Municípios

Ambientalistas cobram 'independência' da Defesa Civil durante inspeção em Feliz Deserto

Órgãos estaduais e municipais inspecionarão casas que sofrem com rachaduras, após o início da exploração de areia no município

Por Vinícius Rocha 18/03/2025 16h04 - Atualizado em 18/03/2025 17h05
Ambientalistas cobram 'independência' da Defesa Civil durante inspeção em Feliz Deserto
Moradores temem que vistoria sobre rachaduras em Feliz Deserto favoreça mineradora - Foto: Ascom IMA/Arquivo

Moradores de Feliz Deserto e ambientalistas preocupados com a extração de areia no município, alvo de recomendação recente do Ministério Público Federal (MPF), pedem que as autoridades conduzam os trabalhos com transparência e independência e sem qualquer influência de interesses. Nesta quarta-feira (19), a Defesa Civil Estadual e municipal realizam vistoria in loco no loteamento Paraíso do Sul, que sofre com o aparecimento de rachaduras no local.

A principal preocupação da comunidade é que o relatório final não reflita com precisão os impactos da extração de areia na região, beneficiando os interesses da empresa Geomineração Exploração Mineral Ltda.

“Precisamos garantir que essa vistoria seja conduzida com total transparência, sem qualquer interferência externa", afirmou Neirevane Nunes, doutoranda em biologia e uma das principais lideranças contra a mineração predatória em Alagoas.

A vistoria foi motivada pelo surgimento de rachaduras em diversas casas da comunidade. No último dia 13, o MPF recomendou a suspensão das atividades da Geomineração devido ao risco potencial das operações.

"A confiança da população nas instituições depende de um compromisso sólido com a verdade e com a segurança dos moradores. Em Maceió, vimos o que aconteceu com o caso da Braskem, quando a falta de transparência da Defesa Civil municipal gerou desconfiança. Não podemos deixar que isso se repita em Feliz Deserto", pontuou Neirevane.

Ela teme que a história se repita. Ex-moradora de Bebedouro, bairro afundado pela Braskem, hoje fantasma, após a saída dos moradores expulso pelos riscos causados pela mineração, Nunes diz que os metódos usados pela Geomineração são os mesmos:“O que a Geomineração fala sobre as casas é o mesmo que a Braskem falava para os moradores aqui [em Maceió], que o problema era construtivo, material de construção de baixa qualidade. E lá em Feliz Deserto vão ainda relacionar a característica do solo ser arenoso...e por aí vai”, lamenta, reticente.

Além da preocupação com a independência da vistoria, a comunidade questiona a continuidade das atividades da mineradora. "Os danos ambientais e sociais são evidentes. Precisamos de respostas concretas, e não de um relatório que simplesmente valide interesses econômicos", acrescentou.

Em relatório enviado à imprensa, a Geomineração nega qualquer irregularidade e afirma operar dentro da legalidade, com todas as licenças ambientais exigidas.

O Jornal de Alagoas buscou a Defesa Civil para um posicionamento diante da preocupação expressada pelos ambientalistas e moradores, mas não obteve retorno. O espaço está aberto.