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Prefeitura de Cajueiro anuncia distribuição de kit de remédios para covid-19 e chama de água milagrosa

O composto batizado de “água sagrada” é formado por três medicamentos, cloroquina, azitromicina e nitazoxanida (conhecido como Annita), que não têm comprovação cientifica como eficaz para o tratamento da covid-19.

Por Cada Minuto 25/05/2020 08h08
Prefeitura de Cajueiro anuncia distribuição de kit de remédios para covid-19 e chama de água milagrosa
Prefeito de Cajueiro e médico - Foto: Reprodução

Visando combater o avanço do novo coronavirus, prefeituras estão distribuindo um kit de medicamentos para tratar infectados. Em Alagoas, a prefeitura de Cajueiro, chegou a anunciar nas redes sociais, a distribuição do composto batizado de “água sagrada” pelo prefeito do munícipio, Palmery Neto.

O kit é formado por três medicamentos, cloroquina, azitromicina e nitazoxanida (conhecido como Annita), que não têm comprovação cientifica como eficaz para o tratamento da covid-19.

Em um vídeo divulgado nas redes sociais, o prefeito de Cajueiro aparece ao lado de um médico do município, identificado com Dr. Denilson, anunciando que após buscar “água no deserto”, provavelmente se referindo a dificuldade para encontrar os remédios no mercado, teria encontrado a “água sagrada”, o “kit salvador”.

O prefeito Palmery Neto diz também que a distribuição do medicamento exigirá a autorização de cada pessoa. No entanto, a distribuição e administração do medicamento deve ser fiscalizada por órgãos de fiscalizações de áreas médicas e pelo Ministério Público, devido aos perigos da automedicação.

O médico, Dr. Denilson, diz no vídeo que os remédios devem ser tomados na fase inicial da doença e até como prevenção.

A utilização de azitromicina e nitazoxanida para tratar infectados com a Covid-19, não tem comprovação cientifica de sua eficácia e tem gerado muita polêmica em todo o mundo.

A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) já declarou que não tem recomendação para uso de medicamentos no tratamento da Covid-19, e que, apesar de alguns se mostrarem promissores, não existem estudos conclusivos que comprovem o uso dos mesmos.  Por isso, a Anvisa afirma que não há recomendação por parte do órgão para o tratamento do coronavírus e alerta que a automedicação pode representar um grave risco a saúde.

O Conselho Federal de Medicina (CFM) emitiu um parecer afirmando que não há evidências sólidas de que essas drogas tenham efeito confirmado na prevenção e tratamento dessa doença. Porém, diante da excepcionalidade da situação e durante o período declarado da pandemia de COVID-19, o CFM entende ser possível a prescrição desses medicamentos, por médicos, em situações específicas.

A cloroquina tem estado no centro de uma disputa política, enquanto o presidente Jair Bolsonaro advoga pela sua adoção de forma ampla enquanto cientistas e instituições de pesquisa indicam que ainda não há comprovação da eficácia do medicamento no tratamento da COVID-19

Ao distribuir o medicamento a esmo, sem autorização e recomendação das autoridades de saúde, a prefeitura está colocando em risco a saúde da população. Mesmo acompanhado por um médico, ao anunciar a distribuição, o prefeito não tem nenhuma recomendação ou respaldo das autoridades de saúde que garantam a eficácia do kit no uso da Covid-19 para todos os possíveis infectados.

Conforme o último boletim divulgado pela prefeitura de Cajueiro, neste sábado (23), o munícipio tem sete casos de confirmados de  coronavírus e um óbito em decorrência da doença. Já foram descartados 34 casos e outros 54 casos estão sob investigação.