Municípios
Sem comprovação científica, prefeitos de Alagoas distribuem kits anti-coronavírus
São distribuídos combos com diferentes medicamentos para pacientes de Covid-19
Em todo o mundo pesquisadores tentam chegar a uma vacina e a remédios com eficiência comprovada no combate ao Sars-CoV-2 (o vírus) e a Covid-19 (a doença que ele provoca). Enquanto não surgem soluções, os médicos recorrem a remédios que se mostraram promissores no tratamento da doença.
Drogas como azitromicina, hidroxicloroquina e ivermectina estão entre as mais receitadas, junto com um reforço de vitamina C e zinco.
O problema é que esses medicamentos estão em falta, não só na rede pública, mas também nas redes privadas de todo o país. Em Maceió, esta semana, estes medicamentos estavam ou estão em falta das principais drogarias a farmácias de bairro.
Nem mesmo os laboratórios de manipulação estão conseguindo dar conta da demanda. Isso porque muitas pessoas partiram para automedicação ou uso desses remédios como profiláticos (prevenção).
O secretário de Saúde de Alagoas, Alexandre Ayres, admite que existe uma dificuldade de abastecimento no setor público e diz que o Estado não tem, no momento, esses remédios e outros usados contra a Covid-19 para ampla distribuição.
O esforço no Estado, segundo o secretário, é para assegurar a distribuição de azitromicina e dipirona (antitérmico que vem sendo preferencialmente recomendado para os pacientes de Covid-19).
Já a hidroxicloroquina, só é entregue sob recomendação médica e consentimento do paciente, de acordo com o protocolo da Sesau.
Em meio a um cenário que mistura ansiedade, medo e desinformação, especialmente de pacientes mais pobres, algumas prefeituras decidiram distribuir de kits de remédios contra Covid-19.
A medida que começou em municípios da região Norte se espalha agora pelo Nordeste. Em Alagoas, pelo menos, mais dois prefeitos aderiram a novidade, que começou em Pilar.
O prefeito Renato Filho iniciou distribuindo kits higiênicos e depois montou uma unidade de triagem para casos de síndromes gripais. De lá, os pacientes saem, com remédio na mão, a critério médico.
“Com uma equipe extremamente preparada de médicos, a nossa unidade sentinela está também realizando exames laboratoriais, eletrocardiograma e caso seja necessário, o paciente já sai com o kit de medicamentos. Com a tomografia, o paciente será avaliado ainda melhor e mais rápido.”, disse Renato, sem citar o nome dos remédios, nas suas redes sociais.
Apesar de “Pilar está super bem abastecido do medicamento Azitromicina 500mg ou 1g – principal antibiótico receitado para tratamento da Covid-19, em falta em 42 municípios alagoanos”, o prefeito Renato Filho pediu a Sesau-AL, 2 mil comprimidos de hidroxicloroquina, numa clara dificuldade de abastecimento desse remédio.
Diferente de Pilar, outras cidades parecem improvisar na montagem de kits de remédios anti Covid-19. O prefeito de Cajueiro, Palmery Neto, anunciou na semana passada em um vídeo divulgado nas redes sociais, ao lado de um médico do município, que após buscar “água no deserto”, para encontrar os remédios no mercado, teria encontrado a “água sagrada”, o “kit salvador” da Covid-19.
O kit de Cajueiro é composto, segundo o prefeito por três medicamentos: cloroquina, azitromicina e nitazoxanida (conhecido como Annita).
Nesse caso, a nitazoxanida seria, aparentemente, um substituto da ivermectina. Os dois remédios são antiparasitários de amplo uso no Brasil, mas até o momento os médicos em Alagoas tem receitado principalmente a ivermectina.
Outra “inovação” veio, nessa quarta-feira (27) de Palmeira dos Índios. A prefeitura anunciou que “os casos positivos recebem um kit de medicamentos que contém azitromicina, albendazol, dipirona e complexo polivitamínico”.
Aqui, mais uma inovação. No lugar de ivermectina ou nitazoxanida, outro antiparasitário (vermífugo), o albendazol. Esse último sem nenhuma referência para uso contra a Covid-19, diferente dos dois primeiros, que tiveram bons desempenhos em testes in vitro – e agora estão sendo testados em ensaios com pacientes.
A improvisação não é exclusiva das cidades alagoanas. A prefeitura de Granja, no Ceará, anunciou na semana passada que vai distribuir “kits baseados no Protocolo Municipal de Tratamento precoce da COVID 19 elaborado em conformidade com os pareceres técnicos do Conselho Federal de Medicina e do Ministério da Saúde.”
Segundo a prefeitura de Granja, os kits serão constituídos de ivermectina, azitromicina, hidroxicloroquina, sulfato de zinco, vitamina D e prednisolona, e a distribuição será conforme conduta pós avaliação médica.
No Pará as cidades de Marabá e Tucumã também distribuem kits contendo cloroquina, azitromicina, ivermectina e zinco, o que reforça a “improvisação” de prefeitos de Alagoas.