Nacional
Doação eleitoral de empresas volta à pauta com debates sobre Fundo Eleitoral
Banidas desde 2015, doação eleitoral de empresas retorna aos debates por causa do Fundão
O presidente Jair Bolsonaro vem afirmando, nos últimos dias, que vai vetar a criação do novo fundo eleitoral aprovado pelo Congresso no âmbito da LDO (Lei de Diretrizes Orçamentárias) neste mês. Calculado pelos técnicos do Legislativo em R$ 5,7 bilhões, o chamado Fundão tem entre suas causas a proibição das doações de campanha por parte de empresas, determinada em 2015 pelo STF (Supremo Tribunal Federal).
Esta vedação às contribuições privadas, contudo, não é novidade. Na primeira eleição presidencial direta após o regime militar, em 1989, as empresas não podiam fazer doações. E foram justamente as suspeitas sob aquele modelo, que estaria facilitando práticas como o caixa dois, que levaram o Congresso a decidir, em 1993, autorizar que pessoas jurídicas financiassem partidos e candidatos.
Quando, em 2015, proibiu as doações privadas, por 8 votos a 3, o Supremo concordou com os argumentos da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de que o sistema vinha prejudicando a democracia por abrir brecha para que os políticos eleitos ficassem presos aos interesses dos empresários que os financiaram.
Aquela decisão, no entanto, deixou pontas soltas que são relembradas sempre que o Congresso decide aumentar a quantidade de dinheiro público no processo eleitoral. Depois da criação do fundo eleitoral, em 2017, o valor só fez subir: foi de R$ 1,7 bilhão nas eleições presidenciais de 2018, subiu para R£ 2 bilhões em 2020 e pode praticamente triplicar no ano que vem.
O ministro do STF Gilmar Mendes, um dos votos vencidos no julgamento, foi ao Twitter para reforçar os argumentos contra a proibição da doação de empresas. "Em 2015, quando o STF proibiu a doação de PJs [pessoas jurídicas] nas eleições, alertei para o risco de inflação exorbitante do fundão. Ao invés, deveríamos fortalecer a fiscalização dos gastos de campanha (historicamente frágil). Em um sistema complexo, não há fórmulas prontas e nem almoço grátis", escreveu.
Disparidade
Na primeira eleição com fundo eleitoral, em 2018, a verba de R$ 1,7 bilhão foi dividida entre 35 partidos conforme a representatividade das siglas na Câmara e no Senado. Com aquela configuração, o MDB ficou com a maior fatia: R$ 230,9 milhões, ou 13,4% do total. Em seguida vieram o PT, com R$ 212,2 milhões, e o PSB, com R$ 185,8 milhões.
Já o PSL, que abrigou a candidatura de Bolsonaro, levou apenas R$ 9,2 milhões naquele ano. Quase inexistente enquanto força no Congresso até ali, o partido recebeu menos do que 23 legendas. Naquela campanha, Bolsonaro declarou ao TSE ter gasto apenas R$ 2,45 milhões. A quantia é, por exemplo, menor que um centésimo do que a ex-presidente Dilma Rousseff declarou ter gasto para se reeleger em 2014.
Bolsonaro e sua base, no entanto, alteraram radicalmente o panorama do fundo eleitoral para a disputa municipal de 2020. A arrecadação do PSL, que àquela altura tinha uma bancada com mais de 50 deputados na Câmara, saltou de R$ 9,2 milhões em 2018 para R$ 199 milhões no ano passado.
A legenda foi a segunda que mais recebeu recursos, ligeiramente atrás do PT, que ficou com R$ 201,3 milhões. Já partidos como MDB e PSDB, que sofreram um baque nas urnas, viram a arrecadação encolher.
Desde que deixou o PSL, ainda no final de 2019, Bolsonaro vive um dilema. Ele não conseguiu fazer decolar a criação do Aliança pelo Brasil, idealizado por ele e pelos aliados, e continua sem partido a 15 meses das eleições do ano que vem. Suas negociações mais recentes, com o Patriota, foram atrapalhadas por disputas internas na legenda e, até o momento, não avançaram.