Um gaúcho que aos 58 anos veio conhecer Maceió e logo se encantou. Uma semana na capital alagoana e resolveu ficar, voltando para o Sul do país só para buscar “as coisas” e se arriscar em uma aventura quase à beira-mar.

“As pessoas pensavam que eu tinha enlouquecido, botando fogo três horas da tarde”. A fala de Dadá Gaúcho, apelido de José Luís Batista de Morais, de 63 anos, pode parecer um exagero, mas diz respeito a uma segunda-feira de 2018, um dia após o seu retorno em definitivo para Maceió e marca o começo de um negócio que vem prosperando e conquistando o público maceioense, assim como ele foi conquistado de cara pela capital alagoana. 

"As coisas" buscadas, ele lembra com exatidão: uma churrasqueira, mesa, os talheres. “Entreguei a chave, vim embora”, diz Dadá, que montou, em uma esquina do bairro da Jatiúca, área nobre de Maceió, um churrasquinho com espetos  vendidos a R$ 4,00, preço barato até para os padrões maceioenses. Não foi só o valor que atraiu a clientela, garante, mas também o sabor do churrasco de um gaúcho que trabalha desde os 12 anos com o comércio de alimentos.

Quase seis anos e uma pandemia passados, Dadá Gaúcho deixou o primeiro ponto comercial para trás e aprimorou seu negócio à realidade alagoana. Trouxe o clássico K Churrasco, iguaria do sul do país que serve cortes de carne de churrasco bovino, suíno ou frango, dentro de um pão baguete e molho especial.

Em solo alagoano, percebeu a aptidão da culinária local por um tal de “passaporte”, novidade até mesmo para o gaúcho acostumado com a cozinha. Com o olhar apurado para esse tipo de negócio e um paladar tão preparado quanto, adaptou sua especialidade ao mercado local e construiu o primeiro self-service de K Churrasco do Brasil.

O passaporte alagoano serve carne moída, salsicha, vinagrete, milho e ervilha com maionese caseira em um pão seda. No K Churrasco do Dadá Gaúcho, os clientes escolhem o tipo de carne, assada em churrasqueira, e seguem para um grande balcão com bandejas no estilo self service. A partir daí podem completar o recheio do sanduíche com carne de sol na nata, costela no catupiry, creme de frango com milho, salpicão de frango, bacon, calabresa, ovo, vinagrete, farofa comum e de bacon, queijo parmesão e os molhos especiais próprios para churrasco e um em especial que vem ganhando o coração da clientela: barbecue com goiabada.

“Depois de dois meses só com o churrasquinho em Maceió, decidi trazer o K Churrasco e foi dando certo. O clássico gaúcho tradicional vai com cebola, tomate, um pouco de molho de churrasco. Eu vi aqui muito passaporte e decidi aprimorar os dois, o pessoal foi aceitando”, conta Dadá.

O empresário e cozinheiro boa praça que atende os clientes com um carregado sotaque gaúcho e gentileza características passou os dois primeiros anos em Maceió cuidando de todo o negócio, desde o preparo até a entrega, mas hoje conta com uma equipe que o auxilia na cozinha e também compra os espetinhos de uma revendedora local.

“Hoje eu ainda boto a mão na massa, graças a Deus tá aumentando a produção, mas eu ajudo,acompanho e tento surpreender, todo dia eu vou criando alguma coisa. Hoje mesmo eu trouxe o peru defumado para servir, então ficou para mim o preparo”, explica. O carro chefe e grande diferencial do seu negócio é a diversificação dos pratos, mas os clientes sempre voltam, diz Dadá, para procurar a costela no molho de nata ou no catupiry, a maionese de churrasco e o molho à base de parmegiana.

O sanduíche Dadá Gaúcho é encontrado em uma pequena praça, localizada entre uma trifurcação na Avenida Empresário Carlos da Silva Nogueira, na Jatiúca.

Quem passa por lá, pode seguir em direção à praia, reto para a antiga avenida Amélia Rosa, ou pegar à direita sentido shopping Maceió. Muita gente, no entanto, tem parado ali mesmo para apreciar e degustar de self service inovador que une uma iguaria gaúcha ao clássico alagoano.

Dadá conta orgulhoso que hoje vende uma média de 150 sanduíches por dia e emprega diretamente seis funcionários que trabalham de segunda à sábado. “Domingo não, domingo é sagrado. Vou pescar”, avisa, em tom jocoso. Às sextas e sábados, a clientela se delicia ao som de grupos musicais de voz e violão. “Outro diferencial”, garante o empreendedor. 

A gentileza contumaz do empresário para seus clientes é vista também no final do pedido. Ao pagar a conta, todo mundo ganha um brigadeiro, gesto simples e açúcarado, mas que dá um toque de cuidado a mais e marca quem passa por lá. 

O portoalegrense faz planos cautelosos para o futuro e ampliação do negócio. “Tem que ser analisado”. Ele conta que já recebeu propostas para levar o negócio para outras cidades de Alagoas e em outros estados, propostas para ampliar levar a sanducheria parte alta e em um ponto fixo. Contente, ele analisa e pensa na gestão empresarial.

“Quero um tempo para continuar estudando, mas todos os dias eu me dedico”. Por enquanto, vai manter o Dadá Gaúcho no local em que está dando certo e agradece à Maceió.

“Em Maceió eu conheci o Brasil e o Brasil me conheceu”.

Menção honrosa

A jornalista alagoana especializada em culinária Nide Lins, publicou, em seu site, a história de um outro gaúcho que conquistou Maceió e deu origem ao passaporte tal qual é conhecido. Em julho deste ano ela escreveu sobre os cinquena anos do Passaporte Gaúcho, criado por Milton e Leci Braun, que vieram a Maceió ainda nos anos 70 e montaram um trailer de sanduíches. O texto de Nide pode ser lido clicando AQUI.