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Pandemia de coronavírus desencadeou crise global na saúde mental das mulheres

Estudo inédito foi realizado pela Care International

Por O Globo 25/09/2020 10h10
Pandemia de coronavírus desencadeou crise global na saúde mental das mulheres
Foto: reprodução.

O coronavírus desencadeou uma crise de saúde mental para mulheres em todo o mundo, concluiu um estudo inédito. As mulheres têm quase três vezes mais probabilidade de dizer que sua saúde mental piorou após a pandemia, descobriram os pesquisadores.

A pesquisa foi feita pela Care International, uma agência humanitária global que entrevistou 10 mil pessoas em 40 países sobre as repercussões da crise de saúde pública e descobriu que 27% das mulheres relataram um aumento nos problemas ligados à saúde mental, em comparação com apenas 10% dos homens.

As mulheres citaram preocupações sobre a manutenção da renda, dificuldades para se alimentar e ter acesso a cuidados de saúde e maiores responsabilidades de cuidado como fatores que levam à deterioração da saúde mental.

Os pesquisadores descobriram que 55% das mulheres relataram perda de renda como um dos maiores efeitos da emergência da Covid-19, em comparação com 34% dos homens.

Cerca de 41% das mulheres entrevistadas disseram que não tinham comida suficiente no período da pandemia, enquanto 30% dos homens relataram o mesmo. Os pesquisadores alertam que essa lacuna de gênero decorre de “desigualdades de gênero profundamente arraigadas” nos sistemas alimentares locais e globais — dizendo que as mulheres geralmente “comem menos e por último”.

A maioria das pessoas entrevistadas participou dos programas da Care International — o que significa que estão entre as camadas mais pobres da sociedade.

— Seis meses atrás, a Care soou o alarme de que a crise global de saúde apenas aumentaria a diferença de gênero e reverteria décadas de progresso na saúde, nutrição e estabilidade econômica das mulheres. E depois de seis meses ouvindo mulheres e registrando suas histórias, nosso alarme está tocando mais alto do que nunca. Nossos dados devem ser um apelo à ação para toda a comunidade global para montar uma resposta mais eficaz e equitativa à Covid-19 — disse Emily Janoch, principal autora do relatório.

Situação na América Latina

As mulheres entrevistadas tinham quase duas vezes mais probabilidade de relatar problemas no acesso a serviços de saúde de qualidade. Os pesquisadores alertam que os problemas de saúde mental das mulheres durante a crise do coronavírus estão provocando aumento da ansiedade, dificuldades para dormir ou comer e deixando-as incapazes de realizar as tarefas diárias.

Na América Latina, 16,7 milhões de trabalhadoras domésticas estão enfrentando o difícil dilema de escolher entre ficar em quarentena com seus empregadores para ganhar dinheiro ou ficar em casa para cuidar de suas famílias, sendo demitidas com acesso zero a benefícios de desemprego.

Cerca de 95% das crianças na região não estão na escola devido à emergência de saúde pública — com os pesquisadores dizendo que o aumento das responsabilidades de cuidado não remunerado afeta as mulheres de maneira desproporcional, pois as normas culturais patriarcais consideram o cuidado das crianças seu domínio.

Um importante relatório do Institute for Fiscal Studies (IFS) descobriu que o caos da Covid-19 piorou as desigualdades de gênero existentes na saúde mental, com o bem-estar das mulheres desproporcionalmente afetado pela pandemia.

Os pesquisadores descobriram que as mulheres jovens estão se saindo pior, enquanto os homens mais velhos são os menos afetados — com a saúde mental geral das mulheres entre 16 e 24 anos estando 11% pior do que antes da crise de saúde pública.

A saúde mental da população geral está sendo impactada pelo surto de Covid-19, com mais 7,2 milhões sofrendo com algum problema de saúde mental "muito mais do que o normal". A extensão do declínio da saúde mental durante a pandemia é de uma “magnitude diferente de tudo” que a sociedade testemunhou nos últimos anos, alertaram os pesquisadores, e o impacto para as mulheres é ainda maior.