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Ufal forma a primeira mulher travesti no curso de Jornalismo
Recém-formada descreve sua conquista acadêmica como um marco significativo em sua vida
Diana Maria Justino de Souza, uma alagoana de 25 anos, acaba de conquistar seu diploma em Jornalismo pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal), tornando-se a primeira mulher travesti a se formar nesta instituição. A trajetória de Diana é marcada por desafios e superações, refletindo uma luta constante contra a marginalização social e os preconceitos enfrentados por pessoas da comunidade LGBTQIA+.
A recém-formada descreve sua conquista acadêmica como um marco significativo em sua vida. "O diploma representa mais do que um ciclo educacional concluído; é uma vitória pessoal e uma celebração da minha identidade", afirmou Diana, que é também a primeira integrante da sua família a obter um diploma de ensino superior.
O Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Diana, intitulado "Quem sou eu, Sinimbu?", foi apresentado em dezembro e aborda sua experiência com a população em situação de rua na Praça Sinimbu, em Maceió. Orientado pela professora Magnólia Rejane Martins, o trabalho foi avaliado por um respeitado corpo docente, incluindo as professoras Laís Barros Falcão de Almeida e Andrea Moreira Gonçalves de Albuquerque.
A ideia para o tema surgiu após um encontro inesperado com três jovens travestis na Praça Sinimbu, onde Diana teve a oportunidade de ouvir suas histórias e desafios diários. "Minha intenção inicial era ajudá-las a regularizar seus documentos. No entanto, percebi que o problema ia muito além disso. Foi aí que decidi que meu TCC abordaria suas vivências e as dificuldades enfrentadas pelas travestis daquela área", explicou Diana.
Durante o desenvolvimento do projeto, Diana se dedicou a um trabalho de campo intenso, convivendo com as pessoas que habitam a praça. "Pude sentir na pele o desalento e a vulnerabilidade social vivenciada por essas pessoas. Para isso, organizei meu tempo entre aulas, trabalho e até dormi na praça para me integrar mais à realidade delas", relatou.
O TCC foi bem recebido pela banca examinadora e recebeu nota máxima. Diana utilizou o estilo do jornalismo literário para humanizar as histórias das pessoas abordadas, buscando quebrar estigmas sociais. "Tornei-me parte da narrativa; passei três meses imersa nesse universo e ainda volto à praça para continuar aprendendo", destacou.
Com planos ambiciosos para o futuro acadêmico, Diana pretende ingressar no mestrado em 2025 e, posteriormente, no doutorado. Ela enfatiza a importância da educação em sua vida: "Desde pequena percebi que somente através do conhecimento conseguiria mudar minha realidade e a da minha família. A educação foi meu pilar", disse ela.
Nascida em Arapiraca e criada em Maribondo, Diana mudou-se para Maceió em 2018 para estudar na Ufal. Apesar dos desafios financeiros e pessoais, ela sempre contou com o apoio incondicional de sua mãe, dona Benedita Justino, que fez sacrifícios para que sua filha pudesse ter acesso à educação.
Diana relembra com emoção o momento da defesa de seu TCC, ao lado da mãe e amigos. "Estar diante de mulheres doutoras foi inspirador e reafirmou minha crença na importância do apoio feminino", declarou. Ao final, agradeceu publicamente à sua orientadora Magnólia Martins e às professoras avaliadoras por sua orientação e suporte ao longo do processo.
Embora celebre sua conquista pessoal, Diana ressalta que ainda há muito trabalho a ser feito no combate à transfobia no Brasil. "Represento uma minoria em um país onde a violência contra pessoas trans é alarmante. Espero que minha história sirva de inspiração para outras meninas trans e travestis."
Ela conclui afirmando que a educação deve ser vista como uma ferramenta poderosa para a transformação social: "Nós somos capazes de ocupar os espaços que desejamos. A sociedade não pode ditar nossos limites."