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Maceió sob o barulho: Simpósio discute influência sonora e qualidade de vida na capital alagoana
Capital alagoana já tem mapa acústico, mas especialistas criticam ausência de políticas públicas

A influência sonora na vida urbana e formas de reduzir o impacto das cidades, transformar ambientes e torná-los mais confortáveis para aqueles que os ocupam, são os temas das discussões do VIII Simpósio de Acústica, realizado nesta sexta-feira (25), e que reúne estudantes, arquitetos e estudiosos da área em um hotel da parte baixa da capital alagoana.
O encontro, promovido pela Sociedade Brasileira de Acústica - Regional Nordeste (Sobrac-NE), com co-realização do Conselho Regional de Arquitetura e Urbanismo de Alagoas (CAU/AL), traz uma série de atividades e tem como tema “Acústica, arquitetura & cidade”.
Ao longo da programação, recheada de palestras, mesas redondas e até mesmo uma exposição de materiais acústicos, aberta ao público, discute-se como as mais diversas fontes sonoras afetam a qualidade de vida nos centros urbana, relacionando o assunto à perspectiva maceioense e nordestina.
Bianca Araújo, presidente da Sobrac, trouxe dados que apontam maior fonte sonora presente nas cidades é o tráfego, apesar do mesmo ser o menor agente pontuado em denúncias de poluição sonora nas regiões habitadas, o que indica que normalizamos o barulho ensurdecedor das buzinas, freadas e arrancadas de veículos dos mais diversos tipos. Ela apresentou a palestra “O que fazer com o ruído urbano em áreas habitadas? Norma, medição e avaliação”
Em entrevista ao Jornal de Alagoas, o arquiteto e presidente do Conselho Regional de Arquitetura e Urbanismo de Alagoas (CAU/AL), Geraldo Faria, corroborou os dados trazidos por Bianca e afirmou que, em Maceió, há um descontrole da produção de ruídos urbanos, principalmente se tratando do tráfego de veículos.
“Eu moro ao lado da Avenida Gustavo Paiva e o tempo inteiro são caminhões passando, motocicletas que fazem um ruído que se escuta à quadras de distância, ruídos que são perfeitamente controláveis”, contou, reforçando que é necessária uma ação mais enérgica do poder público para controlar e fiscalizar essas situações.

Segundo o presidente do Conselho, é possível que o estado e município, aliado a especialistas e entidades do setor, executem estratégias para melhoria da qualidade de vida das pessoas através da redução de ruídos.
“Quem produz ruído às vezes não tem consciência de que está produzindo um estresse no seu entorno, na sua vizinhança”, explica. Apesar disso, Geraldo conta que o Conselho pode somente agir no sentido de sensibilizar a sociedade “para empreender políticas que ajudem a conservar o silêncio”, completou.
O doutor em Engenharia Civil pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Otávio Júnior, trouxe ao encontro o conceito de “mapa acústico”, ferramenta que pode ser utilizada para a criação de ações específicas em áreas monitoradas.
Maceió e a ausência de políticas públicas
Segundo Maria Lúcia Oiticica, coordenadora local do simpósio e arquiteta, Maceió já conta com um mapeamento acústico, mas para ela, que também é professora da Universidade Federal de Alagoas, há um afastamento das gestões públicas com relação aos estudos e como os mesmos poderiam ser utilizados para beneficiar a capital.
“Desde 2017 a Ufal tem um mapeamento acústico da cidade, nós temos o mapeamento de 50 bairros da cidade de Maceió, temos inclusive todo o levantamento na Orla de Maceió, o impacto do turismo, qual é o som da Orla na época das festividades… é um trabalho maravilhoso, mas precisamos que as gestões cheguem um pouco mais perto para que a gente possa orientar”, explicou.

Ela aponta o simpósio como um evento importante para trazer luz sobre o tema: “O índice da poluição sonora ainda é um fator muito alto das reclamações que acontecem aqui na cidade. Uma das nossas intenções com esse evento é de chegar mais perto das gestões públicas e da academia para melhorar a qualidade de vida das pessoas através de ações mitigadoras, mostrando os fatos, as pesquisas, que têm condições de melhorar a habitação e melhorar também as cidades”.
Professora da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) há 30 anos, Maria Lúcia conta orgulhosa que além de ter realizado o seu doutorado na área de conforto ambiental, foi também uma das primeiras professoras desta disciplina na universidade, onde discute iluminação, problemas térmicos e acústicos com os seus alunos.
“O estudante de Arquitetura começa a ter esse comprometimento já na universidade, assistindo as palestras, tendo as disciplinas nessas áreas, sabendo que eles podem ter um consultor nessa área para agregar valor ao seu projeto”, conta, confiante de que este é um passo que precisa ser dado na academia em prol de uma sociedade melhor.
O evento retorna durante a tarde, a partir das 15h, e segue até as 19h, desta vez com o tema “Acústica e Arquitetura”.
Tema: ACÚSTICA E ARQUITETURA
15:0h – 15:15h - Apresentação evento - anfitriã Maria Lucia Oiticica (AL)
15:15h – 15:30h - Apresentação SOBRAC/NE - Gleidson Martins (CE)
Talks
15:30h – 15:50h - Neuroarquitetura aplicada: Técnicas de iluminação e Acústica para uma Arquitetura Saudável - Cristhian Nascimento (BA)
15:50h – 16:05h – empresa SAINT GOBAIN
16:05h – 16:35h - Intervalo
16:35h – 16:55h - O BIM da acústica - Sofia Oliveira (AL)
17:00h – 17:20h - Edificações residenciais do Nordeste e a Norma de Desempenho nos últimos 10 anos - Felipe Paim (BA)
17:25h – 19h - Mesa redonda - ACÚSTICA E ARQUITETURA
Mediação : Débora Barretto (BA)
Participantes : Maria Lucia Oiticica (AL) - Ítalo Montalvão (SE) - Ricardo Leão(AL)- Mário Aloísio(AL)
