerava que o principal perigo era a ocupação dessas cavernas com o lixo atômico''.
Atualmente, a atuação de ênio no jornalismo é bastante diversa, e mantém sua presença no meio online, com um site em que expressa seus textos e publicações: "Eu tenho um pequeno portal, não é que não tem assim pretensões comerciais, mas é onde eu coloco minhas coisas regularmente na internet”, referindo-se ao site: eniolins.com.br.
Além disso, Ênio também faz contribuições para veículos impressos: "Diariamente uma coluna de opinião por crítica que se chama 'tique-taque' no Tribuna de Alagoas semanalmente." E destaca também seu trabalho no Correio Alagoano: "Semanalmente também, meia página com uma caricatura de alguém que tenha feito alguma coisa naquele domingo que a versão do Correio Alagoano esteja circulando.", enfatiza.
Sendo um dos nomes de referência no jornalismo alagoano, ele afirma que a cobertura feita em Alagoas, sobre a tragédia envolvendo a mina 18, tem sido "responsável e eficiente". Contudo, ele reconhece que, no cenário nacional, o caso da Braskem “considerando a magnitude e gravidade", ressaltou o chargista.
Como chargista, em suas falas descontraídas, embora mantendo o teor sério das suas opiniões, ele diz que, apesar das complexidades, as charges e textos satíricos têm o propósito de "informar e divertir o público". Ênio faz ainda uma breve contextualização histórica, destacando a tradição secular das charges na comunicação, desde a épocas antigas até os meios digitais que conhecemos atualmente.
Em suas palavras, as charges são instrumentos da comunicação “chamando a atenção para o contraditório, para o absurdo”. E completa: “Essa prática da gráfica ela cresce muito a partir especialmente do século dezenove, especialmente quando surge a imprensa no Brasil e na Europa já existia desde o século dezesseis. É um elemento para dar visibilidade aos problemas socias”.
A situação atual e a cobertura jornalística
Quando questionado sobre a atuação jornalística atual, Ênio Lins menciona chargistas renomados, como Jaguar e Chico Caruso, destacando ainda o trabalho de jovens talentos, como o chargista do jornal O Estado de Minas, que segundo ele é “ absolutamente genial”. Ele também enfatiza a importância da crítica como elemento central na produção diária dos profissionais da área.
Sobre a situação política no caso, principalmente a atuação da prefeitura de Maceió, Lins cita as limitações dos órgãos públicos diante das informações fornecidas pela Braskem ao longo dos anos. Em sua opinião, o contrato da Braskem com o Município deve ser revogado e a empresa deve ser responsabilizada pelos danos causados à cidade e à população.
"A responsabilidade pela tragédia em Maceió é da Braskem. Nenhum acordo pode anistiar a empresa. A revogação do contrato é crucial, não como um castigo, mas para garantir que a empresa continue a ser responsabilizada pelos acontecimentos futuros nas cavernas de extração", afirma Ênio Lins.
O jornalista diz ainda que, em sua posição, se sente na obrigação de intervir e denunciar os fatos. “Não como ativismo, mas como responsabilidade cidadã, opinando, escrevendo, informando e principalmente produzindo as charges sobre a questão atual”, argumenta Ênio.
Para finalizar, Ênio fala emocionado sobre a sua trajetória e agradece à oportunidade dada pela Tribuna de Alagoas, em 1985: "Então eu só tenho que agradecer aos colegas por essa oportunidade e fico muito envaidecido porque qualquer profissional qualquer pessoa que se dedique a sua profissão tem certa vaidade orgulho ao ver que seu trabalho está sendo reconhecido”, conclui o jornalista.
*Estagiária sob supervisão