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Ufal forma a primeira mulher travesti no curso de Jornalismo

Recém-formada descreve sua conquista acadêmica como um marco significativo em sua vida

Por Assessoria 27/12/2024 19h07
Ufal forma a primeira mulher travesti no curso de Jornalismo
Diana Maria Justino de Souza - Foto: Assessoria

Diana Maria Justino de Souza, uma alagoana de 25 anos, acaba de conquistar seu diploma em Jornalismo pela Universidade Federal de Alagoas (Ufal), tornando-se a primeira mulher travesti a se formar nesta instituição. A trajetória de Diana é marcada por desafios e superações, refletindo uma luta constante contra a marginalização social e os preconceitos enfrentados por pessoas da comunidade LGBTQIA+.

A recém-formada descreve sua conquista acadêmica como um marco significativo em sua vida. "O diploma representa mais do que um ciclo educacional concluído; é uma vitória pessoal e uma celebração da minha identidade", afirmou Diana, que é também a primeira integrante da sua família a obter um diploma de ensino superior.

O Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) de Diana, intitulado "Quem sou eu, Sinimbu?", foi apresentado em dezembro e aborda sua experiência com a população em situação de rua na Praça Sinimbu, em Maceió. Orientado pela professora Magnólia Rejane Martins, o trabalho foi avaliado por um respeitado corpo docente, incluindo as professoras Laís Barros Falcão de Almeida e Andrea Moreira Gonçalves de Albuquerque.

A ideia para o tema surgiu após um encontro inesperado com três jovens travestis na Praça Sinimbu, onde Diana teve a oportunidade de ouvir suas histórias e desafios diários. "Minha intenção inicial era ajudá-las a regularizar seus documentos. No entanto, percebi que o problema ia muito além disso. Foi aí que decidi que meu TCC abordaria suas vivências e as dificuldades enfrentadas pelas travestis daquela área", explicou Diana.

Durante o desenvolvimento do projeto, Diana se dedicou a um trabalho de campo intenso, convivendo com as pessoas que habitam a praça. "Pude sentir na pele o desalento e a vulnerabilidade social vivenciada por essas pessoas. Para isso, organizei meu tempo entre aulas, trabalho e até dormi na praça para me integrar mais à realidade delas", relatou.

O TCC foi bem recebido pela banca examinadora e recebeu nota máxima. Diana utilizou o estilo do jornalismo literário para humanizar as histórias das pessoas abordadas, buscando quebrar estigmas sociais. "Tornei-me parte da narrativa; passei três meses imersa nesse universo e ainda volto à praça para continuar aprendendo", destacou.

Com planos ambiciosos para o futuro acadêmico, Diana pretende ingressar no mestrado em 2025 e, posteriormente, no doutorado. Ela enfatiza a importância da educação em sua vida: "Desde pequena percebi que somente através do conhecimento conseguiria mudar minha realidade e a da minha família. A educação foi meu pilar", disse ela.

Nascida em Arapiraca e criada em Maribondo, Diana mudou-se para Maceió em 2018 para estudar na Ufal. Apesar dos desafios financeiros e pessoais, ela sempre contou com o apoio incondicional de sua mãe, dona Benedita Justino, que fez sacrifícios para que sua filha pudesse ter acesso à educação.

Diana relembra com emoção o momento da defesa de seu TCC, ao lado da mãe e amigos. "Estar diante de mulheres doutoras foi inspirador e reafirmou minha crença na importância do apoio feminino", declarou. Ao final, agradeceu publicamente à sua orientadora Magnólia Martins e às professoras avaliadoras por sua orientação e suporte ao longo do processo.

Embora celebre sua conquista pessoal, Diana ressalta que ainda há muito trabalho a ser feito no combate à transfobia no Brasil. "Represento uma minoria em um país onde a violência contra pessoas trans é alarmante. Espero que minha história sirva de inspiração para outras meninas trans e travestis."

Ela conclui afirmando que a educação deve ser vista como uma ferramenta poderosa para a transformação social: "Nós somos capazes de ocupar os espaços que desejamos. A sociedade não pode ditar nossos limites."