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Maceió tem aumento de temperaturas e áreas verdes viram alternativa ao calor
Capital alagoana está entre as seis cidades do país onde a temperatura mais aumentou entre dezembro de 2023 e fevereiro de 2024
Durante o último verão, foram muitos os relatos de alagoanos que passaram mal por causa do calor. Cidades do Sertão de Alagoas, como Pão de Açúcar e Piranhas figuraram entre as mais quentes do país, com temperaturas acima dos 40º. A capital do estado, Maceió, configurou-se como a 6ª cidade brasileira que mais aumentou a temperatura entre dezembro de 2023 e fevereiro de 2024 e esse dado pode explicar as emergências de saúde vividas pelos alagoanos.
Esse mal estar generalizado está associado aos recordes de temperatura registrados ao longo de toda estação e que correspondem aos efeitos das ondas de calor e do aquecimento global. Especialistas apontam que diante desse contexto, a preservação e aumento de áreas verdes, parques e unidades de conservação são apontadas como alternativas para contornar a hostilidade provocada pelo calor.
De acordo com dados fornecidos pela Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo (Semurb) há cerca de 1500 (mil e quinhentas) áreas verdes no município de Maceió, onde a maioria delas se concentra na parte alta da cidade, nos bairros da Serraria (286 áreas) e Cidade Universitária (228).
Essas áreas verdes referem-se a espaços naturais ou urbanos que preservam vegetação e contribuem para a qualidade do ar, a manutenção da biodiversidade e o bem-estar da população, a exemplo de praças, corredores verdes, áreas de preservação de vegetação nativa.
Um deles é o Arboretum, da Universidade Federal de Alagoas, com 4 hectares e mais de 150 espécies arbóreas de todos os biomas brasileiros, sendo um exemplo de como o incentivo à preservação desses espaços pode ser benéfico a toda sociedade. O local surgiu no início dos anos 2000, após a transformação de uma área improdutiva dentro da própria Ufal em um espaço reflorestado.
A diferença de temperatura entre áreas com predominância de concreto e áreas mais arborizadas pode chegar a 10ºC, de acordo uma pesquisa desenvolvida pela Universidade Estadual Paulista (Unesp), publicados na revista Urban Climate. De acordo com o professor de engenharia florestal, Rafael Vasconcelos, esse tipo de espaço é fundamental para o enfrentamento dos efeitos das mudanças climáticas.
“A gente tá num momento em que cada vez mais o espaço urbano vem se tornando o principal local de moradia das pessoas. Então, a arborização vem para trazer esse alento, para trazer beleza paisagística e para trazer saúde, bem-estar e conforto térmico”.
O Arboretum, porém, enfrenta riscos, já que o gestor responsável por guardar e manter o local foi transferido de setor e a universidade não conta com um técnico que possa efetuar a função.
A reportagem foi até o local nesta sexta-feira (22), porém, ele se encontra fechado. Desde 2023, as visitas realizadas pela comunidade escolar em Maceió até o arboretum foram suspensas e não há previsão de que elas voltem a ser realizadas. O Jornal de Alagoas procurou a assessoria de comunicação da Ufal para obter respostas mais concretas sobre o funcionamento do arboretum, mas até o momento não obteve retorno.
Para a gestora pedagógica do Colégio Focus, Heline Lopes, que visitou o arboreto com turmas do ensino fundamental em outubro do último ano, atividades como essa geram memórias sensoriais e o contato com a natureza foi extraordinário para o bem-estar físico e mental dos estudantes.
“Vivemos no tempo digital, fazer esses jovens se desconectar é uma tarefa árdua, mas possível, e percebemos como a atitude das crianças/jovens mudam para melhor. Sendo assim observamos que essa conexão trazia mais: companheirismo, gratidão, empatia, e melhorava consideravelmente o desempenho em sala de aula,acadêmico e disciplinar”, disse Lopes.
Ela afirmou que as explicações dadas pelos monitores durante as trilhas realizadas no equipamento foram muito positivas e as crianças amaram. “Já estamos marcando nossa trilha para o primeiro semestre”.
Território protegido
De acordo com o Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA), o município de Maceió tem hoje 16 mil hectares de áreas protegidas que fazem parte de Unidades de Conservação, divididas entre Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs), Áreas de Proteção Ambiental (APAs) e o Parque Municipal de Maceió.
Essa área corresponde a 31,4% de todo território do município de Maceió e três delas, as APAs da Santa Rita, do Catolé e do Pratagy (Costa dos Corais), contribuem significativamente para o abastecimento de água em Maceió e são essenciais para os recursos hídricos da capital alagoana.
“As APAs do Pratagy e Catolé foram criadas como um filtro estratégico para garantir o fornecimento de água para Maceió. Apesar disso, não é possível afirmar que todas elas possuem toda vegetação nativa original, mas são fundamentais para a preservação de nascentes, matas ciliares, e proteção do solo”, explica Alex Nazário Alex Nazário, gerente das Unidades de Conservação do IMA.
A quantidade mínima de áreas verdes para a qualidade de vida preconizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) é de 12 m² de área verde por habitante, e a ideal é de 36 m², cerca de três árvores, por morador. O gestor do IMA aponta que aponta que não é possível fazer esse cálculo em Maceió somente com a área das UCs, pois essa equação leva em conta outros fatores como ruas arborizadas e praças, por exemplo.
“Existe uma metodologia para isso, número de habitantes x áreas verdes e isso extrapola o que temos no setor que são as áreas de conservação. Para considerar esse valor deveríamos considerar todas as áreas, parques, vias arborizadas”, explica.
Atuação e conselho gestor
O IMA realiza todos os dias trabalhos de monitoramento nas áreas protegidas, com técnicos circulando nos locais para fiscalização e retornando às áreas em que houve alguma situação danosa. “O órgão ainda atua junto com o Batalhão de Polícia Ambiental, com secretarias municipais de meio ambiente para uma fiscalização conjunta”.
São conselhos, explica Alex, formado por membros da sociedade civil e poder público que gerem essas Unidades de Conservação, através de uma gestão compartilhada. As questões técnicas são discutidas até a formação de um plano de manejo. Em Maceió, a APA da Santa Rita e a APA do Catolé já apresentam planos de manejo, enquanto o mesmo documento para a APA do Pratagy ainda está em fase de discussão e elaboração.
O gestor aponta que há sim um gargalo quanto ao efetivo para se trabalhar em todas as UCs do estado e que a realização de concursos públicos poderia atender a carência, mas que o trabalho em parceria com os municípios e instituições civis e Organizações Não Governamentais (ONGs) auxiliam na cobertura das UCs.
*Sob supervisão