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Jovens do Grutão, em Maceió, gravam videoclipes e se tornam protagonistas de suas histórias

Projeto Cultura nas Grotas, levou oficinas de hip-hop para a comunidade que resultou na produção musical e audiovisual das obras

Por Gabriel Ricardo* 12/02/2025 16h04 - Atualizado em 12/02/2025 16h04
Jovens do Grutão, em Maceió, gravam videoclipes e se tornam protagonistas de suas histórias
Barbara Sofia, Karoline Sophi, Maria Heloisa e Pâmela Sofia produziram a música Respeita as Mina - Foto: Reprodução

O projeto Cultura nas Grotas, vem trazendo importantes transformações e incentivos nas vidas da população pobre e periférica de Maceió, sobretudo, no que diz respeito ao acesso à cultura, arte e educação. É o caso da Grota do Grutão, na parte alta de Maceió, que recebeu, entre as ações do projeto, aulas e oficinas de flauta doce, artesanato criativo, bordado, filé, arte sustentável e também o hip-hop.

O movimento cultural nascido nos EUA que serviu de alicerce e deu vez e voz a gerações de jovens negros e periféricos em todo o mundo, ganhou vazão na pequena comunidade maceioense. Foi a partir das oficinas de hip-hop que os jovens do Grutão gravaram três diferentes videoclipes, a partir de músicas autorais criadas durante as atividades. 

Nomes como Ericka Rafaela, Douglas Alessandro, Maycon Douglas, Jonata Brasiliano, Ana Lívia, Arthur Vitor, Samuel dos Santos, Talita Beatriz, Barbara Sofia, Karoline Sophia, Maria Heloisa e Pâmela Sofia, aparecem como artistas creditados pelas três músicas divulgadas pelo projeto. As letras falam de respeito às mulheres e meninas, bullying nas escolas e, sobretudo, esperança.

Responsável pelas oficinas, Fernando Rozendo (38) acadêmico de pedagogia na Ufal, e músico mais conhecido pelo seu nome artístico Mc Tribo reforça a prioridade do projeto de levar em consideração as vivências dos alunos como moradores de periferia para ajudar a construir as letras das músicas, garantindo que as crianças da comunidade possam ser protagonistas da própria história.

''Basicamente consiste em utilizar a arte e cultura do hip hop como uma ferramenta de emancipação, de despertar do pensamento crítico, e aí as crianças se envolvem nesse processo”, explica.

''Tudo que eles cantam tem que ter a ver com o dia a dia, a logística né, o meio em que eles habitam, que são as comunidades. E aí quando a gente consegue criar essas letras, a gente vem com a parte boa né, a parte que eles gostam, que é ir para o estúdio gravar essas músicas [...] e aí é quando a gente tem essa transformação desses jovens e adolescentes em artistas de fato, que eles podem ser protagonistas dessa história deles''.

Fernando diz que o projeto não tem a pretensão de formar artistas da cena musical ou de incentivar jovens de periferia a buscar espaço nas universidades, “mas tem como prioridade formar, em primeiro lugar, cidadãos conscientes e responsáveis para com a sua comunidade.

Ele também reflete sobre o contexto em que surge o hip-hop e seu papel como ferramenta de resistência, contestação, crítica social, além da expressão individual e coletiva que a arte promove aos jovens.

''É uma cultura que acaba surgindo ali nos guetos norte-americanos, em toda uma cena já de destruição, pobreza, assolada por violência de gangues, conflitos. Então quando o hip hop nasce, ele traz essa vida, essa sobrevida para aquela população sobretudo negra e de periferia [...] em sua essência o rap tem esse cunho social forte, então não teria como ser diferente. No entanto, a gente não faz isso esperando ou cobrando que eles virem acadêmicos ou artistas, a gente simplesmente respeita o processo pedagógico [...] se acontecer é de forma natural''

Em tom esperançoso, Mc Tribo diz que seus projetos futuros envolvem continuar o trabalho levando arte aos jovens, além de levar a conscientização sobre o hip-hop e seus elementos para as universidades.

''Pretendo sim continuar nessa mesma pegada, quem sabe levar para a academia, que eu acho importante para a formação dos professores terem essa sensibilidade para as culturas urbanas assim como o hip hop, o rap, que são culturas que fomentam a periferia. [...] enquanto as oficinas tiverem acontecendo, a gente procura sempre estar trazendo esses novos talentos, jogando nas redes, dando essa força de apoio para que eles possam se sentir valorizados, para que eles se vejam como agentes fundamentais na sua própria história”, destacou.

Os clipes tiveram produção da GuaxiFilms e da companhia de teatro OzInformais. O projeto Cultura nas Grotas é uma iniciativa da Secretaria de Estado da Cultura, em parceria com o programa Vida Nova nas Grotas, do Governo de Alagoas.




*Estagiário sob supervisão