Toda história tem mais de um lado. E só um lado, o do branco na arte, vem sendo incansavelmente e repetidamente contado ao longo do tempo nos livros, nas salas de aula e nas exposições. Agora, uma expressiva coletânea de obras de artistas negros ganha holofotes em uma exposição inédita no Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo (CCBB-SP), e com Alagoas sendo representada.

Encruzilhadas da Arte Afro-Brasileira reúne obras produzidas por 61 artistas negros, de diferentes regiões, nos últimos dois séculos no Brasil. São cerca de 150 pinturas, fotografias, esculturas, instalações, vídeos e documentos abordando uma variedade de temáticas, distribuídos pelos cinco andares do CCBB.

E essa curadoria conta com a presença de Gleyson Borges, conhecido como “a coisa ficou preta”. Único representante de Alagoas na exposição, que está aberta para visitação até 18 de março de 2024.

Gleyson é um artista visual alagoano que vem desenvolvendo seu trabalho de maneira afrocentrada, usando sua arte como um canal potente na luta antirracista e no empoderamento da população negra. O artista busca, através de suas obras, iniciar diálogos, gerar ação e autodescoberta, utilizando principalmente o formato lambe-lambe para espalhar sua mensagem pela cidade.

Com uma carreira artística que começou em 2016, Gleyson uniu seu repertório em design gráfico com o formato do lambe-lambe para iniciar sua fase artística como ”a coisa ficou preta”, levando suas obras para os muros das cidades, impactando pessoas não só nas ruas, mas também digitalmente, através dos seus registros compartilhados em mídias sociais, que já reúne quase 50 mil seguidores no Instagram (www.instagram.com/acoisaficoupreta) e 15 mil no TikTok.

“A relação e identificação que tenho com minha negritude hoje se deu graças à presença muito forte da arte que consumo desde a minha adolescência, que me ajudou a entender o mundo ao meu redor e que as coisas que aconteciam comigo tinham motivo e nome. A arte negra me ajudou nesse processo, e eu tento retribuir essa contribuição através da minha arte, buscando ter um impacto parecido em pessoas como eu”, relata o artista.

Durante sua trajetória, Gleyson já teve suas obras exibidas em exposições no Centro Cultural de São Paulo (CCSP), Universidade Federal de São Paulo (USP), SESC Quitandinha e agora no Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo (CCBB-SP).

A obra selecionada para exposição se chama Colação, lambe-lambe colada pela primeira vez em 2021, em um muro da Avenida Rotary, em Maceió.

A obra coloca educação como ponto central, sendo “arma” para a emancipação social, política e econômica da população negra. Seu título faz uma alusão não só ao ato de se graduar, mas também à técnica utilizada. A obra é uma releitura de “Flower Thrower” do artista Banksy.

“Colação é uma obra muito potente, que tem algo importante a dizer e consegue falar isso muito alto. Ela está sendo parte de uma exposição coletiva pela segunda vez e eu fico super feliz de ver meu trabalho sendo reconhecido e tendo a chance de chegar a mais pessoas”, completou Gleyson.

A exposição Encruzilhadas da Arte Afro-Brasileira é um desdobramento do Projeto Afro, em desenvolvimento desde 2016 e lançado em 2020, que hoje reúne cerca de 300 artistas catalogados na plataforma. São nomes que abarcam um vasto período da produção artística no Brasil, do século 19 até os contemporâneos nascidos nos anos 2000.

“O propósito da mostra é um diálogo transversal e abrangente da produção artística afro-brasileira no país”, explica o curador Deri Andrade, pesquisador, jornalista, curador assistente no Instituto Inhotim e criador da plataforma Projeto Afro (projetoafro.com) de mapeamento e difusão de artistas negros/as/es da cultura afro-brasileira.

SERVIÇO

Exposição: Encruzilhadas da Arte Afro-Brasileira
Local: Centro Cultural Banco do Brasil São Paulo
Período: 16/12/2023 a 18/03/2024
Ingressos gratuitos: disponíveis em bb.com.br/cultura e na bilheteria física do CCBB SP.
Endereço: Rua Álvares Penteado, 112 – Centro Histórico – SP
Funcionamento: aberto todos os dias, das 9h às 20h, exceto às terças-feiras.
Entrada acessível: Pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida e outras pessoas que necessitem da rampa de acesso podem utilizar a porta lateral localizada à esquerda da entrada principal.