Geral
"Nem 10kg por dia": pescadores perdem boa parte do pescado da lagoa Mundaú e culpam Braskem
Braskem nega despejar poluentes na lagoa; Prefeitura de Maceió não respondeu quanto ao que pode ser feito para colaborar com os que permanecem pescando na região de risco por necessidade
Pescadores e marisqueiras do bairro Vergel do Lago, estão preocupados com a mortandade de peixes na Lagoa Mundaú. Milhares de peixes apareceram mortos na região no último domingo (31). Eles atribuem a mortandade às atividades de mineração da Braskem e consequências do colapso da Mina 18.
Nesta quarta-feira (3), o Jornal de Alagoas entrevistou pescadores que permanecem trabalhando na parte isolada da lagoa Mundaú. Antônio Maximino (50) e seus três irmãos vivem da pesca no local.
Ele trabalha há mais de 37 anos nesta região. Para ele, a lagoa perdeu a sua “produtividade”, nunca em outro momento de sua atividade se deparou com a situação que está vivendo hoje.
“Teve dia de conseguir pescar até 600kg de camarão, 1000 kg de peixe, quanto mais pegávamos, mais a lagoa produzia. Hoje em dia não chega nem a 10 kg de pescado. Tá tudo acabado por causa dessa empresa aí”, relembrou.
Antônio comentou o modelo de gestão de crise da Prefeitura de Maceió e criticou a falta de representantes da esfera municipal ativamente trabalhando na resolução do problema.
"O Prefeito, Defesa Civil e Braskem já sabiam que isso 'tava' pra acontecer e não fez nada pra ajudar o pessoal que depende tudo, a vida, tudo é aqui. Se não tem pesca, como a gente vive?"
O pescador também contou à reportagem que está tendo que ir até Marechal Deodoro para pescar. Ele disse ainda que o problema não atinge só os pobres, mas também o consumidor, e até mesmo o turista que vem para a cidade pela culinária.
“Até o povo de fora, que não pesca, sofre também, porque não chega ao Mercado. Como é que o povo vai ter no prato se não tem na lagoa?”, indagou.
Prefeitura de Maceió
De acordo com a gestão municipal, as ações de reparação dos danos causados pelo impedimento de pesca nos bairros do Mutange e Bebedouro envolve a “distribuição de mil cestas básicas para os 500 pescadores e marisqueiras cadastrados na Colônia Z4, de Bebedouro, que foram afetados pela restrição de pesca na Lagoa Mundaú.”
Entretanto, a região do Vergel foi uma das que, segundo Antônio, não recebeu ações de intervenção da Prefeitura de Maceió, obrigando os que vivem da atividade a trafegar nas regiões isoladas, por alerta de criticidade e risco de desabamento, para manter o sustento.
Braskem nega crime
Em nota, a mineradora informou que não faz lançamento de qualquer efluente na lagoa. Segundo a Braskem, o trabalho realizado na região está somente relacionado com o fechamento dos poços para extração de sal e todas as atividades são devidamente licenciadas e fiscalizadas.
A empresa também informou que os resultados produzidos, baseados no monitoramento da água na Lagoa Mundaú, não indicam mudanças nos padrões de qualidade.
De acordo com uma avaliação, feita por especialistas da Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e Instituto do Meio Ambiente (IMA), divulgada no dia 18 de dezembro de 2023, os especialistas afirmaram que as análises da Lagoa Mundaú indicam altos índices de contaminação mas, a situação é antiga e não está relacionada à acomodação do solo na região da cavidade 18. Segundo eles, o grande causador é o lançamento de esgoto não tratado e de produtos químicos.
A Prefeitura de Maceió foi questionada quanto às ações para colaborar com os pescadores que perderam grande parte do sustento, porém até o momento não recebemos respostas. O espaço está aberto para atualização.