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Crise na Petrobrás complica o já modesto plano da equipe econômica
A quatro meses das eleições e perto de terminar o mandato, o presidente Michel Temer trocou a agenda reformista por uma luta diária pela sobrevivência. Sob cerco político e com a base aliada dividida no Congresso, Temer mostrou a fragilidade do governo ao ser obrigado a ceder na greve dos caminhoneiros e deve ter dificuldade para conseguir aprovar as prioridades econômicas definidas, em abril, pelo ministro da Fazenda, Eduardo Guardia. Com menos de um ano para o fim do governo, a agenda já não era robusta.
O projeto mais complexo, e que já estava emperrado, é a privatização da Eletrobrás. Reservadamente, a equipe econômica não acredita mais que seja possível aprovar a venda da estatal este ano. Só para se ter uma ideia do impasse, os parlamentares ainda discutem normas de operação, com temas que passam até mesmo pela destinação de recursos para a recuperação da Bacia do São Francisco. Já a venda das seis distribuidores deficitárias da estatal no Norte e Nordeste é avaliada como de dificuldade moderada e tem chances de ser aprovada.
Até mesmo projetos de tramitação mais fácil, na análise da equipe de Guardia, estão travados no Congresso, como a duplicata eletrônica e o cadastro positivo - o banco de dados de bons pagadores que poderia baratear o crédito.
Da lista de medidas que a Fazenda tentava aprovar, só uma foi para a frente até agora: o aumento da carga tributária para alguns setores, por meio da reoneração da folha de pagamento, recebeu o aval do Congresso, como condição ao subsídio do diesel. Deputados e senadores ficaram insatisfeitos, porém, com o aumento dos setores reonerados de 28 para 39. Eles ameaçam derrubar os vetos de Temer que diminuíram os segmentos contemplados com o benefício criado pela ex-presidente Dilma Rousseff.
Com uma crise atrás da outra, o governo Temer entra em sua fase final com mais problemas do que soluções à vista. Até recentemente, a esperança da equipe residia na recuperação da economia, mas agora há pessimismo no mercado e incertezas no horizonte, principalmente às vésperas da eleição.
Diante de um cenário com dólar em alta, novas ameaças de greves e um contingente de quase 14 milhões de desempregados, analistas já estimam que o PIB ficará em menos de 1,5% neste ano. Para piorar a situação, Temer perdeu apoio no Congresso. No Planalto, há receio de uma nova denúncia contra o presidente.
Sem conseguir aprovar as mudanças na Previdência, o governo também desistiu da reforma tributária, mas ainda busca emplacar uma agenda mais popular, como a redução do preço da gasolina e do gás de cozinha.