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Mudanças climáticas podem intensificar secas em Alagoas, alerta meteorologista
Vinícius Pinho, meteorologista da Secretaria do Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh), diz que fenômeno pode ser ainda maior nesta década
As ondas de calor e as mudanças climáticas podem aumentar a força de eventos extremos como grandes secas e enchentes em Alagoas. É o que diz o meteorologista Vinícius Pinho, da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos (Semarh).
Em entrevista exclusiva ao Jornal de Alagoas, o especialista afirma que o processo de aumento na temperatura global tem provocado uma maior severidade nos eventos extremos, como as secas e as enchentes e isso pode chegar a Alagoas, num evento que pode ser ainda maior do que as enchentes de 2010, que atingiram a Zona da Mata alagoana e em especial a cidade de Branquinha e também a grande seca do Nordeste que se sucedeu nos anos posteriores.
O meteorologista alerta que Alagoas já vive um novo período de seca e que há uma preocupação de que eventos como esse possam acontecer com mais força, após o aumento da temperatura nos oceanos que caracteriza o fenômeno El Niño. “Para se ter o El Ninõ, precisa-se do aumento de 0,5º grau na temperatura do Pacífico Equatorial e hoje, nós observamos um aumento de 1,5, o que explica a força do fenômeno”, frisa Vinícius.
Segundo ele, a história pode se repetir e uma seca severa pode abater Alagoas nos próximos anos, após um período de chuvas intensas, como aconteceu na década passada.
“A gente tem percebido um aumento da severidade de secas e de eventos extremos de chuva. Estamos indo para dois polos extremos. Podemos enfrentar agora um período de adversidades, na esfera climática, a gente pode ter uma seca muito grande. Por exemplo, em 2010 e 2011, foram anos extremamente chuvosos, mas a partir de 2013 tivemos a maior seca da história do Nordeste brasileiro. Agora, em 2022 e 2023, nós tivemos também anos com bastante chuva aqui em Alagoas. E no final de 2023 e início de 2024, a previsão é de um novo El Niño. Então, está um cenário parecido com o de 2012, de 2013 e 2014”, detalha Vinícius Pinho.
O meteorologista, no entanto, alenta e afirma que esse cenário não é definitivo, mas sim uma possibilidade. “Essa é a nossa preocupação que possa vir a acontecer novamente. Eu não estou afirmando que vai acontecer, mas é um cenário que pode, sim, ser repetido”.
“Água armazenada pode não ser suficiente”
Ainda segundo o especialista, as regiões do Agreste e Sertão, são as mais afetadas por este período de seca, uma vez que, devido ao El Niño, as chamadas “trovoadas”, que são chuvas intensas nessas regiões, podem não ocorrer.
Elas são importantes para encher as cisternas e barreiras durante o verão e, com sua ausência, a situação pode ser preocupante.
“Existe uma grande preocupação em relação ao pós-período chuvoso desse ano e ao início do ano que vem, porque o que nós temos de água armazenada e aí eu tô falando principalmente da metade oeste do estado, Agreste, Sertão, Sertão do São Francisco,pode não ser suficiente para nós chegarmos até o próximo período chuvoso”, diz Pinho. “Aqui no Litoral, na Zona da Mata e no Baixo São Francisco a situação é mais confortável, porque grande parte dos nossos reservatórios estão bastante cheios, estão acima do seu volume máximo,mas no Agreste e Sertão nós não temos grandes reservatórios”, completa.